Notícias

Fintech recrutam em Portugal

Fintech recrutam em Portugal

Tecnológicas financeiras britânicas estão a descobrir talento português.

13.03.2017 | Por João Ramos e Vítor Andrade


  PARTILHAR



As empresas de recrutamento estão a ter uma dificuldade crescente em encontrar profissionais em algumas especialidades tecnológicas. Um dos sectores mais afetados é o das tecnológicas financeiras (fintech), em particular no Reino Unido, por ser o país que na Europa mais alberga este tipo de empresas de rápido crescimento. Segundo números oficiais, em 2016 o sector das fintech adicionou à economia britânica €7,6 mil milhões e atraiu €570 milhões de novos investimentos. Por isso, não surpreende que comece a haver desfasamento significativo entre a oferta e a procura em algumas profissões. Segundo revela a página de recrutamento Indeed.com, citada pela publicação Business Insider, mais de 20% das vagas, de entre as 10 das profissões procuradas (ver lista), ficam por preencher ao fim de dois meses.

A batalha pelo talento que as principais empresas tecnológicas financeiras travam à escala global também passa por Portugal. Entre 200 a 300 ex-alunos da Católica Lisbon School of Business & Economics estão a trabalhar na City londrina, muitos deles em empresas fintech que operam a partir da capital inglesa. Entre 14% a 15% dos recrutamentos feitos em Portugal pela Hays têm a ver com procura de mão de obra para empresas tecnológicas. Algumas fintech estrangeiras estão a recrutar em Portugal e outras começam a instalar serviços de apoio em território luso.

Gonçalo de Vasconcelos, presidente executivo e fundador da fintech londrina Syndicate Room, confirma esta escassez de talento na capital inglesa. “Está provocar um aumento da rotação e a subida de vencimentos” sublinha. Para colmatar este problema, a empresa deslocalizou para Portugal (Carcavelos) a área de desenvolvimento tecnológico que já emprega 10 pessoas, por ser mais fácil recrutar engenheiros de software. “Portugal tem a vantagem de estar no mesmo fuso horário de Londres, estar a 2,5 horas de avião e de ter bons profissionais a custo mais baixo e que falam bem inglês”, reconhece o empreendedor português. “O nearshore das áreas tecnológicas das fintech britânicas é uma área que podia ser mais aproveitada. Além de Lisboa, também outras cidades com boas escolas de engenharia como Braga, Porto ou Aveiro também podem aproveitar”, refere Gonçalo de Vasconcelos.

“O talento português foi até há pouco tempo um segredo bem guardado, mas começa a estar na mira das fintech inglesas”, confirma Pedro Oliveira, fundador da Landing.Jobs, empresa portuguesa especialista em recrutamento na área de tecnologia que tem um escritório em Londres. “Temos sentido um numero crescente de solicitações. Algumas estão a optar por instalar em Portugal os seus centros de desenvolvimento tecnológico.” Para evitar que o talento português se esgote rapidamente (ver a lista das profissões mais procuradas em Portugal) e afete o crescimento das startups nacionais, Pedro Oliveira diz ser importante atrair os engenheiros e técnicos portugueses expatriados durante a crise e estrangeiros qualificados.

Uma opinião que é partilhada por Paulo Rosado, presidente executivo e fundador da Outsystems, uma tecnológica portuguesa que está em processo acelerado de crescimento internacional, já que recrutou 200 pessoas em 2016, dos quais 70 estrangeiros. “Temos vindo a recrutar portugueses que tinham saído há três ou quatro anos porque lhes podemos proporcionar uma boa carreia internacional”, diz Paulo Rosado, advertindo que o talento nacional não vai chegar para alimentar o crescimento do sector. “Precisamos de ter golden visa para seniores com grande background tecnológico e devíamos atrair talento dos países Bálticos e do Leste.” “Temos quase tudo para que os expatriados se sintam bem: bom clima, um sistema de saúde que funciona, custo de vida baixo e um povo acolhedor”, considera Paulo Rosado.

Portugal melhora imagem
As fintech procuram profissionais altamente qualificados, com uma formação de base nas áreas da economia e gestão ou da engenharia informática, mas com preferência para quem tenha, em adição, conhecimentos no domínio do sistema financeiro.

Naturalmente, e de acordo com vários especialistas em gestão de recursos humanos contactados pelo Expresso, não há nenhuma universidade com cursos especificamente orientados para formar mão de obra para as fintech, mas isso não tem impedido os empregadores tecnológicos de recrutarem em Portugal. “Os portugueses têm boa formação base, apenas lhes falta estarem atualizados a 100% sobre o último grito da tecnologia ou de web design. Rapidamente apanham o comboio”, observa Gonçalo de Vasconcelos.

Durante muito tempo as tecnológicas estrangeiras olhavam para Portugal como um país de segunda categoria em matéria de qualificação de mão de obra. “Atualmente, porém, tudo mudou. Além da boa imagem que o país já tem junto da comunidade tecnológica — cada vez mais eventos internacionais do sector têm lugar em Portugal —, muitas multinacionais (incluindo fintech) não olham ao país de origem dos profissionais, mas antes às suas competências e à capacidade que demonstram na resolução dos problemas”, nota Francisco Veloso, diretor da Católica Lisbon. Este responsável diz ser natural que “com a crise que grassa no sector financeiro em Portugal, algumas multinacionais tecnológicas do sector olhem ainda com alguma reserva para nós”. Em contrapartida, sublinha que “já dispomos de algumas referências de excelência, como é o caso, por exemplo, da Feedzai”.

Joana Panda, responsável pela área de recrutamento na área tecnológica da Hays, explica que “Portugal é um país muito atrativo neste domínio, não apenas pela qualidade dos recursos humanos mas também pelo custo das infraestruturas digitais e salariais.” Só assim se explica que haja cada vez mais empresas fintech estrangeiras a abrir centros de apoio em Portugal, um país que consideram seguro e agradável para viver. Joana Panda garante que a imagem de Portugal está claramente a mudar para melhor no empreendedorismo. Razão pela qual a tecnologia é já a segunda área de recrutamento da empresa em que trabalha, logo a seguir à área das engenharias.



OUTRAS NOTÍCIAS
51% dos líderes mundiais querem mais freelancers nas empresas

51% dos líderes mundiais querem mais freelancers nas empresas


Chamam-se Gig Economy e espelha a tendência das empresas em contratatarem profissionais altamente qualificados para desempenharem funções estratégicas nas organizaç&o...

Vodafone quer atrair mulheres desempregadas

Vodafone quer atrair mulheres desempregadas


Há, em todo o mundo, cerca de 96 milhões de mulheres qualificadas entre os 30 e os 54 anos de idade que têm a sua carreira em pausa. O número é avançado pela c...

Auchan investe €1 milhão para formar futuros líderes

Auchan investe €1 milhão para formar futuros líderes


A cada quatro anos, a multinacional Auchan investe €1 milhão no Auchan Executive Graduate Program, um programa internacional de captação e aceleração de talento...



DEIXE O SEU COMENTÁRIO





ÚLTIMOS EMPREGOS