Notícias

Ética, precisa-se!

20.08.2004


  PARTILHAR





Fernanda Pedro, Maribela Freitas e Ruben Eiras

O ENSINO da ética profissional no jornalismo precisa de ser reforçado para elevar a qualidade da profissão. Esta é a conclusão retirada pelo EXPRESSO, a partir dos depoimentos recolhidos junto de vários especialistas, sobre o estado da formação de jornalistas em Portugal.


Com efeito, a opinião é unânime: tanto as universidades, como o sistema de formação profissional dão uma resposta insuficiente ao ensino dos valores no desempenho do jornalismo. A pedra-de-toque para a plena tomada de consciência desta situação deu-se com o recente roubo das cassetes com gravações de conversas sobre o caso Casa Pia, efectuadas por Octávio Lopes, jornalista do "Correio da Manhã". As gravações foram realizadas sem conhecimento das fontes e o semanário "Independente" publicou a transcrição das conversas sem ter autorização de Octávio Lopes.

Perante isto, Francisco Rui Cádima, docente no departamento de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e ex-presidente do Observatório da Comunicação, sublinha que as matérias de justiça são as mais sensíveis em relação ao código moral da profissão. Porém, refere que em todas as outras áreas "também não tem havido uma grande preocupação ética no que se refere ao tratamento da informação".

É por isso que o professor não dá relevância ao assunto das cassetes roubadas. "Em toda a imprensa há uma violação da ética e uma subversão da lei, só que neste caso das cassetes, a questão da ética foi o tema da notícia", explica o especialista, acrescentando ainda que toda esta "telenovela" deve servir como uma lição: "Além da velha questão do segredo de justiça, todos aqueles que tiverem de falar com órgãos de comunicação social devem salvaguardar-se o melhor possível".

Já para Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas, este caso levantou o véu a uma outra tendência: a destruição do valor da camaradagem entre os jornalistas. "O que deveria ser um valor inabalável e indiscutível está cada vez mais vulnerável à competição", salienta. "Mesmo que seja discutível a origem de determinado material de um jornalista, nenhum camarada tem o direito de divulgar o respectivo conteúdo e de contribuir para o seu descrédito ou de concorrer para afectar a confiança nas relações entre jornalistas e fontes de informação", defende aquele responsável.

Os especialistas em comunicação contactados pelo EXPRESSO asseguram que o sistema de educação e formação português de jornalismo não está preparado para lidar com a nova realidade dos "media", extremamente marcada pela competição. Para Francisco Rui Cádima, o tema sobre ética e deontologia profissional ministrado nos cursos de jornalismo tem que ser reforçado. "O facto de, nos cursos disponíveis, existir apenas uma cadeira nesta área não resolve a situação", explica o docente.

Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas, partilha da mesma perspectiva: "Embora haja muitos cursos superiores, alguns apresentam deficiências nas matérias relacionadas com o exercício da profissão".

Nunes da Silva, responsável pelo departamento pedagógico do Cenjor (Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas), defende-se dizendo que nas questões de deontologia e ética, "os cursos que ministramos têm um módulo sobre esta matéria que serve para refrescar conhecimentos ou veiculá-los pela primeira vez".

O mesmo responsável acrescenta que, "no ano passado, no curso de Introdução ao Jornalismo para licenciados fora destas áreas que queriam enveredar por esta actividade, incidiu-se bastante sobre esta questão". Além do módulo de ética e deontologia - que dura em média 12 horas, dependendo dos cursos -, existe um outro que respeita a fontes de informação e pesquisa que está também relacionado com as questões de deontologia e ética. Nunes da Silva refere ainda que "na nossa escola a preocupação com estas matérias é constante".

Para inverter o panorama, Francisco Rui Cádima defende que as instituições superiores de ensino devem apostar em cursos especializados neste tema, nomeadamente pós-graduações. Outra medida defendida pelo mesmo docente é que todos os órgãos de comunicação social deverão integrar directores especialistas neste tema, de forma a salvaguardar a ética profissional.


ÉTICA NA WEB

Para que o leitor saiba mais sobre as questões da ética e deontologia, pode consultar os seguintes sítios na Internet:

http://www.jornalistas.online.pt - Aqui poderá ficar a par dos códigos deontológicos de vários países, incluindo Portugal.

http://www.labcom.ubi.pt - No laboratório de comunicação on-line encontra estudos sobre ética, ensino e formação sobre esta área de actividade.

http://www.uta.fi/ethicnet - Esta é uma base de dados sobre os códigos europeus de ética dos jornalistas.





DEIXE O SEU COMENTÁRIO





ÚLTIMOS EMPREGOS