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Empresas incentivam voluntariado

As empresas pportuguesas, sobretudo as grandes organizções e as multinacionais, estão a inspirar-se nas práticas estrangeiras e começaram a fomentar o voluntariado empresarial entre os seus colaboradores. Os beneficios em termos organizacionais parecem ser inquestionáveis.
07.12.2007


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Cátia Mateus
Portugal está a aderir à prática do voluntariado, tanto por iniciativa individual como empresarial. Os números falam por si. Em apenas um ano de existência, a Bolsa do Voluntariado — criada pela Entreajuda — passou de 200 voluntários para os cinco mil. Gente que dá a quem precisa, sem esperar receber em troca nada além do enriquecimento pessoal que resulta desta experiência. As empresas, particularmente os grandes grupos, já começaram a perceber as potencialidades da prática do voluntariado entre os seus colaboradores e valorizam cada vez mais esta aptidão no momento do recrutamento.


Um em cada seis portugueses exerce voluntariado, revelam os dados oficiais na semana em que se celebrou o Dia Internacional do Voluntariado. Uma estatística fortemente impulsionada nos últimos anos e visível na adesão da comunidade à Bolsa de Voluntariado lançada no ano passado pela Entreajuda, “uma instituição particular de solidariedade social que visa apoiar outras instituições ao nível da organização e gestão, com o objectivo de melhorar o seu desempenho e eficiência em benefício das pessoas carenciadas”, explica Sofia Cunha Pereira, uma das responsáveis pelo projecto.

Simples, utilitária e fácil de usar a Bolsa do Voluntariado veio, segundo a responsável, “fazer a ponte entre quem quer dar e quem precisa receber”. Através do site www.bolsadovoluntariado.pt, o potencial voluntário pode fazer uma pesquisa a nível nacional e encontrar a instituição adequada para disponibilizar a sua ajuda. O inverso também é possível. Há várias instituições inscritas que podem pesquisar um voluntário com o perfil ideal para as suas necessidades, até porque o voluntariado abarca também perfil especializados que colocam a sua formação ao serviço de instituições que não poderíam pagar por ela. Mas este projecto contempla também uma vertente de voluntariado empresarial que, segundo Sofia Cunha Pereira “visa o apoio formal e organizado de uma empresa a empregados e reformados que desejem servir voluntariamente a comunidade”. Uma ideia que vem dar resposta à também crescente valorização que as empresas dão à prática do voluntariado.

BP, Danone, McDonald’s, Nike, Citigroup, Portugal Telecom, Coca-Cola, Microsoft ou a Shell são exemplos de empresas que impulsionam quotidianamente o espírito e os mandamentos da responsabilidade social, através de várias acções, entre os seus colaboradores e que há muito compreenderam a importância do “espírito voluntarista” no dia-a-dia da empresa, na sua imagem no mercado e nos resultados práticos. É que se em Portugal só agora o voluntariado começa a somar pontos no currículo no momento do recrutamento, noutros países há muito que esta aptidão é valorizada entre os colaboradores de uma empresa. A GRACE-Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial identifica mesmo, no relatório ‘O voluntariado Empresarial e a gestão das pessoas’, os benefícios dos programas de voluntariado empresarial ao nível dos colaboradores.

O grupo presidido João Reis realça como vantagens da prática do voluntariado empresarial “o aumento e a melhoria das relações interpessoais, a consciencialização de uma outra perspectiva da função do trabalho quotidiano, o conhecimento de novas realidades sociais, a satisfação e motivação pessoais, o incremento da auto-estima, a maior confiança nas capacidades pessoais, o estímulo da criatividade, o desenvolvimento de interesses pessoais e o facto de permitir o desenvolvimento e colocação em prática de novas capacidades”. Na verdade, são vários os estudos internacionais que reforçam a ideia de que a prática de acções de voluntariado empresarial reforça o elo de ligação entre o trabalhador e a sua organização, já que o primeiro tende a manifestar um sentimento de pertença e concordância com a empresa e, consequentemente, uma forte identidade organizacional. Factores que, defende a GRACE, podem ser determinantes também para o sucesso da empresa e para atingir bons resultados.

São cada vez mais as organizações a definir programas de voluntariado empresarial. Mas este grupo de reflexão realça que tanto a sua organização como a aplicação devem ser alvo de um processo rigoroso (ver caixa). No seu relatório, a GRACE realça que “a implementação de programas de voluntariado tem vindo a constituir uma opção estratégica das empresas no contexto actual e discute-se hoje que o envolvimento nestas actividades pode trazer um valor acrescido para a comunidade, para a empresa e para os próprios colaboradores nela envolvidos”. O grupo defende que “a área dos recursos humanos deve ser envolvida neste tipo de projectos sociais, contribuindo para o sucesso da implementação do voluntariado dentro da empresa”, já que como clarifica “não é de todo possível dissociar um programa de voluntariado da política de gestão dos recursos humanos de uma empresa devendo ser adequada para permitir a sua concretização”.

Na verdade, muitas empresas preparam a sua política de voluntariado logo no momento do recrutamento. Em Portugal a estratégia não está ainda muito em voga, mas a realização de acções de voluntariado começa a constituir um valor acrescentado em termos curriculares, tal como há muito já acontece noutros países. Ana Luísa Teixeira, «managing-director» da MRI Network Portugal, uma empresa de «executive-search», acredita que “as empresas portuguesas estão mais atentas e participativas nestas questões do voluntariado e da participação social, por isso é natural que comecem a dar mais valor curricular à prática destas acções”. A especialista destaca que “actualmente factores como a prática desportiva são já valorizados, por isso é natural que aos poucos o voluntariado comece a tornar-se um factor de selecção importante”. Ainda assim, Ana Luísa Teixeira realça que “isso depende sempre da cultura da organização os seus valores” e adianta que “no meu dia-a-dia encontro empresas que de facto valorizam muito essas questões e outras que estão ainda menos atentas”, confessa.

Mas para a GRACE não há dúvidas: o voluntariado já é valorizado em termos curriculares no país. O grupo sustenta a sua opinião cita os resultados de um inquérito realizado junto das empresas portuguesas que mostra que as empresas portuguesas valorizam profissionalmente a prática destas acções sobretudo quando: o processo de recrutamento incide sobre jovens candidatos, com pouca experiência profissional; esteja em causa uma função com competências ao nível da liderança, espírito de equipa, postura empreendedora, relacionamento interpessoal, resolução de problemas; estejam em causa funções que requerem conhecimentos adquiridos através do envolvimento em acções de voluntariado (cooperação para o desenvolvimento, solidariedade e economia social, entre outras); o recrutamento seja para funções ligadas aos serviços ou esteja em causa o exercício de actividades de chefia e coordenação de equipas. Razões que, ainda assim, ficam aquém daquele que deve ser o verdadeiro motivo para exercer o voluntariado: a possibilidade de ajudar, sem pedir, os que mais necessitam. Essa sim uma fonte inesgotável de enriquecimento pessoal e conhecimento.

Como criar um programa de voluntariado na sua empresa?

A elaboração de um projecto de voluntariado empresarial varia consoante a identidade cultural de cada organização, a sua área de actividade, estratégia e forma de actuação. Não existe por isso um modelo único e estanque para a materialização de um projecto de voluntariado empresarial. Contudo, há alguns passos muito úteis. Tome nota:

- Promover uma reflexão sobre a cultura da empresa através da análise da missão, visão, valores, prioridades institucionais e acções de responsabilidade social da empresa. Sem esquecer de definir os objectivos da empresa ao decidir elaborar um programa
de voluntariado.

- Formar uma equipa de trabalho incentivando os colaboradores. Facilite os encontros da equipa e trabalhe na criação de um plano de acção.

- Operacionalizar todo o processo definindo quais os recursos que serão necessários à sua implementação.

- Definir as formas de contribuição dos colaboradores através de um levantamento da experiência e potencialidades dos seus trabalhadores no campo do voluntariado.

- Identificar as necessidades da comunidade ou de uma dada instituição. Deve seleccionar a comunidade onde vai actuar e apurar as suas reais necessidades para um impacto mais positivo do seu programa de voluntariado.

- Transformar as ideias em propostas. Com base nas informações recolhidas até aqui, pode estabelecer em definitivo o programa de voluntariado para a sua empresa.

- Colocar em prática o programa começando por definir o gestor do programa que pode ser um funcionário da empresa (que acumule este cargo com as sua funções) ou um profissional externo com experiência neste campo.

- Valorizar e reconhecer a acção de todos os colaboradores envolvidos é um factor-chave para o sucesso do programa.

- Análise das vantagens de trabalhar em parceria, relembrando que o envolvimento de outras organizações é determinante tendo em vista a partilha de experiências e conhecimentos neste campo.





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