Fernanda Pedro e Ruben Eiras
Força de trabalho cresce 0,5% em 2002
O NÚMERO de pessoas a trabalhar na agricultura está a
aumentar em Portugal.
De acordo com os últimos dados do Inquérito à Força
de Trabalho 2002 realizado pelo Eurostat, cerca de 12,5% da população
activa portuguesa exercem actividade no sector agrícola, o que
significa um crescimento de meio ponto percentual em relação
ao ano anterior.
Por sua vez, os dados do INE revelam que 621.000 portugueses trabalhavam
neste sector no 4º trimestre de 2002 e que este valor já
subiu para os 635.600 no fim do 1º trimestre deste ano.
Portugal é assim o país da UE com a segunda maior força
de trabalho neste segmento económico. A média europeia
é de 4%, menos de um terço do valor português.
De acordo com a Confederação da Indústria Portuguesa
(CIP), este comportamento do mercado laboral deve-se ao recurso corrente
do duplo emprego nas áreas rurais: a população
complementa uma actividade no sector secundário ou terciário
com outra, por conta própria ou subordinada, na agricultura.
As centrais sindicais, por outro lado, mostram-se reticentes quanto
à exactidão destes números. João Proença,
secretário-geral da UGT, classifica esta tendência do mercado
laboral de "surpreendente", já que face ao peso
ainda muito elevado da mão-de-obra agrícola no total da
população activa nacional, "seria de esperar algum
ajustamento para baixo".
Mas a raiz desta subida no emprego agrícola também pode
sustentar-se na crise que afecta a indústria nacional. "Estes
dados parecem ir ao encontro das teses que defendem que o sector agrícola
continua a ser, pelo menos em termos estatísticos, uma 'almofada
de emprego' para a perda de postos de trabalho do sector industrial",
contrapõe.
Já a CGTP explica esta grande percentagem de pessoas a trabalhar
na agricultura como sendo uma "máscara" do desemprego.
"Existe muito desemprego oculto na agricultura, que faz baixar
a taxa oficial de desemprego", argumenta Eugénio Rosa,
economista do gabinete de estudos da CGTP. O especialista salienta que
o sector agrícola contribui para baixar a produtividade nacional.
Embora empregue uma elevada percentagem da população (12,5%)
corresponde apenas a 4% do PIB.
As mulheres sempre foram uma força importante nesta actividade.
Hoje representam 51,9% da mão-de-obra agrícola. Número
que justifica mais uma iniciativa da Associação das Mulheres
Agricultoras Portuguesas (AMAP), que se traduzirá num estudo
de diagnóstico sobre a participação das mulheres
empresárias agrícolas no domínio dos programas
de apoio, focalizado na promoção da igualdade de oportunidades.
O estudo, financiado pelo III quadro comunitário através
do Programa de Desenvolvimento Rural AGRO, tem como meta a obtenção
de um quadro alargado sobre a participação das mulheres
na liderança e gestão da exploração agrícola,
as suas atitudes face ao investimento, à modernização,
inovação e novas iniciativas económicas.
"Depois deste estudo, a realidade rural portuguesa irá
mudar", refere Salomé Gorjão Grilo, presidente
da AMAP.