Cátia Mateus
TODOS os estudos conhecidos colocam Portugal na cauda
da Europa em matéria de empreendedorismo. O último "Global
Enterperneurship Monitor" - estudo que monitoriza os níveis
de iniciativa empresarial de 29 países - eliminou mesmo o país
da sua lista, por considerar que os níveis de iniciativa empresarial
eram irrelevantes face à média europeia.
Uma realidade que nada abona em favor de um país que vive um
mau momento económico, com as taxas de desemprego mais elevadas
de sempre, e que se torna mais grave se pensarmos que o conceito de
"empreendedorismo" não é uma bandeira recente
no país.
Há várias associações a batalhar no sentido
de fomentar a iniciativa empresarial, mas as suas actuações
estão dispersas.
É uma "guerra" em que os exércitos aliados lutam
de costas voltadas, em que várias entidades caminham na mesma
direcção mas em estradas paralelas (ver caixa).
Todas parecem carecer de apoios e reconhecem que o caminho se tornaria
menos penoso se as dificuldades fossem partilhadas. Contudo, o empreendedorismo
português continua fragmentado e sem qualquer concertação
de estratégias.
O Instituto para o Fomento e Desenvolvimento da Iniciativa Empresarial
(IFDEP) é provavelmente o mais recente aliado nesta batalha pela
iniciativa no negócio. O seu presidente, António Henriques,
acredita que "esta é uma área onde ainda está
tudo por fazer".
O responsável frisa que "o que até aqui foi feito
é globalmente positivo, embora, na maior parte das vezes, as
acções não assentem num trabalho devidamente sustentado".
Fala em "moda do empreendedorismo", e por isso não
estranha que se assista a um multiplicar de iniciativas neste domínio.
A mesma opinião tem Carina Freitas, responsável pelo departamento
de apoio a empresas da Associação Nacional das Empresárias
(ANE). A responsável atribui à crescente taxa de desemprego
esta apetência pelo empreendedorismo e mostra-se convicta de que
"o desempenho das várias associações, tendo
em conta os meios e as dificuldades existentes, tem sido muito bom".
Carina Freitas reconhece as dificuldades diárias de quem luta
contra a tendência do emprego por conta de outrem e tenta fomentar
a via empresarial. Tal como António Henriques, concorda que as
instituições existentes só teriam a ganhar com
um trabalho conjunto, coordenado e estruturado. Uma coordenação
que poderá passar pela criação de uma entidade
que agregue todas as instituições até agora dispersas.
Para António Henriques, "não existe nenhuma entidade
que tutele o empreendedorismo, mas é inegável o trabalho
que a Associação Nacional de Jovens Empresários
(ANJE) tem vindo a desenvolver, dando contributos muito valiosos para
o enraizamento do conceito no país".
Aquele dirigente acredita que a criação de um organismo
de "tutela" está para breve - até porque
"só mesmo uma enorme desatenção política
poderá adiar por muito mais tempo essa realidade" .
Mas esclarece que "a tutela virá, muito provavelmente,
de um organismo público, já que não me parece que
uma só associação consiga agregar todas as outras".
Armindo Monteiro, presidente da ANJE, encara também com optimismo
esta lógica de cooperação e definição
de estratégias comuns. Para o líder da associação
pioneira na promoção à iniciativa empresarial em
Portugal, "o empreendedorismo português necessita mais
de acções concertadas do que de iniciativas avulsas".
Armindo Monteiro acredita que o país já ultrapassou importantes
desafios em matéria de empreendedorismo, mas são muitas
as limitações que ainda enfrenta. Desde a falta de incentivos
a quem empreende até à quase ausência de capital
de risco, passando pelo sistema de ensino que não estimula a
iniciativa, para Armindo Monteiro este é um caminho que se torna
mais célere com cooperação.
O presidente da ANJE acredita que a falta de iniciativas concertadas
está a penalizar o país, que poderia direccionar os seus
esforços para onde realmente são necessários."Há
uma grande falta de sinergias neste domínio. Uma lacuna visível
até no caso da COTEC - foi criada sem que as várias instituições
que há muito trabalham no campo fossem ouvidas para partilharem
a sua experiência", lamenta.
Na opinião de Armindo Monteiro, não é por falta
de vontade que estas sinergias não se articulam, "é
a velha maneira portuguesa de cada um ter o seu quintal em vez de criar
um pátio colectivo".
A dúvida de Armindo Monteiro é se um órgão
governamental seria o melhor para "tutelar a causa".
O responsável credita que "o ideal era uma entidade completamente
independente, formada por pessoas que conhecem os problemas práticos
e não se restringem a políticas".
Tome Nota
SEGUE-SE uma lista com algumas das associações de empreendedorismo
nacionais:
- www.anje.pt - Associação
Nacional de Jovens Empresários
- www.ifdep.pt - Instituto
de Fomento e Desenvolvimento do Empreendedorismo em Portugal
- www.apme.pt - Associação
Portuguesa das Mulheres Empresárias
- www.ane.pt - Associação
Nacional de Empresárias
- www.agep.pt - Agência
para o Empreendedorismo em Portugal
- www.adi.pt - Agência
da Inovação
- www.cotec.pt - COTEC
- www.tecminho.uminho.pt
- Tecminho
- www.oficina.da.inovacao.com.pt/
- Oficina da Inovação