Cátia Mateus
Nos últimos anos temos ouvido falar do empreendedorismo associado maoritariamente à tecnologia e o país assumiu o desafio de gerar novos negócios, cada vez mais inovadores e tecnológicos. Contudo, existem outros sectores à margem desta revolução nacional que podem constituir desafios aliciantes, com níveis de retorno interessantes. Num mercado de trabalho cada vez mais global onde o nível de exigência, no que toca ao domínio de idiomas estrangeiros, há muito deixou de se restringir à tríade inglês, francês e alemão e onde a procura dos designados idiomas alternativos é cada vez maior, criar uma escola de línguas pode ser um negócio vantajoso. E se pensa que nesta área já está tudo feito, saiba que há sempre por onde inovar, seja qual for o negócio.
É um mercado competitivo, com uma concorrência a vários níveis, mas tal não significa que o seu negócio não possa conquistar a uma quota de mercado. Tudo depende da forma como escolher posicionar-se e do público que quer atingir. Criar uma escola de línguas obedece na essência aos mesmos requisitos que qualquer negócio. Necessita de uma ideia, de um espaço, de capital inicial para investir, de um bom nome que lhe sirva de «brand» junto do público e de cativar clientes. Necessita também de se inteirar da concorrência e este é um ponto importante.
É que o «boom» registado neste segmento de mercado, nos últimos anos, fez-se sobretudo às custas do «franchising» e da entrada no mercado de muitas marcas com nome já reconhecido lá fora. Na verdade, esta pode até ser uma boa via para abrir a sua própria escola de línguas. Existem várias oportunidades de negócio neste área, para vários montantes de investimento, bastando para isso consultar o Instituto de Informação em Franchising, no sítio www.infofranchising.pt. Convém, no entanto, analisar o seu perfil para perceber se de facto esta é a solução ideal para si. É que ser franchisado implica algumas obrigações perante o «master» da marca que escolher. Pode ser mais fácil (porque tem aconselhamento), mais seguro (porque o modelo já foi testado) e mais rápido obter um retorno do que investir no seu negócio. Mas através desta solução terá menos liberdade e autonomia porque o seu negócio não dependerá apenas de si.
Se o «franchising» não é a sua opção e quer lançar-se no mundo empresarial por sua conta e risco, deve ter bem presente que uma escola de línguas tem concorrentes tão diversos como as universidades e institutos que ministram cursos livres, as grandes escolas já instituídas e até o ensino à distância, cada vez mais utilizado. Por isso, é aconselhável definir muito bem o seu «target», para escolher a melhor estratégia de abordar o mercado. Deve ponderar bem a zona geográfica onde quer inserir a sua escola, a dimensão que terá, o público-alvo que quer atingir e, só depois, pensar nos professores a recrutar.
Sim, os professores. É que eles vão ser a alma do seu negócio. Deles, tanto como da eficiência da sua gestão, depende o sucesso do projecto. Procure, inicialmente, formar uma bolsa de professores qualificada e especializada em vários idiomas (dos mais banais aos menos procurados). A partir desta bolsa, poderá dar resposta aos primeiros 'clientes' do seu negócio e quando o número de alunos tiver estabilizado, ai fixará o seu corpo docente. Ainda assim, a ideia de ter uma bolsa de professores actualizada, sobretudo de especialistas nos idiomas até aqui menos requisitados pelo mercado (mandarim, russo, romeno, italiano, entre outros) pode colocá-lo em vantagem face aos seus concorrentes permitindo-lhe dar uma resposta imediata ao pedido de um cliente. O aconselhável é que deixe claro que a sua escola está apta a ministrar todos esses idiomas, muito embora o mais provável é que nesta fase de arranque os tradicionais inglês, francês, alemão e, agora, o cada vez mais requisitado espanhol constituam a sua principal fonte de rendimento e sustentabilidade do projecto.
E tão importante como definir os idiomas que a sua escola vai leccionar é perceber o que pede o mercado nos dias que correm (ver caixa). É que numa economia à escala global, onde os estudantes são cada vez mais cidadãos do mundo, o grau de exigência está numa fasquia bastante elevada.
A sua escola será também diferente consoante o público a que se direcciona. Pode optar por focar-se num «target» mais juvenil, fornecendo não só formação em idiomas, mas também ensino complementar à escola para ajudar os alunos a ultrapassar eventuais dificuldades. Aqui os seus professores têm de estar treinados para trabalhar com este público. Pode também direccionar a sua actuação para alvos mais séniores e apostar em estudantes universitários e profissionais no activo que procuram aumentar a qualificação linguística. Aqui a sua oferta em termos de cursos, horários e idiomas terá de ser maior. E um aspecto que pode explorar é o ensino ao domicílio, levando os seus professores a casa do aluno ou à empresa onde este trabalha. Nesta área, como em todas as outras, inovação, competência e excelência são regras de ouro para o sucesso. Porque nunca está tudo feito.
Um mercado em mudança
A soberania no inglês enquanto idioma global já não é o que era. No mercado de trabalho, o espanhol já figura lado a lado com a 'língua de sua majestade' e há cada vez mais empresas a exigirem o domínio do idioma do país vizinho aos seus colaboradores. Esta é a opinião da especialista em «head hunting» Ana Luísa Teixeira, da MRINetwork Portugal, para quem o domínio de vários idiomas é cada vez mais um passaporte para projectos de cariz internacional ou que envolvam relações com outras pessoas noutros países, projectos de ponta, inovadores, abrindo ou alargando uma janela de oportunidades. Uma ideia também corroborada por Amândio da Fonseca, presidente da empresa de recursos humanos Egor. Diz o especialista que todas as organizações são forçadas a actuar hoje directa ou indirectamente num contexto multilinguístico alargado, não apenas a nível económico mas também cultural. O inglês e o espanhol são, para o presidente da Egor, indiscutivelmente, as línguas mais utilizadas e numa perspectiva de candidaturas a emprego e as mais valorizadas, não apenas em Portugal mas na generalidade dos países. O especialista não nega, no entanto, que além do francês, que embora em perda de influência continua a ser importante, o domínio do alemão é também um trunfo a considerar sobretudo junto das empresas de origem germânica.
Mas para Ana Luísa Teixeira, a valorização depende do projecto, da empresa, da quantidade e qualidade da oferta. Saber alemão, por exemplo, continua a ser uma mais-valia para a maior parte das empresas germânicas. Por outro lado, o domínio do mandarim, factor ainda raro no nosso pais, pode ser uma enorme mais-valia para certas empresas com projectos ligados à China. Uma visão que Amândio da Fonseca partilha, acrescentado que o chinês começa a despertar o interesse de um número cada vez maior de pessoas, mas a as barreiras culturais em relação às línguas ocidentais sugerem a dificuldade de se vir a impor como uma língua susceptível de concorrer com o inglês ou espanhol.
Dicas para triunfar
Se o seu negócio ideal é uma escola de idiomas saiba que há detalhes que não pode, em caso algum, negligenciar, sob pena de condenar a sua empresa ao fracasso. Tome nota de alguns factores aos quais deve dedicar a máxima atenção:
- O espaço não é tudo! É obvio que o local que escolher para implantar a sua escola de línguas é importante e deve reunir todas as condições de funcionalidade e conforto. Contudo, talvez não seja necessário na fase de arranque do projecto cometer excessos neste campo. Lembre-se que pode ir melhorando o seu espaço ao longo do tempo.
- Os professores fazem a escola, por isso aposte forte no recrutamento dos melhores e mais qualificados profissionais. São eles que vão garantir o sucesso do seu negócio.
- Reconheça o terreno, que é como quem diz, conheça e jamais negligencie a concorrência. As escolas de línguas sofreram um «boom» nos últimos anos, com o «franchising» a dar cartas fortes neste segmento de mercado. Faça uma sondagem realista para perceber em que é que o seu negócio pode ter um factor diferenciador que o faça ganhar mercado.
- Escolha realistamente os idiomas. A variedade é importante, mas não lhe serve de nada recrutar professores especializados em idiomas que ninguém procura. Perceba o que é que o seu «target» quer, assegure os idiomas base valorizados pelo mercado de trabalho e aos poucos vá diversificando para as designadas línguas alternativas.
- Aposte forte na divulgação do seu negócio. Não restrinja a campanha de «marketing» à imprensa, actue também junto de empresas, escolas (se o seu «target» forem as crianças), bibliotecas, universidades...
- Lembre-se de cumprir todas as normas legais inerentes a um negócio na área do ensino.