Nos últimos anos, todo o ecossistema nacional do empreendedorismo mudou e os resultados práticos desta mudança não se fizeram esperar. Há hoje no país inúmeros programas de apoio e formação, incubadoras de empresas, sistemas de financiamento, livros, há eventos regulares de captação de investimento e networking empresarial que ligam os empreendedores lusos a investidores nacionais e estrangeiro e há múltiplos programa de aceleração empresarial, estruturados para minimizar os riscos de insucesso dos novos negócios. Há, garantem os especialistas, uma rede que liga Portugal ao mundo, da qual os empreendedores nacionais estão a tirar o melhor partido.?
O estudo “Empreendedorismo em Portugal 2007-2014”, da Informa D&B, dava conta da criação em Portugal de um número superior a 35 mil empresas, entre 2013 e 2014. O número constituia o valor mais elevado na criação de empresas desde 2007 e foi já este ano reforçado por uma nova estatística da mesma consultora: no primeiro trimestre de 2015 foram criadas 11646 empresas, mais 8,7% do que igual em período do ano passado. Para António Lucena de Faria, CEO da Fábrica de Startups e membro fundador da StartupPortugal, Muita coisa mudou no panorama do empreendedorismo nacional e até no próprio perfil dos empreendedores, muito por força do investimento que tem sido feito na sua qualificação através dos vários programas que hoje são promovidos em solo nacional. “Há quatro cinco anos, as pessoas tinham boas ideias mas, muitas vezes, uma insuficiente capacidade de implementação. Esse cenário mudou”, explica. Lucena de Faria não só desmistifica a ideia de que as iniciativas empreendedores estão mais focadas nos jovens, como faz questão de destacar que nos últimos anos, o empreendedorismo senior e os side-entrepreneurs (empreendedores que criam o seu próprio negócio em paralelo com a sua atividade profissional) aumentaram em solo nacional, com elevadas taxas de sucesso.?
Uma ideia que Rafael Alves Rocha, diretor de Comunicação da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), confirma. Para o responsável, os micronegócios continuam a representar a maior parcela, mas há um alargar de horizontes notório nos projetos nacionais, com um número crescente de bons projetos nacionais a ganharem escala e a destacar-se nos mercados internacionais. Casos como a Farfetch o segundo maior site de comércio online de moda de luxo que vale mil milhões de dólares, criado por José Neves, são bons exemplos. Para Rafael Rocha, “a crise e o elevado índice de desemprego têm, de facto, umarelação direta com a iniciativa empresarial, especialmente o empreendedorismo por necessidade. Mas quando falamos de empreendedorismo qualificado, está muito mais em causa”. E o português, reconhece, é cada vez mais qualificado e especializado, capaz de competir em qualidade nas mais altas esferas mundiais. ?Falemos de empreendedores por vocação, do que o porta-voz da ANJE classifica de “fazedores por ambição”, ou de uma geração startup que não se revê nas perspetivas de carreira que as empresas podem oferecer, “há cada vez mais portugueses a querer criar algo próprio, deixar marca e inovar globalmente”, explica Rafael Rocha. A adesão dos empreendedores nacionais aos programa de aceleração de negócios confirma esta tendência. A Fábrica de Startups e a ANJE protagonizam alguns dos vários programas de aceleração existentes no mercado nacional. E ambos os casos é notório o interesse dos empreendedores por estas formações intensivas de capacitação empresarial.?
“Desde que entramos em atividade, já apoiamos 42 empresas e passaram pelos nossos programas mais de 600 empreendedores”, explica António Lucena de Faria que logo no primeiro programa que realizou registou 1270 candidaturas. A Fábrica de Startups tem agora em mãos o programa Discoveries, orientado para a aceleração de Startups no sector do turismo, que arrancará em agosto, ao mesmo tempo que mantém outros programas como o Energia de Portugal e o trabalho junto de empresas, feito à medida, para organizações que querem potenciar o empreendedorismo e a inovação dos seus profissionais. Na ANJE, o ASA é a última grande aposta. A associação lançou em abril este programa de aceleração que desde 5 de maio está no terreno e de onde deverão sair 10 startups tecnológicas capazes de atuar a uma escala global. Mas para Rafael Rocha, o empreendedorismo nacional não é só tecnológico. “De um modo abrangente, podemos falar de uma sensibilização crescente dos portugueses para as oportunidades de negócio inerentes à agricultura e à exploração dos nossos recursos naturais, de uma resposta empreendedora ao crescimento do mercado das telecomunicações, com um destaque claro para a evolução exponencial dos negócios da chamada terceira plataforma e para o boom da mobilidade e da iniciativa empresarial inerente à evolução que o turismo nacional tem registado nos últimos anos”, realça.