A comparação não é inocente e a verdade é que carreiras doentes geram “viroses” que podem ser fatais em muitas organizações. Quando Joaquim Adegas, o presidente da Associação Portuguesa das Empresas do Sector Privado de Emprego (APESPE), defende que “temos de pensar a nossa carreira como a nossa saúde profissional” quer levar os profissionais a refletir sobre o estado atividade profissional. Para o especialista, há sintomas que se detetados a tempo, tal como as comuns viroses ou doenças crónicas, podem ser controlados e até minimizados de modo a gerar um impacto nulo ou muito residual na carreira. E sim, pode levar a sua carreira a um especialista: um gestor de carreira.
“Tal como um médico de família, cada individuo deveria ter um agente, um gestor de carreira, público ou privado, que gerisse a sua carreira profissional”, defende Joaquim Adegas enfatizando os benefícios desta figura da “medicina” empresarial em situações como casos de acidente de trabalho, seguimento ou encaminhamento em caso de desemprego, conselhos jurídicos sobre a melhor forma de contratualizar a sua relação com o seu potencial empregador, aconselhar sobre formações profissionais ou mobilidade profissional. Em suma, o que Joaquim Adegas defende é que cada profissional deveria ter “um verdadeiro especialista para guiar a saúde da sua empregabilidade”.
E para o presidente da APESPE, diferentes fases de carreira têm diferentes necessidades. Um estagiário terá necessidades de acompanhamento diferentes de um profissional sénior. Nesta premissa, Joaquim Adegas divide a carreira em quatro fases de crescimento distintas: fase obstétrica, fase pediátrica, fase do médico de família e a fase geriátrica (ver caixa). Em cada uma o enfoque, prioridades e as preocupações do profissional e do especialista que o acompanha serão diferenciadas, assim como o seu comportamento e ações.
Para o especialista, “de certa forma, parte do desemprego atual é estrutural. Ou seja, são carreiras que sofrem de doenças crónicas, não têm capacidade de inserção no mercado de trabalho e a cura passará pela requalificação”. Mas na opinião do presidente, a aposta na prevenção destas doenças, através de um modelo de carreira construída em quatro fases de maturidade, seria potenciadora de um mercado de trabalho mais equilibrado no futuro, “com correspondência entre a oferta e a procura e capaz de ir ao encontro das expectativas dos profissionais”, concluí.
4 fases de maturidade da carreira
Fase Obstétrica: quando o individuo está a nascer para a sua carreira. É a primeira fase do ciclo de maturidade da carreira e acontece, para Joaquim Adegas, quando se adquirem conhecimentos, nos primeiros anos da vida escolar. Nesta fase, aconselha o especialista, “devemos introduzir um rito de testes vocacionais que permitam procurar o talento natural de cada indivíduo”.
Fase Pediátrica: ocorre durante a vida académica secundária ou superior e no decurso do desenvolvimento de cada jovem enquanto individuo. Nessa altura, explica o presidente da APESPE, “será importante verificar se o meu talento e as minhas expectativas estão corretamente focadas”. Durante a fase pediátrica, defende Joaquim Adegas, “é esperado que o Estado promova programas de vacinação educacional, adequando as tendências do mercado de trabalho a curto, médio e longo prazo com a educação que proporciona aos seus cidadãos e à futura saúde das suas carreiras profissionais”.
Fase do Médico de Família: é quando o indivíduo termina a sua aquisição de competências e tem de colocar o seu talento no mercado de trabalho, precisando de um gestor de carreira que permitirá exercer uma vigilância ativa sobre o desenvolvimento do seu percurso profissional, aconselhando o profissional sobre as ações mais adequadas para manter uma carreira saudável e ativa.
Fase Geriátrica: onde o profissional terá um gestor de carreira especializado em carreiras maduras e atento às especificidades desse grupo de indivíduos. À semelhança da fase anterior, esta fase, irá assegurar que no amadurecimento a carreira continua saudável e caso, por alguma razão, esta fique doente, o gestor de carreira poderá aconselhar quais serão os programas de requalificação mais adaptados ao talento e competências de cada profissional.