Cátia Mateus e Marisa Antunes
A prática regular de um desporto influencia a «performance» dos executivos? Os especialistas ouvidos pelo Expresso Emprego são unânimes em realçar que as mais-valias trazidas pelo exercício físico são inúmeras, quer para os profissionais de topo quer para aqueles que se encontram em níveis intermédios.Tomaz Morais, líder da selecção nacional de râguebi, conseguiu o feito de levar a sua equipa amadora à final do campeonato profissional de mundo. Inspirador nato, este desportista ocupa agora parte dos seus dias a transpor os conceitos que levaram a selecção nacional até onde muitos duvidavam para as empresas e profissionais que nelas exercem funções.
p>“Actualmente, é o espírito de equipa que mais se procura nas empresas, valorizando-se também a capacidade de se articular harmoniosamente os objectivos individuais com os globais. Quem pratica desportos colectivos partilha um sentimento de grupo muito grande, pois vive-se em equipa e precisa-se dela para vencer. E esses ensinamentos podem ser aplicados na vida profissional”, explica o seleccionador, que escreveu o livro ‘Compromisso: Nunca desistir' e é um dos oradores pertencentes à Speakers Bureau, da empresa Izi Palestras, a primeira em Portugal a ser reconhecida pela IASB (International Association of Speakers Bureau).
Tomaz Morais dá outro exemplo: “Os praticantes do desporto de alto rendimento sabem o que é viver com espírito de sacrifício e desenvolver a vontade de se superarem constantemente. Atributos que ajudam no dia-a-dia, pois aguçam a capacidade de inovação e de empreendedorismo”. Uma opinião corroborada por Jorge Marques, presidente da Associação Portuguesa de Técnicos e Gestores de Recursos Humanos (APG), que não tem mesmo dúvidas em afirmar que “num processo de recrutamento, em igualdade de circunstâncias e qualificações, optaria seguramente pelo candidato desportista em detrimento do que não tivesse qualquer actividade”.
E Jorge Marques diz não ter dúvidas de que esta é a tendência dominante nas organizações nacionais. Razão pela qual, mencionar a prática desportiva num currículo deixou de ser uma opção para passar a ser ‘quase' obrigatório. Este parâmetro ajuda a traçar o perfil do candidato e, dependendo da função em causa, pode marcar vários pontos a seu favor. “Muitas vezes, as organizações valorizam mais a atitude/comportamento do que propriamente a experiência e o percurso profissional, e, nessa medida, a prática desportiva é sinónimo de um espírito de competição positivo, de dinamismo, de dinâmica de grupo, de conquista, de aptidão para desafios e ultrapassagem de dificuldades, muito valorizados pelas empresas”, argumenta Jorge Marques.
O especialista relembra que “muitas organizações utilizam o desporto como uma compensação emocional para os seus colaboradores, através do pagamento de quotas em ginásios, o que espelha a importância que já é atribuída à prática de exercício nas empresas portuguesas”. E os números comprovam-no. Luís Cerca, director técnico dos ginásios Solplay e professor universitário, confirma a crescente adesão dos profissionais, sobretudo executivos, ao desporto.
“Há pouco mais de uma década, os ginásios tinham entre 200 e 300 praticantes activos, agora qualquer clube de referência não trabalha com menos de cinco mil. Inscritos serão mais”, explica o responsável. Para Luís Cerca, são nítidos os benefícios do desporto que não surgem só associados à componente física mas são transversais aos domínios emocional, psicológico e sócio-afectivo (onde se inclui o desempenho profissional). Para o especialista, “durante muito tempo, as pessoas encaravam a prática do exercício como uma questão de lazer, o que é erróneo. O desporto exige rigor e disciplina e serão, porventura, esses os grandes benefícios que o profissional transpõe para o seu quotidiano laboral, a par do bem-estar físico e psicológico”.
Na verdade, os impactos positivos do mundo desportivo no campo profissional há muito foram reconhecidos. Luís Cerca relembra mesmo que “uma das grandes técnicas de formação actuais — o «coaching» — tem as suas raízes no desporto, já que os participantes de modalidades de alta competição sempre tiveram essa figura do treinador/mentor, com grande sucesso”. Segundo este especialista, são cada vez mais os executivos e profissionais de topo a marcar presença nos ginásios nacionais e a velha máxima ‘corpo são, mente sã' já não levanta dúvidas a ninguém e é um dado adquirido.
Fernando Nunes Pedro pratica exercício desde a adolescência. Já lá vão 40 anos. O director da Academia de Golfe do Belas Clube de Campo é também um adepto da modalidade, mas o que não dispensa mesmo, numa base diária, são as ‘suas' 400 flexões logo pela manhã. “Estou condenado a praticar exercício. Joguei hóquei, basquetebol, fui capitão das equipas de futebol das escolas onde andei e jogo golfe há muito tempo. O desporto põe-me a cabeça a funcionar e sinto que, para o trabalho me render, tenho de estar em forma”, resume Fernando Pedro, que é também presidente-executivo do Conselho Nacional da Indústria de Golfe.
O executivo lembra que a concentração é inerente à prática desportiva, algo que se desenvolve e que acaba por se aplicar em todas as situações. “Mas não só. A força de vontade, a persistência em alcançar determinadas metas que impomos a nós mesmos quando fazemos determinado exercício físico, são hábitos que ganhamos e acabamos por imprimir no nosso quotidiano”.