Notícias

Desemprego qualificado dispara

15.02.2003


  PARTILHAR




Ruben Eiras

AS PROFISSÕES qualificadas são as mais afectadas pela vaga de desemprego que assola o mercado de trabalho português.

Entre o quarto trimestre de 2001 e o mesmo período de 2002, os quadros superiores, os especialistas das profissões intelectuais e científicas e os técnicos de nível intermédio perderam, no conjunto, mais de 58.700 empregos, ou seja, cerca de 53,4% do total de postos de trabalho destruídos num ano.

Os cálculos são de José Palma Rita, docente universitário e técnico superior do Instituto de Emprego e Formação Profissional, os quais efectuou com base em dados do INE.

De acordo com aquele especialista, esta tendência é resultado do modelo de desenvolvimento nacional que não rentabiliza os investimentos na educação e na formação de mão-de-obra. "Isto leva a questionar a nossa capacidade para retirarmos benefícios do potencial da imigração de Leste, dotada de altas qualificações", observa.

Os sinais de alerta da fraca absorção de talento qualificado por parte do mercado laboral português são lançados por organismos internacionais. Em recentes documentos, a OCDE e a Comissão Europeia têm vindo a apontar a degradação das qualificações do trabalho em Portugal, expressa na diminuição dos empregos altamente qualificados e no crescimento dos empregos pouco exigentes em qualificações. Com efeito, o último relatório da OCDE sobre a economia portuguesa realçou esta tendência.

Mas há mais. O desemprego dos jovens detentores de qualificações elevadas tem aumentado de forma constante ao longo dos últimos anos. Só entre os finais de 2001 e de 2002, os licenciados desempregados passaram de 24 para 30 mil.

Por sua vez, o estudo "Qualificações requeridas e frequência educacional em Portugal, 1985-1997", elaborado por Maria Clementina Santos, docente na Faculdade de Economia do Porto, e Mendes de Oliveira, professor no Instituto das Ciências do Trabalho e da Empresa - já divulgado no EXPRESSO Emprego -, constatou que 50% da força de trabalho nacional não desempenha funções de acordo com a sua qualificação. Isto é, um em cada dois portugueses está sobrequalificado face ao seu emprego.

E os recente fluxos migratórios de Leste ainda poderão vir a agravar mais a situação. Com efeito, os dados do INE revelam que a população activa aumentou de 5,31 milhões em 2001 para 5,38 milhões no final de 2002. Segundo José Palma Rita, estes continuam a prometer uma trajectória ascendente, "apetrechando os mercados de trabalho com mão-de-obra altamente qualificada".

Uma má notícia, porque, de acordo com aquele investigador, se Portugal não adoptar um modelo de desenvolvimento assente em actividades qualificadas e de alto valor acrescentado, o aumento do desemprego entre os imigrantes pode vir a criar um problema social profundo, "de dimensões e contornos ainda imprevisíveis".

Se este cenário se confirmar, José Palma Rita salienta que o país irá perder uma oportunidade única de injectar capital humano com um enorme potencial de produtividade, dotado de competências tecnológicas e de capacidade de organização.







DEIXE O SEU COMENTÁRIO





ÚLTIMOS EMPREGOS