Marisa Antunes
Portugal começa, finalmente, a entrar na rota das multinacionais na instalação de centros de suporte e de competências. A disponibilidade de uma mão-de-obra qualificada, os custos salariais competitivos, a preparação e os conhecimentos técnicos dos profissionais portugueses e a sua apetência e abertura para falar vários idiomas e assimilar as outras culturas, são vantagens que empresas como a IBM, Santander, Nokia Siemens Networks ou a Solvay já começaram a tirar partido, numa tendência recente e crescente que tem pouco mais de cinco anos.
O processo de escolha do novo centro de competências do grupo químico e farmacêutico Solvay, o 3S (Solvay, Shared Service) é um bom exemplo de como o nosso país tem vindo a conquistar terreno nesta área.
De um leque de opções que se estendia por 89 cidades com potencial para acolher o novo centro de serviços partilhados, a capital portuguesa foi “eliminando” outros candidatos até chegar ao grupo de quatro pré-seleccionadas: além de Lisboa, Praga, Barcelona e Milão. “No final, restaram apenas Lisboa e Barcelona. Foi por um fio. Nós já tínhamos um bom conhecimento do país e da cultura, tínhamos aqui raízes e competências. E o ponto a favor foi mesmo a capacidade dos portugueses de apreender línguas e também o empenho do Governo em todo o processo”, realça Thierry Hénaut, director de Recursos Humanos.
Entre os apoios, destaca-se o protocolo celebrado com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), que implicou o recrutamento, selecção e formação inicial de 200 licenciados dos centros de emprego de Lisboa, Cascais e Setúbal, num montante avaliado em cerca de 1,7 milhões de euros. No nosso país desde 1934, o grupo resolveu assim apostar num Centro Europeu de Serviços Partilhados onde os novos profissionais da 3S já estão aptos a desenvolver tarefas dos serviços financeiros e de recursos humanos, depois de uma formação que se iniciou em Março do ano passado.
Como realça Nuno Gonçalves, director de Formação do departamento de Recursos Humanos, a 3S passou a ser responsável pelos serviços financeiros e de recursos humanos de mais de 60 companhias do grupo a operar em 11 países. “Para a área financeira, são processadas transacções ao nível de recebimentos de clientes, pagamentos a fornecedores, consolidação entre os pagamentos e recebimentos ou as despesas de viagens dentro do nosso grupo, por exemplo. Nos Recursos Humanos, prestamos serviços de processamento de vencimentos a empregados, entre outros”, sintetiza Nuno Gonçalves.
Os recém-licenciados de áreas diversas como gestão, ciências políticas, economia ou psicologia ficaram sujeitos a nove meses de estágio onde passaram por vários tipos de formação, da geral à mais específica, do inglês técnico às tecnologias de informação, passando pela introdução à visão cultural da empresa. “Além do português e do inglês técnico, a língua-base do grupo, desenvolvemos as nossas pessoas em todas as outras línguas em que prestamos também serviços, nomeadamente o espanhol, francês, italiano, alemão e holandês”, especifica Thierry Hénault.
“A grande mensagem é que no final da formação a esmagadora maioria das pessoas que concluem o estágio acaba por ser reintegrada na empresa", sublinha o director de Formação. Até 2008, a 3S deverá estar a funcionar em pleno com um total de 300 pessoas, que alargarão os seus serviços também para os países da América Latina. Num estudo elaborado pela empresa de consultoria A.T. Kearney, Portugal posiciona-se na 37ª posição no ‘Global Services Location Index' quanto à atractividade para a relocalização de serviços.
Sem capacidade para competir com gigantes como a Índia ou a China, Portugal concorre actualmente com outros países europeus, como a Polónia, Bulgária ou a República Checa, todos muitos competitivos ao nível de custos salariais e com uma qualificação muito acima da média. Ainda assim, o nosso país tem conseguido manter-se à frente de países como Espanha, Irlanda ou Turquia.