Ruben Eiras
O CUSTO médio da formação na agricultura
passou de 400 euros por pessoa, em 1998, para cerca de 1300 euros por
participante em 2001. Os dados foram calculados no balanço social,
uma publicação anual realizada pelo Departamento de Estatística
do Trabalho, Emprego e Formação Profissional (DETEFP), do
Ministério da Segurança Social e do Trabalho, e dizem respeito
a acções formativas com uma duração média
de 64 horas (em 1998) e 56 horas (em 2001). A análise é
efectuada através de um inquérito enviado a empresas com
mais de 100 trabalhadores.
O mesmo documento constata que a formação na agricultura
registou o maior aumento no valor do custo médio por formando.
Para se ter um termo de comparação, basta referir, por
exemplo, que em 2001 os investimentos formativos no sector da saúde
situavam-se nos 300 euros por formando e nas actividades financeiras
nos 224 euros.
"Que eu saiba, não existem empresas com mais de 100 trabalhadores
na agricultura - a Companhia das Lezírias, que é a maior,
tem 97", afirma Luís Mira, secretário-geral da
Confederação de Agricultores de Portugal, organização
responsável pela gestão dos fundos para o sector.
Mas, ao que parece, aquelas empresas existem mesmo, já que o
DETEFP regista cerca de 11 nas suas estatísticas. "Se
existem, eu não as conheço, nem sei quais são",
contrapõe aquele responsável.
Para Firmino Cordeiro, presidente da Associação dos Jovens
Agricultores de Portugal (AJAP), muitas destas acções
de formação possuem um carácter mais "social",
do que de "cariz prático" na agricultura. Isto
porque, segundo aquele dirigente, muita da formação "a
pacote" serve para "fins de subsistência de algumas
populações do interior do país".
Um dos resultados é a criação de vários
"catedráticos da formação, que já
tiraram cursos de todas as áreas possíveis".
Firmino Cordeiro acrescenta ainda que existem empresas que "montam
esquemas de 'caça' aos subsídios de formação
profissional com estes fins, escapando ao controlo das associações
empresariais".
Luís Mira não compartilha desta opinião, frisando,
no entanto, que "tais esquemas eram prática no passado",
mas que agora é mais difícil de os efectuar, devido à
maior fiscalização. "Por exemplo, a CAP proíbe
que as pessoas frequentem mais do que dois cursos na mesma empresa",
refere aquele responsável.
Além disso, Luís Mira aponta como uma das razões
para o aumento do custo médio de formação a alteração
dos conteúdos dos cursos e a população a que se
dirigem. "Muitos dos cursos actuais são sobre operação
de máquinas agrícolas e normas europeias agro-ambientais
e de protecção do ambiente, dirigidas a um público
com formação superior. Também existe um grande
esforço de formação na agricultura biológica,
que é uma área formativa com um custo mais elevado",
explica.
Embora Firmino Cordeiro concorde com este argumento, volta a frisar
que qualquer organização agrícola "faz
cursos que é um disparate", sem ter em conta a formação
que é útil para a autonomia económica do interior
do país.
"Devia apostar-se muito mais em pequenas acções
de formação sobre turismo ecológico, rural e como
saber viver a partir dos recursos rurais", remata. Contactado
pelo EXPRESSO, o Ministério da Agricultura remeteu o assunto
para a CAP.