Marisa Antunes
MAIS DE 60% das pessoas que frequentaram os cursos do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) em 2004 não conseguiram empregar-se nos três meses seguintes à conclusão das acções formativas que, por regra, incluem o estágio numa empresa. Aqueles cursos custaram, no ano passado, 330 milhões de euros. Nos cursos profissionais organizados pela CGTP o cenário não é diferente. Apenas 40% dos desempregados consegue sair dessa situação após a realização da formação.
«A maioria dos empresários portugueses não encara a formação como instrumento para aumentar a produtividade. E o que acontece, grande parte das vezes, é que há um aproveitamento oportunístico desta mão-de-obra barata», aponta o economista Eugénio Rosa.
Um aproveitamento que passa não só por ter um funcionário especializado a custo zero para a empresa, como ainda pela tentativa de «flexibilizar as tarefas para o novo empregado, com trabalhos menos qualificados e que nada têm a ver com a sua especialização», acrescenta o responsável pelo centro de estudos da CGTP.
Num dos seus mais recentes relatórios, o IEFP revela os resultados de um estudo relativo ao 1.º semestre de 2004 e que incidiu sobre 5.192 inquiridos, todos eles frequentadores de cursos de formação profissional com duração igual ou superior a 100 horas.
As conclusões demonstram o estado recessivo da economia portuguesa, incapaz de gerar postos de trabalho: dos 36% dos formandos que saíram do desemprego, «apenas 13% permaneceram na empresa onde realizaram o estágio, enquanto 40% conseguiram esse emprego de um modo informal que passa pelos conhecimentos pessoais».
Isabel Gomes, 34 anos, faz parte do grupo de felizardos que conseguiram sair da angustiante situação de inactividade. Durante seis anos, Isabel trabalhou para uma empresa de transportes, no departamento da logística. «Em 2002 fiquei desempregada e inscrevi-me no centro de emprego de Vila Franca de Xira. Em Maio de 2004 comecei a frequentar o curso de Técnicas de Contabilidade e Gestão do IEFP que durou até Junho deste ano», relata a trabalhadora. A formação deu-lhe ainda acesso a um estágio de dois meses no departamento de contabilidade de uma empresa de informática, que a recrutou para os seus serviços quando terminou o «patrocínio» do IEFP.
Os empregados administrativos de contabilidade fazem parte do grupo das cinco profissões mais requisitadas, a que se juntam ainda os cabeleireiros/esteticistas, vendedores, estafetas e electricistas da construção civil.
Outro dado relevante do relatório do IEFP refere-se às zonas do país onde predominam as situações de desemprego após o término do curso profissional: o Centro destaca-se pela negativa, com 53% de desempregados, e o Algarve, pela positiva, com mais de metade dos formandos a conseguir emprego no fim da formação.