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Cultura de praia

21.05.2004


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Cátia Mateus

GUILHERME Narcato seguiu o sonho de grande parte dos jovens brasileiros: conhecer a Europa. Lançou-se à aventura e antes de rumar à cidade italiana de Milão, onde o esperava um emprego numa embaixada, passou por Portugal. O encanto da cidade Invicta e a mística do rio Douro trocaram-lhe as voltas. Apaixonou-se pela sua esposa Carla e não voltou a deixar Portugal, um país que diz ter adoptado por amor. Hoje, esta dupla de brasileiros gere em terras lusas um negócio com sabor a Brasil. Através da sua empresa Maresias, colocam no mercado o que melhor se faz no sector da moda-praia brasileira com a chancela da conhecida marca Poko Pano.


Quando há 15 anos chegou a Portugal, Guilherme Narcato encontrou um país em mudança, reflexo de uma abertura à Europa decorrente da integração na União Europeia. Com formação académica na área do Comércio Exterior e Marketing, o empresário confessa que na altura não pensava ficar em Portugal.

O país era apenas uma paragem na sua rota para Milão, "mas os planos saíram furados quando conheci a Carla e também à medida que fui percebendo as potencialidade de Portugal", explica.

Recusou o seu lugar numa embaixada em Milão e elegeu o Porto como "casa". Encontrou emprego como director comercial numa multinacional e poucos meses depois foi "tentado" a trocar Portugal por Espanha. O convite foi recusado e o casal de empreendedores equacionou a possibilidade de criar o seu próprio projecto empresarial. Mas a tarefa não surgiu facilitada.

Na condição de estrangeiros, Guilherme e Carla não encontraram facilidades em financiar-se junto da banca para criar de raiz um projecto empresarial. Contudo, a persistência do casal deu frutos. "Nas nossas viagens ao Brasil trazíamos sempre muita roupa de praia para os amigos que nos pediam. A dada altura começamos a perceber que este poderia ser um nicho de mercado interessante no país", explica Carla Narcato.

Pouco aberto ao conceito de "roupa de praia", Portugal era um mundo a explorar para os dois jovens. Estava traçado o conceito do negócio: "implementar no país a cultura da moda-praia brasileira, trazendo para o mercado nacional um conjunto de produtos e acessórios".

Sem capacidade financeira, Guilherme e Carla procuraram no Brasil o apoio da marca Poko Pano, que hoje representam em regime de exclusividade em Portugal. "Como não tínhamos dinheiro para investir, fomos ao Brasil apresentámos as nossas ideias e a marca financiou o nosso projecto a 100% até que conseguíssemos obter uma estabilidade e solidez que nos permitisse o retorno do investimento", relembra Guilherme Narcato.

Pelas mãos dos dois empresários a marca Poko Pano, que nunca tinha ido além do mercado brasileiro, ganhou a primeira representação internacional e a partir do modelo delineado por Carla e Guilherme outros países se seguiram. Em 1996 a dupla de empreendedores apresentou a sua primeira colecção de biquinis em Portugal.

"O conceito era completamente novo quer nos padrões, nas cores quer nos modelos e foi um sucesso imediato. A primeira encomenda que fizemos à fábrica não chegou para a procura", relembra Carla.

Motivados pelo sucesso do projecto os empresários apostaram então na criação de bases sólidas para a Maresias. "A nossa lógica foi cautelosa. Ao contrário da maioria das empresas, canalizámos todo o investimento inicial para a apresentação da colecção e em função do seu sucesso faríamos o investimento nas infra-estruturas, minimizando assim o risco", explicam.

Hoje, a Maresias vai além da comercialização e distribuição de biquinis brasileiros. A empresa acumula a representação da moda-praia brasileira com a "griffe" Poko Pano, com a comercialização e distribuição de todo o tipo de acessórios e calçado "made in Brasil".

A Maresias emprega seis pessoas em regime permanente, reunindo uma equipa de comerciais que presta apoio aos clientes da empresa em todo o país e recorrendo ao serviço de trabalhadores temporários para apoiar as alturas de maior trabalho, já que este é um negócio algo sazonal.

Guilherme Narcato não nega que o seu projecto teve de ultrapassar vários obstáculos, nomeadamente culturais, para vencer em Portugal. "O facto de termos um produto diferente funcionou a nosso favor, mas também dificultou o negócio. Portugal não tinha uma cultura de roupa de praia e basicamente só se vendiam biquinis pretos. Tivemos de adequar toda nossa oferta ao mercado português", explica.

Na realidade, os modelos que a empresa apresenta no mercado português são sujeitos a uma modelagem diferente da apresentada no Brasil. Por cá, implantar a moda do chinelo de dedo foi um problema e ainda hoje não se venceu o constrangimento do biquini excessivamente decotado. Ainda assim, a Maresias é um projecto de sucesso.

Os seus responsáveis explicam que o segredo é uma expansão em pequenos passos, sem inundar o mercado e com produtos de grande qualidade que se apresentem como autênticas obras de arte em tecido.

A empresa segue uma rota de expansão que a poderá levar a outros sectores de actividade como o da roupa desportiva, assim "a profissionalização e definição dos critérios de comercialização nesse sector o permitam".





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