Cátia Mateus
GUILHERME Narcato seguiu o sonho de grande parte dos jovens
brasileiros: conhecer a Europa. Lançou-se à aventura e antes
de rumar à cidade italiana de Milão, onde o esperava um
emprego numa embaixada, passou por Portugal. O encanto da cidade Invicta
e a mística do rio Douro trocaram-lhe as voltas. Apaixonou-se pela
sua esposa Carla e não voltou a deixar Portugal, um país
que diz ter adoptado por amor. Hoje, esta dupla de brasileiros gere em
terras lusas um negócio com sabor a Brasil. Através da sua
empresa Maresias, colocam no mercado o que melhor se faz no sector da
moda-praia brasileira com a chancela da conhecida marca Poko Pano.
Quando há 15 anos chegou a Portugal, Guilherme Narcato encontrou
um país em mudança, reflexo de uma abertura à Europa
decorrente da integração na União Europeia. Com
formação académica na área do Comércio
Exterior e Marketing, o empresário confessa que na altura não
pensava ficar em Portugal.
O país era apenas uma paragem na sua rota para Milão,
"mas os planos saíram furados quando conheci a Carla
e também à medida que fui percebendo as potencialidade
de Portugal", explica.
Recusou o seu lugar numa embaixada em Milão e elegeu o Porto
como "casa". Encontrou emprego como director comercial numa
multinacional e poucos meses depois foi "tentado" a trocar
Portugal por Espanha. O convite foi recusado e o casal de empreendedores
equacionou a possibilidade de criar o seu próprio projecto empresarial.
Mas a tarefa não surgiu facilitada.
Na condição de estrangeiros, Guilherme e Carla não
encontraram facilidades em financiar-se junto da banca para criar de
raiz um projecto empresarial. Contudo, a persistência do casal
deu frutos. "Nas nossas viagens ao Brasil trazíamos sempre
muita roupa de praia para os amigos que nos pediam. A dada altura começamos
a perceber que este poderia ser um nicho de mercado interessante no
país", explica Carla Narcato.
Pouco aberto ao conceito de "roupa de praia", Portugal era
um mundo a explorar para os dois jovens. Estava traçado o conceito
do negócio: "implementar no país a cultura da
moda-praia brasileira, trazendo para o mercado nacional um conjunto
de produtos e acessórios".
Sem capacidade financeira, Guilherme e Carla procuraram no Brasil o
apoio da marca Poko Pano, que hoje representam em regime de exclusividade
em Portugal. "Como não tínhamos dinheiro para
investir, fomos ao Brasil apresentámos as nossas ideias e a marca
financiou o nosso projecto a 100% até que conseguíssemos
obter uma estabilidade e solidez que nos permitisse o retorno do investimento",
relembra Guilherme Narcato.
Pelas mãos dos dois empresários a marca Poko Pano, que
nunca tinha ido além do mercado brasileiro, ganhou a primeira
representação internacional e a partir do modelo delineado
por Carla e Guilherme outros países se seguiram. Em 1996 a dupla
de empreendedores apresentou a sua primeira colecção de
biquinis em Portugal.
"O conceito era completamente novo quer nos padrões,
nas cores quer nos modelos e foi um sucesso imediato. A primeira encomenda
que fizemos à fábrica não chegou para a procura",
relembra Carla.
Motivados pelo sucesso do projecto os empresários apostaram então
na criação de bases sólidas para a Maresias. "A
nossa lógica foi cautelosa. Ao contrário da maioria das
empresas, canalizámos todo o investimento inicial para a apresentação
da colecção e em função do seu sucesso faríamos
o investimento nas infra-estruturas, minimizando assim o risco",
explicam.
Hoje, a Maresias vai além da comercialização e
distribuição de biquinis brasileiros. A empresa acumula
a representação da moda-praia brasileira com a "griffe"
Poko Pano, com a comercialização e distribuição
de todo o tipo de acessórios e calçado "made in Brasil".
A Maresias emprega seis pessoas em regime permanente, reunindo uma equipa
de comerciais que presta apoio aos clientes da empresa em todo o país
e recorrendo ao serviço de trabalhadores temporários para
apoiar as alturas de maior trabalho, já que este é um
negócio algo sazonal.
Guilherme Narcato não nega que o seu projecto teve de ultrapassar
vários obstáculos, nomeadamente culturais, para vencer
em Portugal. "O facto de termos um produto diferente funcionou
a nosso favor, mas também dificultou o negócio. Portugal
não tinha uma cultura de roupa de praia e basicamente só
se vendiam biquinis pretos. Tivemos de adequar toda nossa oferta ao
mercado português", explica.
Na realidade, os modelos que a empresa apresenta no mercado português
são sujeitos a uma modelagem diferente da apresentada no Brasil.
Por cá, implantar a moda do chinelo de dedo foi um problema e
ainda hoje não se venceu o constrangimento do biquini excessivamente
decotado. Ainda assim, a Maresias é um projecto de sucesso.
Os seus responsáveis explicam que o segredo é uma expansão
em pequenos passos, sem inundar o mercado e com produtos de grande qualidade
que se apresentem como autênticas obras de arte em tecido.
A empresa segue uma rota de expansão que a poderá levar
a outros sectores de actividade como o da roupa desportiva, assim "a
profissionalização e definição dos critérios
de comercialização nesse sector o permitam".