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Cortar o insucesso na Matemática

03.10.2003


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João Barreiros

Através de um "software", a Universidade de Aveiro diagnostica as lacunas de conhecimentos matemáticos dos alunos que entram no 1.º ano










A UNIVERSIDADE de Aveiro vai aproveitar uma aplicação informática desenvolvida pelo seu Departamento de Matemática para avaliar os conhecimentos nesta disciplina dos novos alunos de ciências e de engenharia.

O teste de diagnóstico, denominado TDmat, permitirá descobrir quais são as maiores dificuldades dos jovens que este ano conseguiram um lugar no ensino superior, corrigindo de imediato os problemas que trazem consigo desde o secundário.

Os testes aos novos alunos serão realizados na próxima semana, entre os dias 6 e 10 de Outubro, estando reservadas as primeiras aulas de Cálculo 1 para "esclarecer e colmatar as dificuldades diagnosticadas".

Um dos objectivos do TDmat é resolver a elevada taxa de reprovação na disciplina de Cálculo, que causa um sério problema logístico ao próprio departamento.

A insuficiente preparação que os alunos trazem do ensino secundário parece estar na origem desta situação, que obriga a universidade a destacar mais professores do que o normal para leccionarem a disciplina.

Este ano estavam inscritos dois mil alunos, dos quais 45% vão ter de repetir a cadeira. "E nem foi um dos anos piores", sublinha o coordenador do Projecto Matemática Ensino ao EXPRESSO.

Impulsionador do teste de diagnóstico, António Batel Anjo espera que a iniciativa possa ajudar a acabar com esta barreira, "dando resposta às dificuldades dos alunos, nivelando conhecimentos, não permanecendo de costas voltadas para o ensino secundário".

Avaliação qualitativa

Com uma experiência muito vasta na aplicação deste tipo de testes nos ensinos básico e secundário, o responsável pelo projecto adianta ainda que todas as questões do TDmat, realizadas informaticamente, "avaliam aspectos muito precisos, de forma a que possa ser feita uma avaliação qualitativa e não quantitativa".

Ou seja, não importa à universidade avaliar quantas questões foram respondidas de uma forma errada, mas sim detectar - de uma forma mais global - em que áreas é que os alunos apresentam mais dificuldades.

Apesar de reconhecer que a matemática é uma disciplina que assusta muitos jovens, António Batel Anjo defende que a falta de preparação dos alunos que agora chegam às universidades é o resultado de diversos factores:

"O secundário está virado para a realização de exercícios, para uma certa mecanização, quando o que mais importa é que os alunos percebam as coisas. Por isso, as notas com que chegam à universidade acabam podem não reflectir o conhecimento deles".

Este ano entraram vinte e quatro alunos para o curso de Matemática Aplicada da Universidade de Aveiro, metade dos quais escolheram a via de ensino.

O coordenador do Projecto Matemática Ensino acha que a crise laboral que afecta os professores é artificial e, por isso, entende que os candidatos fizeram uma boa escolha:

"Em 2010 não teremos professores de matemática, o que significa que iremos atravessar a crise pela qual a França e outros países europeus estão a passar. Estamos a viver um período muito conturbado, com um errado desinvestimento nos cursos de ensino".

Mesmo hoje, na opinião deste docente, há lugar para muitos mais professores de matemática. O secundário tem demasiados alunos por turma e haveria grandes vantagens em desdobrar esses grupos de alunos, exercendo-se um ensino mais próximo das necessidades de cada um deles.

O ensino secundário está muito voltado para a 'mecanização' do conhecimento e não para a sua compreensão


O Projecto Matemática Ensino, coordenado por António Batel Anjo, pretende interagir com escolas de variados graus de ensino, integrando-se numa das unidades de I&D do Departamento de Matemática.

Muito ligada às áreas científicas da informática e da computação, esta iniciativa tem como objectivo criar e aplicar instrumentos que permitam a avaliação e a aprendizagem assistidas por computador.

Para além da aplicação do TDmat aos novos alunos, o responsável por este projecto pretende alargá-lo, facilitando a vida dos alunos que não possam frequentar a disciplina de Cálculo.

Através do computador, esses alunos irão trabalhando e monitorizando a sua própria evolução, até ao momento em que sintam estar prontos para realizar o exame.

Esta é outra das medidas tendentes à diminuição do número de alunos acumulados naquela disciplina, que muitos finalistas dos cursos de ciências e de engenharia têm em atraso praticamente desde que entraram para a universidade.

Um défice crónico

Todos os estudos internacionais elaborados nos últimos anos mostram que a maior parte dos alunos portugueses apresenta sérias dificuldades na matemática.

O problema parece ser transversal, passando do básico ao secundário, e com reflexos no ensino superior.

Há dois anos, as provas de aferição do 6º ano de escolaridade revelaram que menos de 40% dos alunos conseguiam responder de forma totalmente correcta aos problemas que lhes foram apresentados (nas áreas da geometria, estatística e cálculo).

Os resultados foram na altura considerados compatíveis com os dados existentes sobre o conhecimento dos alunos do 4º ano de escolaridade.

Este ano, a última escola da lista apresenta uma média de 2,5 valores, nos exames nacionais, verificando-se que há mais de cinquenta escolas com uma média abaixo dos seis valores.

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