Miguel tinha 22 anos quando criou a Uniplaces. Cristina 23 quando idealizou a Talkdesk e Luís 33 anos quando deu forma à plataforma Zaask. Qualquer uma destas três empresas soma menos de cinco anos de atividade e, nesse período de tempo, juntas já criaram 145 postos de trabalho em Portugal, preparando-se este ano para recrutar mais 118 novos profissionais.
Os três empreendedores personificam as contas do estudo recentemente divulgado pela Informa D&B - “O Empreendedorismo em Portugal” - que dá conta de que as startups nacionais representam em média 18% do emprego criado em Portugal (ou 46% se alargarmos a análise aos primeiros cinco anos de atividade). Mas são sobretudo o rosto de uma geração de empreendedores que nos últimos anos desafiou a crise e a austeridade e conseguiu gerar emprego no seu país. Cada um deles tem a sua própria fórmula secreta. Em comum têm todos a determinação que todos os atletas cultivam sempre que o objetivo é enfrentar uma corrida de obstáculos. ?
Basta analisarmos os dados de duas das várias incubadoras de empresas nacionais - a Startup Lisboa e a Beta-i - para perceber o potencial de criação de emprego das startups nacionais. No primeiro caso, desde que entrou em atividade (em 2012) a Startup Lisboa já apoiou mais de 200 empresas, responsáveis pela criação de mais de 600 postos de trabalho. Atualmente, a plataforma aloja 80 projetos e 250 profissionais. Na Beta-i, 400 profissionais ganharam um emprego com o apoio da incubadora. mas se estas estruturas atuam como facilitadores, em vários domínios, da entrada das empresas no mercado, não é menos verdade que a parte mais relevante do trabalho reside no foco, na visão dos vários empreendedores responsáveis pelo projeto e na sua capacidade para vencer obstáculos e crescer.?
Em três anos de atividade a Talkdesk, de Cristina Fonseca e Tiago Paiva, captou o interesse de Silicon Valley e da várias empresas (entre elas a Google) e angariou 3,15 milhões de dólares (cerca de 2,5 milhões de euros) de investimento junto de investidores internacionais que traduziu na criação de 40 postos de trabalho e que deverá este ano contratar 60 novos profissionais, 30 dos quais em Portugal. A dupla de empreendedores renunciou a um emprego seguro para criar o seu próprio projeto e Cristina Fonseca realça que o maior desafio é o mesmo do que na fase de arranque: “termos recursos humanos altamente qualificados para fazer face aos desafios constantes com que nos deparamos”. Tanto mais que para Cristina Fonseca, “o talento é a coisa mais importante numa startup e os recursos humanos são as fundações de qualquer ideia, projeto ou processo de execução de um plano”.?
Um foco que é comum ao líder da Zaask, Luís Martins. O empreendedor realça a relevância do talento não só na fase de desenvolvimento de um projeto, mas sobretudo no seu arranque. “Acima de tudo procuramos pessoas com a atitude certa”, explica confessando que atitude é, por vezes, mais importante até dos que os skills técnico cuja ausência pode ser compensada com formação. “Para nós o talento é muito importante, mas consideramos que ter pessoas com várias competências é mais importante no início de qualquer empresa e que há medida que se amadurece o negócio, se deve então optar por especialistas em cada área”, revela. Em pleno processo de expansão para novos mercados, a Zaask recruta preferencialmente gestores de profissionais e perfis para apoio ao cliente. Perfis vitais para alcançar um dos propósitos da empresa: proporcionar uma boa experiência de atendimento aos clientes. ?
Encontrar no mercado as pessoas certas para o impulso inicial de uma empresa nem sempre é fácil. A fundadora da Talkdesk realça a dificuldade que por vezes é contratar em Portugal perfis com o espírito startup e o talento técnico necessário. Miguel Santo Amaro, o líder da Uniplaces está em sintonia com a empreendedora. Para operacionalizar a plataforma de arrendamento académico em Portugal e nas demais geografias onde já atua, reuniu uma equipa de 15 pessoas, escolhidas a dedo. Hoje são 75 os elementos da sua equipa e estão previstas para este ano novas contratações nas áreas do marketing digital, engenharia, vendas e apoio ao cliente. Uma das grandes alegrias de Miguel Santo Amaro foi “ter conseguido atrair talento português que estava no estrangeiro a trabalhar e que aproveitou a oportunidade de poder voltar a Portugal, trazendo uma visão internacional e muito experiente”.
Na Uniplaces trabalham também alguns estrangeiros que, realça o empreendedor, “decidiram mudar-se para Lisboa e estão a adorar a experiência”. Conquistas que não são irrelevantes tendo em conta o contexto de austeridade em que foi criada a empresa e aquele que tem sido o cenário do emprego nacional. Miguel Santo Amaro reconhece que o talento é o órgão vital de qualquer empresa recém-criada e não importa se se trata de talento junior ou sénior. Importante é criar emprego e procurar no mercado quem pode fazer a diferença na consolidação do negócio.