Portugal detém hoje algumas das mais modernas unidades fabris do mundo no sector do calçado, exportando não só tecnologia como produto a nível global. Fortunato Frederico, presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS) fala numa reinvenção do sector que hoje compete ao nível da qualidade, inovação e qualificação.
“Os profissionais não qualificados, que no passado estavam em maioria, correspondem hoje a uma pequena parcela do sector”, enfatiza o presidente realçando que esta aposta na qualificação, que representa assumidamente um desafio em matéria de formação e recrutamento, está a permitir ao sector trilhar o seu caminho de modo a tornar-se aliciante para os jovens.?Segundo a APICCAPS, o sector nacional do calçado emprega atualmente 41 mil profissionais, mil dos quais recrutados durante 2014. Uma dinâmica que surge acompanhada por uma nova estratégia de expansão das empresas, agora mais voltadas para o interior do país e não para os concelhos onde tradicionalmente se desenvolvia a atividade do sector, como Felgueiras ou Guimarães, onde a dificuldade em encontrar mão de obra especializada é há muito uma realidade. Fortunato Frederico garante que “várias empresas do sector têm projetos a longo prazo para o investimento no interior do país, em Paredes de Coura, Celorico de Basto, Cabeceiras de Basto, Pinhel ou Castelo de Paiva”, o que leva o presidente a antever “o aumento sustentado do número de empregos a criar nos próximos anos”.?
Com a indústria portuguesa de calçado a posicionar-se como uma das grandes exportadoras a nível mundial (nos últimos anos as exportações cresceram mais de 54% do sector), colocando em mercados internacionais mais de 95% da sua produção - “Portugal exporta hoje 90 milhões de pares de calçado, no valor total de 1900 milhões de euros para 150 países nos cinco continentes” -, e ainda sem contas fechadas para o ano inteiro, o líder da APICCAPS diz estar identificada pelas empresas do sector a necessidade de contratação de pelo menos 600 profissionais nos próximos meses. Um processo de recrutamento que poderá não ser simples, reconhece o presidente. “Há uma dificuldade em encontrar mão-de-obra qualificada, principalmente nas zonas de grande concentração da indústria de calçado, onde praticamente esgotamos a mão-de-obra disponível”, explica citando como exemplo Felgueiras que, “sendo o principal polo produtivo do sector, é o concelho com a mais baixa taxa de desemprego a nível nacional”.
Fortunato Frederico reconhece que um número crescente de empresas têm sido obrigadas a procurar colaboradores em concelhos limítrofes e até novas zonas de investimento geográfico para responder às solicitações do mercado e contornar a carência de profissionais qualificados. ?Segundo o presidente da APICCAPS, “o sector do calçado tem feito o seu caminho de crescimento, no sentido de se tornar um sector aliciante para os jovens“. Uma estratégia que é, de resto, uma das grandes prioridades até 2020. “Queremos conseguir captar jovens para o sector, não só para as áreas da produção como também para outras mais nobres como a logística, design, área comercial ou de marketing”, explica acrescentando que “a indústria do calçado está a criar oportunidades de carreira bem interessantes que carecem de ser aproveitadas pelos mais jovens”. As intenções de investimento em território nacional de empresas como a Ferreira e Avelar, Centenário, Macosmi, Abreu e Abreu, Kyaia, Carité, Ecco, demonstram-no. “Já foram criados mais de 900 postos de trabalho”, garante o presidente que assegura que mais estão previstos.