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Burocracia atrasa biocombustível

O investimento para abrir uma fábrica em Idanha-a-Nova que iria transformar cana-de-açúcar em biocombustível e bioetanol poderá estar em risco. A excessiva burocracia, que arrasta o processo de licenciamento há mais de um ano, pode levar a Global Green a desistir do projecto que previa criar cerca de 300 postos de trabalho e absorver a produção de umas centenas de pequenos agricultores da Beira Interior
18.01.2008


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Marisa Antunes
O tabaco está definitivamente fora de moda. Muito antes das deliberações da União Europeia determinarem o fim da ditadura tabágica sobre os fumadores passivos, já os cordões da bolsa comunitária se tinham fechado para quem cultivava as folhas do vício. Em Portugal, para muitos dos pequenos e médios agricultores, a grande maioria instalada na região da Beira Interior, a possibilidade de reconverter a condenada cultura numa outra que seja ética e ambientalmente correcta surgiu através de uma proposta da Global Green, uma plataforma internacional que concentra capitais europeus e indianos.

A empresa garantiu ter a solução para boa parte deste universo de antigos produtores de tabaco, que ronda os 400 agricultores. A reconversão do tabaco em cana-de-açúcar era o desafio lançado pela empresa, que se propunha absorver toda a produção nacional de cana depois de abrir uma fábrica a instalar em Idanha-a-Nova. Porém, o investimento em Portugal poderá estar em risco, devido à excessiva burocracia que até agora tem impedido a instalação da unidade fabril.

“Queremos lançar um projecto inovador, inédito em Portugal e que assenta na produção de biocombustível e de bioenergia através da cana-de açúcar. O objectivo é abrir até ao final do Verão deste ano uma fábrica em Idanha-a-Nova que vai criar cerca de 250 postos de trabalho directos. Paralelamente, queremos instalar um centro de inovação tecnológica para a área de investigação das energias renováveis, que implicaria a criação de mais 80 postos de trabalho altamente qualificados”, resume um dos responsáveis pelo projecto, Ashok Hansraj.

Mas existe um senão: conforme explica o responsável, a demora para o licenciamento industrial por parte da máquina estatal poderá pôr em causa o investimento, de 140 milhões de euros, que os investidores estão dispostos a fazer em Portugal. “Queremos avançar com a abertura da fábrica no final deste Verão, mas esta indefinição poderá pôr em causa a colheita de cana-de-açúcar deste ano. Precisamos muito de uma resposta até ao final de Fevereiro”.

A avaliação do processo de licenciamento industrial envolve os ministérios da Economia e Inovação, Ambiente e Agricultura, bem como a Direcção-Geral de Energia e Geologia, uma vez que se trata de uma licença específica para a geração de energia de agro-biomassa. Um processo que já dura há mais de um ano. O ExpressoEmprego contactou a assessoria de imprensa do Ministério da Agricultura, que apenas adiantou que o processo “continua ainda a decorrer nos seus trâmites normais”.

O atraso, no entanto, poderá levar a Global Green a desistir do projecto e a avançar para outros opções já colocadas em cima da mesa, como a Roménia ou mesmo os Estados Unidos, cujas autoridades, segundo Ashok, já se manifestaram favoráveis a replicar este projecto.

Mas, por enquanto, este cenário continua em «stand-by»: “Seria mau para a economia portuguesa, para a indústria e para os agricultores portugueses. E para a balança de exportações. Ainda antes de começar a laborar, a fábrica já tem o triplo das encomendas do que a capacidade que eventualmente terá instalada em Portugal”.

Se tudo correr bem, a fábrica de Idanha-a-Nova produzirá, na sua capacidade plena, cerca de 250 mil litros de biocombustível por dia, abrangendo idealmente a área de produção da cana cerca de 8000 hectares.

Os planos da Global Green prevêem o escoamento da sua produção para a indústria cervejeira do mercado europeu, mas a transformação da cana-de-açúcar tem hoje uma aplicação diversificada que vai da energia eléctrica aos combustíveis, passando pelas fibras, alimentos, bebidas e indústria farmacêutica.

A Global Green, em parceria com a Escola Superior Agrária de Castelo Branco e a consultoria do reputado Giuliano Grassi, secretário geral da EUBIA – European Biomass Industry Association, tem-se esforçado por potenciar a rentabilidade da cana-de-açúcar produzida em solo nacional, que foi já cultivada numa pequena área para experimentação. Segundo Ashok Hansraj, a cana-de-açúcar consegue o dobro da rentabilidade de qualquer outra planta energética e ocupa apenas um terço da área por hectare que o milho, por exemplo, necessitaria.





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