O fenómeno da emigração portuguesa para o Brasil estagnou na década de 60, mas fruto do crescente dinamismo económico daquele país, são cada vez mais os portugueses que encontram no Brasil a porta de entrada certa para a internacionalização da carreira, que é cada vez mais um fator de enriquecimento curricular. E não se pense que esta nova vaga de emigração é composta apenas por profissionais em situação de desemprego, com baixas qualificações, que encontram no país irmão uma forma de fugir à escalada do desemprego nacional. Há muito que este não é o perfil predominante e também não é aquele que as empresas brasileiras procuram.
O Brasil tornou-se nos últimos anos uma economia em expansão e com um fortíssimo potencial de crescimento para os próximos anos, mas atravessa um momento de desequilíbrio. Por um lado está em comprovado crescimento, os salários não param de crescer, mas por outro tem uma abissal falta de mão de obra qualificada, que não deverá conseguir suprir a curto prazo. Uma realidade que se traduz numa clara vantagem para os portugueses que quiserem atravessar o Atlântico e investir numa carreira em terras brasileiras.
Entre as áreas que mais oportunidades estão a gerar no país destacam-se os engenheiros e os arquitetos. Anualmente, o Brasil forma 32 mil engenheiros e necessitaria de, pelo menos, 60 mil para suprir as suas necessidades. Não é por isso de estranhar que os dados do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia apontem para a existência de cerca de 1500 engenheiros portugueses a trabalhar naquele país. E para o Conselho Nacional da Indústria Brasileira, o país pode receber ainda muitos mais. É segundo um relatório que divulgou recentemente, em 2012 o Brasil terá um défice de 150 mil engenheiros. Um número para o qual estará a contribuir a dinâmica do setor da construção, alcançada com a criação das infraestruturas necessárias para o Mundial de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
De uma forma global, o Governo brasileiro estima que até 2020 no país - que é considerado uma das quatro economias emergentes - seja criados 3 milhões de novos postos de trabalho, só no sector do turismo. Mas o Brasil precisa também de profissionais nas áreas da gestão, saúde, farmácia, clínica geral, comunicação e profissões técnicas.
Álvaro Fernandéz, managing director da Michael Page Portugal que recruta para o mercado brasileiro, explica que “a procura de profissionais portugueses por parte das empresas brasileiras tem-se acentuado em todos os setores, com especial incidência no grande consumo/retalho, indústria e construção”. Segundo o especialista, os perfis mais procurados são ao nível das funções de middle e top management, ou seja, “profissionais com vasta experiência profissional que vão ocupar funções-chave nas organizações que integram. Falo de altos diretivos, perfis técnicos de engenharia, financeiros ou consultores”.
O diretor da Michael Page enfatiza a ideia de que as necessidades do Brasil, em matéria de recrutamento, são de quadros e perfis técnicos e não de indiferenciados.
Também para Pedro Amorim, principal da Hays Executive, “os perfis técnicos são aqueles que têm vindo a registar maior procura, mais particularmente o sector da engenharia, no qual existe uma forte procura de perfis em Portugal, não só pelo elevado número de projetos que o país tem em curso, mas também pelo déficit de mão-de-obra qualificada que tem”. O especialista da Hays reconhece que o Brasil é neste momento um destino muito apetecível para trabalhar pelo facto de estar em franco crescimento e adianta que “os recrutamentos estão, maioritariamente, a ser realizados para grupos económicos portugueses que já operam naquele país”.
Mas nem todos os profissionais têm perfil para trabalhar além-fronteiras. No caso do Brasil, a língua facilita a adaptação, mas convém não esquecer que o país tem formas muito próprias de trabalhar. Os profissionais portugueses estão bem vistos naquele mercado, em muito devido ao forte incremento que realizámos em matéria de qualificação, mas o mercado de trabalho brasileiro é altamente competitivo, mesmo dentro das empresas. Quem aceitar o desafio deverá estar preparado para encontrar um país onde a rotatividade de quadros é grande, onde os profissionais investem forte na sua qualificação para se posicionarem no mercado e onde a competição entre colegas, faz muitas vítimas.
Dicas
A primeira regra para quem pensa rumar ao Brasil para trabalhar é analisar até à exaustão a oferta que está receber. Não só para perceber se a empresa que o quer contratar é fidedigna e cumpridora das suas obrigações enquanto empregador, mas também para aferir se, em termos comparativos, a oferta compensa. A sua avaliação nunca deverá ser feita em função das condições que têm em Portugal, mas sim das práticas comuns da cidade de destino e do seu custo de vida. O custo de vida em São Paulo é muito diferente do de Lisboa ou Curitiba. E se a sua família o acompanhar na viagem, há custos aos quais não pode fugir como escolas privadas para os seus filhos e bons seguros de saúde.
Igualmente importante é conhecer os hábitos laborais da cidade destino, a sua cultura e das dificuldades iniciais com que se pode deparar. Apesar de ser um país irmão, com a vantagem imensa de uma proximidade linguística, o povo brasileiro é extremamente competitivo e protege a sua pátria. O Brasil tem uma comprovada falta de quadros qualificados e valoriza os bons profissionais, mas adepto da mudança. Neste país, as pessoas ficam menos tempo em cada lugar do que em Portugal, investem constantemente na formação para se diferenciarem e há muita competição entre colegas. A questão das distâncias é outro fator que deve considerar. Ao contrário de Portugal, o Brasil é um país enorme e nem sempre as coisas estão tão próximas como poderíamos esperar. Tenha isto em mente, nomeadamente, na altura de encontrar uma casa para morar.
Obrigações Legais À semelhança do que acontece com qualquer viagem, uma mudança profissional tem de ser preparada com relativa antecedência. Fazer carreira no Brasil não é um processo burocraticamente complicado, mas exige algumas deslocações e tempo de espera. Aconselham os especialistas: é importante preparar tudo até ao mínimo detalhe, de modo a evitar surpresas desagradáveis e avaliar bem a origem da oferta profissional que está prestes a aceitar.
Em termos legais, tudo o que você precisa para trabalhar do outro lado do Atlântico é um visto. Mas para consegui-lo você já tem de ter um contrato de trabalho firmado com uma empresa brasileira, de outro modo será apenas um turista naquele país. Por isso, se tem em mente rumar ao Brasil para testar a sua sorte, saiba que a partir do momento em que assina o seu contrato e até conseguir um visto de trabalho, poderá ter de esperar cerca de quatro meses. Mas diz quem já passou pelo processo que não é nada de muito complicado. Carece apenas do acordo formal com a empresa.
Para conseguir este visto terá de apresentar os seus dados, a cópia do seu registo criminal, entre outros elementos, e realizar alguns exames médicos de rotina. Depois, estará legalmente habilitado a fazer carreira neste país.