Maribela Freitas
EM PORTUGAL a investigação científica
tem ainda um longo caminho a percorrer e muito do trabalho realizado nesta
área é feito através dos bolseiros que anualmente
se envolvem no trabalho de investigar.
A Associação dos Bolseiros de Investigação
Científica (ABIC) nasceu, em Fevereiro deste ano, com o objectivo
de dinamizar esforços para melhorar o estatuto dos bolseiros, contribuindo
para o reconhecimento e dignificação destes trabalhadores.
Na sua actividade, a ABIC tem como objectivos representar os bolseiros
de investigação científica, defender os seus interesses,
participar em todas as questões que interessem aos seus membros
(designadamente na elaboração da política científica
nacional), bem como defender e estimular a actividade científica
no país.
"Uma das nossas primeiras acções passa por fazer
um levantamento dos bolseiros de investigação científica
que existem a trabalhar em Portugal", explica Nuno Castro, membro
da direcção da ABIC.
Este universo é vasto e não é conhecido na sua totalidade.
"Este é um trabalho moroso. Estamos a contactar a Fundação
para a Ciência e Tecnologia (FCT) e diversas instituições
da área da investigação, para saber com rigor o número
de bolseiros de investigação científica a laborar
no país, bem como as suas condições de trabalho",
refere Nuno Castro.
A ABIC, na sua moção orientadora, refere que "os
cerca de quatro mil bolseiros da FCT, a juntar aos bolseiros de outras
entidades e à enorme massa de bolseiros afectos a projectos de
investigação, asseguram, no seu conjunto, actividades que
vão da investigação científica ao desenvolvimento
experimental e tecnológico, à docência e à
prestação de serviços de vária ordem que requerem
uma mão-de-obra qualificada do ponto de vista científico
e técnico".
A ABIC defende uma política que garanta a utilidade dos investigadores
Para além de querer realizar o rastreio dos bolseiros, a ABIC tem
outros objectivos de luta e um deles passa por continuar a campanha para
a alteração do Estatuto do Bolseiro de Investigação
Científica.
Para esta associação, o crescimento da produção
científica nacional tem sido feito com o contributo destes bolseiros.
Contudo, considera que estes têm um estatuto que dignifica muito
pouco a sua actividade, não lhes reconhece o trabalho que realizam
e nega-lhes direitos básicos.
A ABIC quer assim um novo estatuto para estes trabalhadores que, entre
outros aspectos, lhes dê por exemplo direito ao subsídio
de desemprego e que haja fiscalização para que não
sejam utilizados bolseiros para assegurar necessidades permanentes de
trabalho, sem serem integrados nos quadros dessas instituições.
No fundo, é "ver consignados mais direitos e combater algumas
injustiças", explica Nuno Castro.
Outro dos problemas que preocupam a ABIC é a falta notória
de emprego científico em Portugal e a inserção profissional
dos bolseiros. Por isso, considera urgente a adopção de
medidas que promovam a criação de emprego científico,
tanto no sector público como no privado.
"Não existe uma política de inserção
profissional dos bolseiros em Portugal. O Estado tem de assegurar condições
profissionais para garantir a investigação científica,
o que é útil para o desenvolvimento do país",
refere Nuno Castro.
E acrescenta: "Muitos jovens investigadores vivem de bolsas e
com a diminuição registada recentemente na sua atribuição,
muitos irão para o desemprego. Com esta atitude, estamos a hipotecar
o futuro".