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Até amanhã Portugal

O tempo passa mas o problema fica: Portugal não consegue estancar a saída de gente para fora do país
24.06.2005


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Fernanda Pedro

AOS 31 ANOS, Filipe Gil decidiu que iria mudar a sua vida. Mesmo com emprego em Portugal, trabalhar e viver no estrangeiro sempre o atraiu, sobretudo na Holanda, um país que conheceu em 1996 e pelo qual ficou apaixonado. Assim, quando a mulher foi tirar um mestrado em arquitectura naquele país, Filipe não hesitou, iria acompanhá-la e tentar a sua sorte além-fronteiras.


Na bagagem levava uma licenciatura em Ciências da Comunicação e uma experiência na área do jornalismo e relações públicas. A adaptação a um país diferente não foi muito difícil, «a língua é que foi uma barreira, por ser muito difícil de aprender, mas, por outro lado toda a gente fala inglês e eu tirei um curso rápido de holandês», explica. Filipe Gil considera mesmo que o facto de se ter um conhecimento de línguas e um curso universitário é fundamental para conseguir mais oportunidades de trabalho fora do país.

Uma prova disso é que Filipe, depois de algum tempo de procura, conseguiu um trabalho como editor de canais em língua portuguesa na TV DATA, que pertence ao grupo norte-americano Tribune. Filipe Gil é um caso, entre muitos, de portugueses que saem em busca de novas oportunidades de trabalho, cuja mais-valia que levam consigo é a sua formação.

António Braga, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, refere que, dado ser um fenómeno novo e recente, não há ainda dados objectivos para avaliar e caracterizar com exactidão o perfil social, académico e profissional dos jovens quadros superiores que hoje procuram oportunidades profissionais no estrangeiro. «Uma coisa parece segura neste fenómeno migratório: é algo substancialmente diferente do que ocorreu nos anos 60, quer pelas motivações quer pelo enquadramento social no país de acolhimento», explica o secretário de Estado.

Mesmo não tendo as características e o volume de outros tempo, a emigração portuguesa apresenta ainda valores consideráveis. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), hoje a emigração é fundamentalmente de carácter temporário (inferior a uma estada que pode ir até um ano fora do país), com destino à Europa, originada por indivíduos na idade activa jovem e com o ensino básico.

De acordo com dados do inquérito aos movimentos migratórios de saída do INE, em 2003 emigraram de Portugal 27.008 indivíduos, valor próximo ao verificado em 2002, ano em que saíram do país 27.358 pessoas. Em 2003, a emigração temporária representou 75,2% e a permanente 24,8%. Ainda nesse ano emigraram mais homens (76,3%) do que mulheres (23,7%). A diferença entre sexos é bastante superior na emigração temporária, uma vez que na permanente os valores são relativamente próximos, 51,1% de homens e 48,9% de mulheres.

A França foi o país que recebeu mais portugueses em 2003 (7.399), seguindo-se a Suíça (4.785) e em terceiro o Reino Unido (3.893). A Alemanha, a Espanha e o Luxemburgo ocupam os lugares seguintes. A Europa concentrou 93,5% do total da emigração, valor que em 2002 era de 81,3%. Dos indivíduos que emigraram em 2003 a maior parte (77,4%) possuía o ensino básico, dos quais 34,9% o 1.º ciclo e 42,5% o 2.º ou 3.º ciclo. O ensino superior representava 9%.

Na opinião de Domingos Cairo, docente da Universidade Aberta e investigador nesta ¤área, emigrar constitui sempre um corte mais ou menos doloroso com uma dada comunidade e é nas camadas mais jovens da população que se concentra a maior parte dos emigrantes. «Embora possa não parecer, devido à mobilidade de alguns quadros, a maioria são ainda pessoas de nível cultural baixo, quase sempre ligados a profissões menos qualificadas, como a construção civil, desempregados da restauração, serviços de pouca qualificação», explica.

Acrescenta ainda que, aqueles que saem, «em Portugal desempenhavam actividades profissionais pouco ou nada qualificadas e, no estrangeiro, a sua situação é a mesma, apenas recebem eventualmente remunerações mais elevadas». A procura de remunerações mais elevadas é também o que leva muitos estrangeiros a procurarem o nosso país.

Em 2003, segundo dados do INE, baseados em informação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, a população estrangeira com estatuto legal de residente em Portugal aumentou, mas a ritmo ligeiramente inferior ao verificado nos anos anteriores. Em 31 de Dezembro de 2003, residiam legalmente em Portugal 250.697 cidadãos de nacionalidade estrangeira, valor superior ao registado em 2002 (238.944), e que corresponde a uma variação de 4,2%.

De acordo com o padre António Vaz Pinto, alto comissário para a imigração e minorias étnicas, «a imigração está mais estabilizada», realçando que em 2004, das 8500 vagas para legalizar imigrantes, só perto de mil foram preenchidas. Mas, segundo o mesmo responsável, o problema é contabilizar a imigração ilegal. Cabo Verde, Ucrânia e Brasil são os principais países emissores de mão-de-obra para Portugal.

Segundo Vaz Pinto, a construção civil, a agricultura, os serviços, a restauração e o comércio são os sectores que mais absorvem os imigrantes. Mas na sua opinião, os estrangeiros não vêm tirar os empregos aos portugueses. «Geralmente, os imigrantes vêm trabalhar para os lugares que os portugueses não querem», remata o responsável.





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