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Anjos que investem

O financiamento é um dos principais entraves para qualquer empreendedor que aspira criar a sua empresa. por cá, a cultura do capital de risco ainda tem um longo caminho a percorrer, mas pode ser uma boa opção. Porém, conquistar um anjo para o seu negócio exige alguma arte.
24.08.2007


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Cátia Mateus
Outubro pode ser um mês de oportunidades para os empreendedores nacionais que procuram apenas um ‘empurrão' financeiro para tornar real o seu projecto empresarial. Esta é a função do ‘Easy Investment Forum' — apadrinhado em Portugal pela Gesventure e pela Federação Nacional de Associações de Business Angels —, cujo objectivo é facilitar o investimento transfronteiriço na Europa. O evento tem escala marcada em Cascais nos dias 11 e 12. São esperados cerca de 200 empreendedores e investidores europeus, que irão ajudar a fomentar no país a, ainda tímida, cultura do capital de risco.

Não é novidade que muitos empreendedores se queixam da ausência de uma cultura de capital de risco em Portugal. Mas a verdade é que, ao longo dos últimos anos, o capital de risco tem vindo a ganhar terreno no plano nacional e vários são os projectos que puderam beneficiar de apoios efectivos.

O facto de recentemente os «business angels» passarem a merecer consagração no ordenamento jurídico nacional, através da criação da figura do Investidor em Capital de Risco, espelha a importância económica que estes financiadores podem vir a ter em matéria de criação de empresas e traduz uma clara intenção governativa de dinamizar a sua actuação e reforçar a sua presença no panorama empresarial nacional.

Mas quem são afinal estes investidores consagrados na lei e que negócios estão na sua mira? À luz da lei, os investidores de capital de risco são pessoas singulares que devem constituir de modo formal uma sociedade unipessoal por quotas , que permitirá fazer a distinção entre o património do investidor e o que será afecto ao capital de risco. Uma determinação em prole da transparência num diploma que para o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, “tem como objectivo introduzir um maior dinamismo à capacidade de sustentar investimentos e identificar projectos inovadores com recurso ao capital de risco”.

E a inovação está de facto na mira destes investidores que privilegiam áreas onde a tecnologia é uma componente, mas sem restringirem os seus investimentos apenas a este segmento. Para Francisco Banha, líder da Gesventure, uma empresa especializada na angariação de capital de risco para projectos de elevado potencial de crescimento e membro do Business Angels Club, “os investidores querem sobretudo projectos com potencial de rápido crescimento e valorização, que lhes permitam obter uma mais-valia interessante ao fim de dois a três anos”.

Além deste factor, as potencialidades do projecto de atingir mercados internacionais são também um trunfo muito forte na altura de abordar um investidor e tentar convencê-lo a apadrinhar o seu negócio. Em matéria de áreas específicas de investimento, Francisco Banha reconhece que “estamos a atravessar um momento crítico, pela transição da economia industrial para a ‘economia do conhecimento', e é normal esperarem-se mudanças radicais nos negócios e na sociedade que permitem antever a existência de oportunidades em todos os sectores de actividade”. Razão pela qual o especialista enfatiza que “os «business angels» em Portugal e noutros países estão atentos a todas as oportunidades, assentes na gestão baseada no conhecimento, independentemente das áreas de actividade”.

Francisco Banha reconhece, contudo, que “é comum que este tipo de investidores estejam mais atentos a negócios que recorram à inovação e adopção de novas tecnologias, dado que permitem a obtenção de ganhos mais acentuados do que os proporcionados por negócios que se encontrem em sectores tradicionais, onde, por vezes, ter crescimentos do volume de negócios de 5% já é um excelente indicador, mas de modo algum satisfaz um «business angel»”.

«Software», turismo, energias renováveis, biotecnologia, nanotecnologia e serviços às empresas são algumas das áreas em que estes ‘anjos' mais têm investido em Portugal. Muito embora o líder da Gesventure frise que “os investidores andam à procura de negócios com receitas e clientes e não apenas tecnologia. Ou seja, negócios a sério e não apenas 20 engenheiros com uma ideia incrível”. Ter um projecto empresarial ou uma ideia elegível às exigências e ao «target» destes «business angels» não basta.

O segredo do sucesso para conquistar um investidor passa por outros factores e necessita de muita organização e de um plano bem estruturado (ver caixa), que assegure que você não vai desperdiçar aquela que pode ser a oportunidade da sua vida. Segundo Francisco Banha, há várias formas de captar o interesse de um «business angel». “Possuir um projecto que ambicione a liderança num determinado segmento de mercado através de uma solução que permita mudar os hábitos dos clientes” pode ser uma delas, segundo o especialista. Mas não chega! “É necessário que o empreendedor demonstre ter as competências — tecnologia, relacionamento com os clientes, acesso e agilidade de âmbito global, capital intelectual — necessárias para conseguir que a ideia possibilite uma razoável velocidade de chegada ao mercado”, explica.

Além disso, convém que a ideia não esteja avançada demais em relação ao mercado e detenha uma equipa que se comprometa com a obtenção de resultados e o cumprimento de metas constantes. Além de tudo isto, a palavra-chave é também ‘Plano de negócios'. Segundo a Ernest & Young, cerca de dois terços dos planos de negócios são eliminados pelos investidores em cinco minutos e apenas 1/5 conduzem a uma primeira reunião com o potencial «business angel». Face a esta estatística, Francisco Banha defende que “o empreendedor deve apresentar-se perante o investidor com um plano de negócios actuante, algo que seja actualizado, modificado e acelerado e não um documento estático destinado a impressionar pontualmente e tendo em vista a obtenção imediata do dinheiro pretendido”.

É, por isso, essencial que o plano apresente e especifique metas tangíveis, responsabilidades claras e cronogramas explícitos através de uma concepção que privilegie a flexibilidade na eventual adopção de vários cenários possíveis. E como o mundo dos negócios é feito de pessoas, aqui vale muito a empatia que o empreendedor consiga causar no investidor. Jamais um empreendedor se deve apresentar perante o investidor sem fazer muito bem o ‘trabalho de casa'. Empenho, realismo, preparação, mas acima de tudo consciência do valor e da força do seu projecto, são factores determinantes na presença de um investidor. Até porque “a falta de entusiasmo do empreendedor é o beijo da morte no processo de angariação de capital junto dos «business angels»”. conclui Francisco Banha.

Dicas de 'conquista'

O processo de conquista de um «business angel» compreende várias etapas e exige uma preparação exaustiva por parte do empreendedor. Tome nota de alguns passos que podem ajudá-lo, mas não esqueça que nenhum caminho é rígido.

1º passo: Aproxime-se do investidor Pode contactar a Associação Portuguesa de Business Angels através do site www.apba.pt ou dirigir-se aos clubes de «business angels» locais, onde pode deixar uma descrição sumária do seu projecto para apreciação. Este primeiro contacto é sempre informal.
2º passo: A triagem A associação vai fazer uma primeira avaliação aos projectos candidatos a investimento. Se o seu projecto for seleccionado nesta primeira triagem, ser-lhe-ão pedidos mais dados e, eventualmente, uma apresentação presencial.
3º passo: A selecção Da fase anterior a associação vai seleccionar os melhores projectos e os que apresentam maior potencial. É de seguida agendada uma apresentação formal a um conjunto de potenciais investidores com interesse na área de negócio em questão. Deverá preparar-se bem para esta apresentação e dar particular destaque aos números e potencialidades de expansão do negócio.
4º passo: A negociação A associação cede lugar ao investidor propriamente dito e o empreendedor prossegue toda a negociação com ele. Esta é a fase de discutir o capital, o projecto e o valor que se espera que consiga gerar. A avaliação do investidor tem em conta o «cash flow» esperado, o grau de diferenciação do projecto face a outros concorrentes, entre outros factores
5º passo: O empreendedor Nessa avaliação, o investidor nunca deixa de lado o potencial do empreendedor que vai liderar o projecto. Afinal, ele terá também nas mãos o seu capital. Daí ser fundamental que, durante todo o processo, o empreendedor consiga transmitir a sua fé no projecto, a sua capacidade de resistência e aptidão para ultrapassar dificuldades e obstáculos.





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