Marisa Antunes
O agudizar da crise e a escassez de ofertas para o mercado de trabalho nacional está a levar cada vez mais desempregados — ou empregados mal pagos — a arrumarem as malas e a partirem para a Angola em busca de melhores oportunidades profissionais. Com o ano lectivo a finalizar nas universidades espera-se uma grande avalanche de candidaturas, mas ainda assim, existem muitas vagas disponíveis, principalmente as que requerem experiência profissional. Mais experiência rima com idade, e a idade com laços familiares e filhos pequenos que não se encaixam em relações à distância.
“Neste momento e dentro do nosso universo, até temos conhecimento de mais oportunidades de trabalho em Angola do que profissionais que possam ou queiram ir”, adianta Anabela Ventura, administradora da DBM Portugal, empresa-líder de outplacement , que trabalha directamente com empresas que, por diversos motivos (fusões, aquisições, deslocalizações, encerramentos ou desajustes), acabam por rescindir com os seus colaboradores, oferecendo-lhes apoio profissional na sua reinserção no mercado de trabalho.
A DBM ajuda na recolocação destes profissionais fazendo muitas vezes a ponte com as ofertas disponíveis de trabalho, junto dos seus parceiros que actuam no mercado de recrutamento.
“Pedem-nos economistas, engenheiros, gestores, advogados para empresas de consultoria, banca e departamentos jurídicos de multinacionais e ainda psicólogos para as áreas de Recursos Humanos das empresas que estão em franco crescimento”, resume a responsável da DBM.
João Costa, director-geral da Jobfair Global Search Associates, empresa especializada no recrutamento de candidatos dos e para os PALOP, lembra que desde o início deste ano se notou um acréscimo substancial de candidaturas de profissionais portugueses com ou sem vínculo a África.
No ano passado, das quase 400 pessoas colocadas nestes países, cerca de 85% eram jovens oriundos dos PALOP a estudar em Portugal e os restantes 15% licenciados portugueses.
“Mas nos primeiros meses deste ano tivemos um crescimento de quase 40% nos candidatos nacionais ou com dupla nacionalidade”, aponta João Costa, lembrando que a banca, petrolíferas, telecomunicações e a construção são os sectores que mais recrutam. “São grandes empresas nacionais que se encontram representadas no PSI-20 e ainda multinacionais de todo o mundo com negócios em Angola, que sabem que aqui arranjamos candidatos qualificados que falam português”, realça o responsável da Jobfair. E cada vez recrutam mais: “São empresas que já lá estão há algum tempo, tinham equipas pequenas mas que entretanto necessitam de ser reforçadas”.
Mulheres também vão
As candidaturas dos recém-licenciados são numerosas e vêm de todas as universidades do país. João Costa dá um exemplo recente de um processo de selecção para uma multinacional petrolífera: “Precisavam de dois engenheiros civis e três engenheiros de máquinas. Recebemos cerca de 2000 candidaturas, muitas delas vindas de licenciados da Nova, do Técnico ou da Católica, que habitualmente não têm grandes problemas de colocação no mercado nacional”. Outro pormenor a destacar nas novas tendências: “Há cada vez mais mulheres a candidatarem-se. Actualmente diria que a proporção é de 40% mulheres e 60% homens”.
É que as propostas são, no mínimo, tentadoras e tudo parece mais fácil quando ainda não se constituiu família. Os ordenados rondam os 5000 dólares e para cargos de topo poderão mesmo chegar aos 20 mil.
“A escassez de candidatos no passado que pretendiam abraçar projectos desta natureza fez com que os salários e benefícios fossem superiores aos de Portugal”, confirma Afonso Batista, presidente da Multipessoal, acrescentando, no entanto, “que com o aumento da oferta de candidatos os packages salariais têm vindo a adaptar-se a esta nova realidade”.
Ainda assim, a experiência da Multipessoal indica que em termos salariais se está normalmente a falar de um valor bastante superior ao auferido cá. “É um acréscimo de cerca de 100% na remuneração do candidato para funções idênticas em Portugal. Ao nível dos fringe benefits , o pacote na maioria dos casos inclui casa, que é o benefício que tem mais procura, carro, uma a duas viagens por ano a Portugal, sendo que as mesmas podem variar de acordo com os moldes contratuais e renovações dos vistos de trabalho necessárias. Claro que o pacote depende muito em cada caso e é normalmente negociado”, acrescenta o presidente da Multipessoal, empresa do grupo Espírito Santo.
Segundo Afonso Batista, “o fluxo de respostas de candidatos disponíveis para este tipo de projectos tem vindo a aumentar com o agravamento da crise em Portugal, aliado à evolução das condições políticas, económicas e de segurança nestes países que ajudaram a que se tornassem mercados apetecidos pelos candidatos”.
A Multipessoal está a trabalhar activamente no recrutamento de profissionais para os PALOP, tendo criado uma área internacional dedicada a clientes com necessidades de recursos humanos para as suas filiais/empresas no exterior e candidatos com disponibilidade, motivação e perfil para projectos desta natureza. O recrutamento e selecção internacional, é realizado a partir de Lisboa e tem como objectivo identificar o know how não só em Portugal assim como nos mercados onde os clientes estão instalados.