Marisa Antunes
Inovador e contudo milenar, o riso está a ser utilizado um pouco por todo o mundo empresarial como uma poderosa arma de gestão que aumenta a produtividade e diminui o stresse laboral. Em países com culturas tão díspares como a Índia e a Dinamarca, são muitos os executivos que se reúnem logo pela manhã num jardim ou num clube de riso para começar o dia de trabalho da melhor forma: a rir.
O fenómeno já chegou ao Pentágono como forma de minimizar o impacto esmagador provocado pela guerra no Iraque. E também não escapou ao programa da poderosa Oprah Winfrey que convidou vários especialistas para divulgarem o tema.
“Neste momento, leva-se muito a sério o riso do ponto de vista científico e começam a ser provados os benefícios associados à pedagogia do riso nos locais de trabalho, nos hospitais ou nas escolas”, acentua Helena Marujo, professora na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade Clássica de Lisboa, que, através da Izi Palestras, foi uma das oradoras presentes na Feira da Juventude e da Qualificação e Emprego que se realizou na FIL, em Lisboa.
Integrada num programa de Desenvolvimento do Sentido de Humor, da Universidade de Valladolid, a especialista está a implementar em Portugal um conceito que, de tão revolucionário, já permitiu a criação de um Dia Mundial do Riso, a ser celebrado nos cinco continentes no próximo dia 6.
Ter sentido de humor no local de trabalho funciona como um escape, liberta os níveis de stresse, aumenta a produtividade, estimula a criatividade, reforça o espírito de equipa e dinamiza a comunicação não só entre colegas mas também com as chefias. Factores que contribuem para criar um bom ambiente de trabalho, que é um dos critérios mais apreciados pelos trabalhadores, mais até que um salário competitivo, como comprovou o estudo da Chiumento, multinacional britânica de consultoria de recursos humanos.
Comprovado cientificamente por uma equipa coordenada pelo médico americano Lee Berk, da Universidade da Califórnia, o riso permite reforçar o sistema imunitário ao aumentar a hemoglobina e reduzir as hormonas que desencadeiam o stresse e que têm impacto directo no nosso organismo.
Uma boa sequência de gargalhadas faz disparar ainda os níveis de endorfinas, substâncias naturais produzidas pelo cérebro quando fazemos algo de prazeiroso e que funciona com antidepressivo. Está também provado que as endorfinas ajudam a reduzir os níveis de intensidade da dor.
“Mas rir, apesar das vantagens, ainda é culturalmente encarado como algo menos positivo, associado À ideia de ‘muito riso, pouso siso'. E continua a ser pouco aceite que pessoas bem dispostas estejam em lugares de poder. Porém, e apesar dos mitos, já se vai percebendo que as pessoas que riem em conjunto no seu local de trabalho reforçam a capacidade de relação e cumplicidade, diminuindo, por exemplo, a probabilidade de existirem conflitos”, lembra a psicóloga Helena Marujo.
Precursor deste movimento e do Ioga do Riso (que combina o acto de rir, sem um motivo específico, com exercícios de relaxamento e descompressão), o médico indiano Madan Kataria tem percorrido o mundo a divulgar as benesses de algo, que apesar de ser tão natural, se tem vindo a perder, sucumbindo ao ritmo alucinante do dia-a-dia. Como lembra o médico, que já desencadeou o aparecimento de mais de 5000 clubes do riso em cerca de 50 países desde 1998, actualmente, estima-se que em média, um adulto não se ria mais do que cinco minutos por dia, quando há três ou quatro gerações anteriores, esses momentos se prolongavam, pelo menos, a mais de 20 minutos diários. A dar os primeiros passos em Portugal, esta técnica está mais associada a ambientes hospitalares.
Envolvida em programas de formação a técnicos que trabalham na área da intervenção social e comunitária, associados à Santa Casa da Misericórdia, Casa Pia e centros de segurança social, Helena Marujo realça que a pedagogia do humor inserida em contextos de drama e sofrimento é garantia efectiva de benefícios psicológicos. Tal como a sua aplicação nas escolas, numa altura em tanto se fala da indisciplina dos estudantes. “O que aconteceria nas escolas se os professores achassem graça aos alunos que riem ou que utilizam o humor como uma estratégia?”, questiona a especialista.
A importância do humor já chegou também às empresas de selecção e recrutamento. Apesar da ideia instalada entre os candidatos de que se devem manter muito sérios durante as entrevistas, cada vez mais se privilegia uma postura mais bem humorada, pois se considera que é uma garantia humana para um bom ambiente de trabalho.