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Agricultura à moda antiga

Os agricultores biológicos em Portugal não vão além dos dois milhares, mas o mercado tem potencial para crescer se o Governo apostar forte nos apoios e incentivos
07.12.2006


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Marisa Antunes Laranjas com sabor a laranjas, carne fresca livre de antibióticos, azeite verdadeiramente saudável e um sem-número de produtos cultivados e criados à moda antiga, povoam o "mundo maravilhoso" da agricultura biológica que no nosso país vai crescendo, devagar, devagarinho, ao ritmo das bolsas e da mudança de mentalidades. Portugal continua a ser o país europeu com o menor número de agricultores dedicados à produção biológica vegetal e animal e também um dos que menor área agrícola ocupa, em termos relativos, apesar da dimensão das unidades (83 hectares) se situar bem acima da média comunitária (31 hectares).


Ainda que de expressão reduzida (o número destes produtores não chega a 1% do universo total de agricultores), tem, no entanto, vindo a crescer significativamente na última década, passando dos então 349 para os actuais 2163, segundo o Instituto de Desenvolvimento Rural. Números que têm gerado algum emprego em todas as frentes, desde a exploração propriamente dita, passando pela transformação, distribuição e comercialização.

Na Herdade do Freixo do Meio, a três quilómetros de distância de Montemor-o-Novo, a produção reparte-se por mais de duas mil referências. Da carne fresca aos ultra congelados, passando pela charcutaria. Dos hortícolas, que são depois preparados para sopas e saladas, passando pelos frutos silvestres, medronhos, espargos e cogumelos silvestres. Do azeite às farinhas, aos pinhões, arroz e até ao vestuário de lã, multiplicam-se os produtos desta herdade de 7000 ha, que se dedica essencialmente à produção e comercialização.

“Uma parte da transformação é feita exteriormente, em várias empresas de norte a sul do país e até em Espanha. Mas a produção é nossa, e uma vez transformada, regressa para que sejamos nós a comercializá-la com a marca Herdade do Freixo-do-Meio", explica Alfredo Cunhal Sendim, gerente da herdade, do grupo Sousa Cunhal, Investimentos SGPS, SA, que emprega 66 efectivos, além daqueles que é necessário recrutar para o trabalho sazonal das colheitas.

Reconhecidos pelo perú preto (com uma produção de 3000 por ano), a empresa aposta também, de forma significativa, na criação de outros animais: 4000 ovelhas por ano, 500 vacas e 2000 porcos. A esmagadora maioria da produção animal e vegetal é absorvida pelo mercado nacional e apenas 10% é exportada. E o que exportam já e reconhecido: na Holanda, conquistaram este ano o título de campeões da charcutaria biológica, com a linguiça e o painho de lombo.

“Portugal tem condições para produzir agricultura biológica de boa qualidade, não só pelo clima mas também pela estrutura das explorações, que são grandes e permitem modelos de exploração extensivos e pela boa adaptabilidade das raças e variedades ao nosso solo. Apesar de tudo, o mercado continua a ser muito pequeno”, acrescenta o responsável da Sousa Cunhal, Investimentos SGPS, que factura 700 mil euros por ano, não só nas vendas para lojas especializadas mas também nos circuitos de distribuição geral.

A Biocoop, cooperativa de produtos biológicos é um dos clientes da Herdade do Freixo do Meio. A cooperativa vende produtos vegetais e animais, a maior parte dos quais oriundos do mercado nacional, com excepção para os lacticínios. Os produtos apresentam diferenciais de preços entre os 10 e os 30% mais, mas o custo compensa os ganhos na saúde. “Neste momento, temos 2600 famílias aderentes à cooperativa e a procura deste tipo de produtos tem vindo a aumentar cerca de 20% todos os anos, à medida que o nível de informação das pessoas vai também aumentando”, pormenoriza Ângelo Rocha, gerente da Biocoop.

A procura tem vindo, pois, a crescer gradualmente, mas os especialistas acreditam que o mercado teria hipóteses de expandir muito mais, se devidamente apoiado por uma concertada política estratégica de incentivos. “Os consumidores estão a aderir cada vez mais e surgem, em média, 200 operadores no mercado todos os anos, mas de facto não tem havido até agora apoios fortes, e políticas claras da parte do Governo. Já para não falar de preparação e de formação, que é fundamental na agricultura biológica”, realça António Mantas, consultor da Interbio - Associação Interprofissional para a Agricultura Biológica.

Recentemente, o Governo anunciou que vai disponibilizar seis milhões de euros no próximo ano para apoios ao investimento nesta área emergente. Maria Santos, presidente da Interbio, lembra, contudo, que “no programa de desenvolvimento rural — 2007/2013 — não estão ainda perfeitamente estabelecidas as metas governamentais para esta importante fileira”.

“Faz falta uma estratégia nacional para a agricultura biológica que promova e consolide uma actividade económica competitiva, com mais-valias ambientais e de desenvolvimento rural. A questão está em saber se os apoios a lançar para a sustentação destas políticas permitem, efectivamente, uma adesão significativa de novos agricultores. As intenções do Ministério da Agricultura são positivas, todavia, desconhecemos as medidas concretas”, reforça ainda Maria Santos.





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