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Portugal tem que impedir a saída em massa de jovens talentos do país. Saiba como
04.11.2005


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Marisa Antunes


ATRAIR e reter profissionais altamente especializados é a principal prioridade dos executivos das principais empresas americanas e europeias, segundo o estudo mais recente da Accenture, a multinacional de consultoria de gestão e «outsourcing». Mas no nosso país, onde 20% dos licenciados acaba por procurar a sua oportunidade além fronteiras, essa tendência de gestão parece estar longe da prática. Uma tal debandada de cérebros faz com que Portugal seja mesmo o país europeu (de média/grande dimensão) mais afectado por este fenómeno de emigração qualificada, segundo o relatório International Migration, Remittances and the Brain Drain, do Banco Mundial.


Para José Tavares, responsável pela Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico (UCPT), do Ministério da Economia e Inovação, esta saída massiva de licenciados pode ser invertida se «as empresas começarem a reconhecer o mérito dos seus colaboradores ao invés de ficarem fechadas em hierarquias e posicionamentos que nada têm a ver com a produtividade». «É necessário profissionalizar a gestão. Ao nível das PME, por exemplo, constatámos que os empresários que à partida não reconheciam as vantagens de ter empregados especializados na empresa, acabam por mudar a sua opinião quando recorrem a programas como o INOV Jovem. Nestes casos, onde existe uma barreira cultural, justificam-se incentivos por parte do Estado que facilitem a inserção dos licenciados nas empresas», apontou o responsável pela UCPT ao EXPRESSO.

José Tavares fez parte do grupo de emigrantes qualificados quando viveu nos Estados Unidos onde concluiu o mestrado e depois o doutoramento em Harvard. Após dois anos e meio a dar aulas na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, regressou a Portugal. «Sempre tive o desejo de voltar e fazer algo de importante para o país», confidencia.

Também Pedro Oliveira, docente na Universidade Católica sentiu o apelo do regresso após seis anos nos Estados Unidos. O engenheiro naval, licenciado pelo Instituto Superior Técnico e com doutoramento feito na Universidade da Carolina do Norte, foi presidente entre 2000 e 2002 da Portuguese American Post-graduate Society, uma associação que reúne portugueses que se estão a especializar academicamente nos EUA.

Recrutado pela Católica, Pedro Oliveira é o responsável pelo Programa Avançado em Empreendorismo e Gestão da Inovação, tendo ainda coordenado a 1ª edição do concurso de Ideias para Negócios para jovens talentos organizado pela Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Católica.

«Há muitos profissionais em Portugal com excelentes projectos que precisam de um empurrão para a comercialização das suas ideias. Mas existe um total divórcio entre as empresas e as faculdades», sublinha o docente.

Para Pedro Oliveira, o ponto de partida para travar a fuga de cérebros, passa por uma maior aposta em «trazer mais gente para a ciência e em desenvolver novos produtos». «Mas as empresas estão obcecadas com o lucro a curto prazo e as faculdades não se empenham o suficiente para arranjar soluções práticas para os problemas», conclui.

A Portugal Telecom (PT) é uma empresa que foge à regra e aposta forte nos jovens talentos, recrutando anualmente para os seus quadros entre 200 a 250 licenciados das melhores universidades do país. O modelo integrado de gestão de recursos humanos aplicado na empresa inclui um pacote extenso de incentivos laborais.

«Um aspecto importante é a remuneração variável assente em bónus de ‘performance‘ com base na definição de objectivos e avaliação de competências. Mas os inquéritos internos que aqui fazemos revelam que cada vez mais os nossos empregados valorizam outro tipo de factores», explica Luís de Moura, responsável dos recursos humanos para o grupo PT.

Um ambiente de trabalho, «propício para desenvolver o potencial dos profissionais, integrados em equipas com projectos» ou a oportunidade de fazer uma pós-graduação suportada pela empresa - «financiamos anualmente cerca de 30 MBA ou pós-graduações em Portugal ou no estrangeiro» - fazem parte do pacote motivacional dos empregados.

A possibilidade de trocar experiências internacionais de gestão é outro programa muito cobiçado pelos colaboradores que podem passar um ano em funções numa das empresas do grupo PT fora de Portugal.

A internacionalização, em consequência da progressão da carreira é uma das causas para a saída dos licenciados, aponta Galamba de Oliveira, administrador da Accenture. «Portugal tem a dimensão económica que tem e os bons talentos acabam por apostar numa carreira internacional para conseguir progredir».

Ana Loya, directora da Ray Human Capital, empresa de executive-seach, corrobora: «Até as multinacionais que actuam em Portugal estão, neste momento, a deslocalizar os seus serviços integrados para outros países».

Além disso, sublinha, «há muitos bons gestores, que são óptimos em qualquer parte do mundo, mas que acabam por sair ou por ficar na ‘prateleira‘ das empresas públicas ou semi-públicas por estarem conotados (indevidamente) com determinada cor partidária, ao terem sido recrutados pela administração anterior», sublinha Ana Loya.




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