Fernanda Pedro e Maribela Freitas
QUEM acaba a licenciatura e começa à procura
de emprego, depara-se com a realidade do mercado de trabalho. Ter experiência
profissional é um requisito presente em quase todos os anúncios
de postos de trabalho, o que deixa pouco espaço de manobra aos
recém-licenciados. Mas há casos de sucesso na conquista
do primeiro trabalho.
Aos 22 anos Joana Lucas dos Reis termina a licenciatura em Ciências
do Mar no ramo de Oceanografia e Pescas da Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologias, em Setembro. Esta é uma área
em que os licenciados não encontram grandes dificuldades de inserção
no mercado. Joana Reis está a estagiar no Instituto Hidrográfico
(IH) da Marinha Portuguesa e é lá que pensa iniciar a
sua carreira profissional.
"O estágio está a ser bastante estimulante e enriquecedor,
proporcionando-me um aprofundamento de conhecimentos, teóricos
e técnico-práticos, preparando-me com bases seguras para
o mercado de trabalho", refere a jovem. Salienta que existe
uma excelente relação entre orientadores e estagiários
e essa é uma das razões por que "gostaria de dar
continuidade ao meu trabalho aqui", revela.
Mas mesmo com esta hipótese em aberto, Joana Reis considera outras
opções. "Esta licenciatura é recente, existem
poucas pessoas formadas, pelo que a inserção no mercado
de trabalho não é difícil. O curso é abrangente,
preparando-nos para as mais diversas áreas de trabalho como a
investigação científica em oceanografia física
e pescas, consultadoria e auditoria", explica.
Qualquer empresa no ramo da Oceanografia ou Pescas tem necessidade de
recorrer aos conhecimentos científicos destes profissionais.
É por isso que Joana Reis assegura que "as expectativas
dos alunos quanto a ficarem a trabalhar nas empresas onde estagiam,
são muito elevadas".
Na verdade, o comandante Lopes da Costa, director-técnico do
IH, reconhece que o instituto colabora com as universidades na formação.
Alguns oficiais ou técnicos são docentes em disciplinas
da especialidade e o instituto acolhe estagiários na fase final
de licenciaturas. "Os estagiários recebem orientação
ou produzem trabalhos no instituto, conseguindo obter um bom nível
de conhecimentos profissionais, que são uma mais-valia para a
sua futura inserção laboral", refere Lopes da
Costa.
Segundo o comandante Ventura Soares, chefe de divisão de Oceanografia
do IH, alguns dos estagiários acabam por ficar a colaborar com
o IH, através de bolsa nacional ou estrangeira e outros por ingressar
na Marinha, através de contrato. "Podemos assumir-nos
como os principais actores da área das ciências do mar
e é aqui que a teoria e a prática funcionam em pleno",
revela.
Este é sem dúvida um caso de sucesso e ao que tudo indica
a área das ciências tem alguma empregabilidade. Mas existem
mais. Gonçalo Vaz Pinto tem 24 anos e acabou há cerca
de cinco meses a sua licenciatura em gestão e administração
de empresas, na Universidade Católica Portuguesa.
Neste momento encontra-se a trabalhar em Espanha, na área de
consultoria estratégica da empresa Mercer Management Consulting.
"Este é o meu primeiro emprego - excluindo 'part-times'
ou estágios -, que consegui com a ajuda do gabinete de inserção
profissional da minha universidade e com alguma pesquisa própria",
refere o jovem.
Para Gonçalo Vaz Pinto, quando se está à procura
do primeiro emprego, "deve-se saber o que se quer, como procurar
a área de actividade e empresa, preparar a entrevista e gerir
as expectativas, ou seja, prepara-se para 'mergulhar' no mercado de
trabalho".
Sobre se é fácil ou não um recém-licenciado
encontrar um primeiro trabalho, aquele jovem profissional considera
que "depende do que se quer. A gestão é bastante
abrangente e julgo que seja a área mais fácil para arranjar
emprego".
A actividade que desenvolve corresponde largamente às expectativas
que tinha relativamente ao mercado de trabalho. Estar a trabalhar no
estrangeiro "pode ser uma boa experiência que se deve
saber aproveitar. Estou interessado em fazer um percurso internacional
mas penso que existem boas possibilidades de fazer uma carreira de sucesso
em Portugal, ao contrário da opinião de muitos",
remata.
O começo da luta
Entretanto, há muitos jovens ainda no início da feroz
corrida pelo primeiro emprego. Nádia Jardim está nessa
situação. Com 24 anos, acabou este mês a licenciatura
em sociologia do trabalho, no Instituto Superior de Ciências Sociais
e Políticas.
"Neste momento estou à procura de emprego. Contudo a
minha busca começou já há mais de um mês,
ainda não tinha acabado o curso", explica.
Com uma licenciatura na área de humanidades e ciências
sociais, e sendo este um sector com pouca empregabilidade (ver caixa),
a jovem não está optimista quanto ao futuro. "Tenho
vindo a responder a anúncios de emprego mas quase todos pedem
experiência e é difícil conseguir um primeiro trabalho.
Na prática, as empresas apostam pouco nos recém-licenciados",
desabafa Nádia Jardim.
Além de responder a anúncios fez algumas candidaturas
espontâneas e o "feedback" não foi animador,
uma vez que as empresas estão em recessão e afirmam não
ter vagas.
Nesta fase Nádia Jardim vai regressar à Madeira e sondar
as oportunidades de trabalho na região de onde é natural.
Se o cenário não se alterar coloca mesmo a hipótese
de começar a procurar trabalho fora da área em que se
licenciou. A luta pelo emprego não dá tréguas.
A dificuldade do primeiro trabalho
MARIA José Bravo, sócia-gerente da empresa de recursos
humanos Selgec, considera que "o mercado de trabalho absorve
mais facilmente licenciados em áreas como economia, gestão,
ciências e engenharia do que humanidades".
Sendo que nesta última área é mais difícil
a inserção no mercado de trabalho, a tendência é
para que muitos destes licenciados acabem por enveredar por outras actividades
profissionais. Quanto à facilidade ou não em conseguir
o primeiro emprego "é complicado em todas as áreas,
pois as empresas querem jovens com experiência de trabalho. Para
resolver este dilema, deveria haver uma maior ligação
entre a universidade e o mundo empresarial", salienta esta
responsável.
Como parece ser notório, as empresas apostam pouco em recém-licenciados.
"A competitividade é muito forte e as empresas não
querem perder tempo em formar os jovens. Contudo, quem já tem
experiência profissional também já traz vícios
consigo", frisa Maria José Bravo.