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A luta pelo primeiro emprego

23.07.2004


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Fernanda Pedro e Maribela Freitas

QUEM acaba a licenciatura e começa à procura de emprego, depara-se com a realidade do mercado de trabalho. Ter experiência profissional é um requisito presente em quase todos os anúncios de postos de trabalho, o que deixa pouco espaço de manobra aos recém-licenciados. Mas há casos de sucesso na conquista do primeiro trabalho.


Aos 22 anos Joana Lucas dos Reis termina a licenciatura em Ciências do Mar no ramo de Oceanografia e Pescas da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Setembro. Esta é uma área em que os licenciados não encontram grandes dificuldades de inserção no mercado. Joana Reis está a estagiar no Instituto Hidrográfico (IH) da Marinha Portuguesa e é lá que pensa iniciar a sua carreira profissional.

"O estágio está a ser bastante estimulante e enriquecedor, proporcionando-me um aprofundamento de conhecimentos, teóricos e técnico-práticos, preparando-me com bases seguras para o mercado de trabalho", refere a jovem. Salienta que existe uma excelente relação entre orientadores e estagiários e essa é uma das razões por que "gostaria de dar continuidade ao meu trabalho aqui", revela.

Mas mesmo com esta hipótese em aberto, Joana Reis considera outras opções. "Esta licenciatura é recente, existem poucas pessoas formadas, pelo que a inserção no mercado de trabalho não é difícil. O curso é abrangente, preparando-nos para as mais diversas áreas de trabalho como a investigação científica em oceanografia física e pescas, consultadoria e auditoria", explica.

Qualquer empresa no ramo da Oceanografia ou Pescas tem necessidade de recorrer aos conhecimentos científicos destes profissionais. É por isso que Joana Reis assegura que "as expectativas dos alunos quanto a ficarem a trabalhar nas empresas onde estagiam, são muito elevadas".

Na verdade, o comandante Lopes da Costa, director-técnico do IH, reconhece que o instituto colabora com as universidades na formação. Alguns oficiais ou técnicos são docentes em disciplinas da especialidade e o instituto acolhe estagiários na fase final de licenciaturas. "Os estagiários recebem orientação ou produzem trabalhos no instituto, conseguindo obter um bom nível de conhecimentos profissionais, que são uma mais-valia para a sua futura inserção laboral", refere Lopes da Costa.

Segundo o comandante Ventura Soares, chefe de divisão de Oceanografia do IH, alguns dos estagiários acabam por ficar a colaborar com o IH, através de bolsa nacional ou estrangeira e outros por ingressar na Marinha, através de contrato. "Podemos assumir-nos como os principais actores da área das ciências do mar e é aqui que a teoria e a prática funcionam em pleno", revela.

Este é sem dúvida um caso de sucesso e ao que tudo indica a área das ciências tem alguma empregabilidade. Mas existem mais. Gonçalo Vaz Pinto tem 24 anos e acabou há cerca de cinco meses a sua licenciatura em gestão e administração de empresas, na Universidade Católica Portuguesa.

Neste momento encontra-se a trabalhar em Espanha, na área de consultoria estratégica da empresa Mercer Management Consulting. "Este é o meu primeiro emprego - excluindo 'part-times' ou estágios -, que consegui com a ajuda do gabinete de inserção profissional da minha universidade e com alguma pesquisa própria", refere o jovem.

Para Gonçalo Vaz Pinto, quando se está à procura do primeiro emprego, "deve-se saber o que se quer, como procurar a área de actividade e empresa, preparar a entrevista e gerir as expectativas, ou seja, prepara-se para 'mergulhar' no mercado de trabalho".

Sobre se é fácil ou não um recém-licenciado encontrar um primeiro trabalho, aquele jovem profissional considera que "depende do que se quer. A gestão é bastante abrangente e julgo que seja a área mais fácil para arranjar emprego".

A actividade que desenvolve corresponde largamente às expectativas que tinha relativamente ao mercado de trabalho. Estar a trabalhar no estrangeiro "pode ser uma boa experiência que se deve saber aproveitar. Estou interessado em fazer um percurso internacional mas penso que existem boas possibilidades de fazer uma carreira de sucesso em Portugal, ao contrário da opinião de muitos", remata.

O começo da luta

Entretanto, há muitos jovens ainda no início da feroz corrida pelo primeiro emprego. Nádia Jardim está nessa situação. Com 24 anos, acabou este mês a licenciatura em sociologia do trabalho, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

"Neste momento estou à procura de emprego. Contudo a minha busca começou já há mais de um mês, ainda não tinha acabado o curso", explica.

Com uma licenciatura na área de humanidades e ciências sociais, e sendo este um sector com pouca empregabilidade (ver caixa), a jovem não está optimista quanto ao futuro. "Tenho vindo a responder a anúncios de emprego mas quase todos pedem experiência e é difícil conseguir um primeiro trabalho. Na prática, as empresas apostam pouco nos recém-licenciados", desabafa Nádia Jardim.

Além de responder a anúncios fez algumas candidaturas espontâneas e o "feedback" não foi animador, uma vez que as empresas estão em recessão e afirmam não ter vagas.

Nesta fase Nádia Jardim vai regressar à Madeira e sondar as oportunidades de trabalho na região de onde é natural. Se o cenário não se alterar coloca mesmo a hipótese de começar a procurar trabalho fora da área em que se licenciou. A luta pelo emprego não dá tréguas.

A dificuldade do primeiro trabalho

MARIA José Bravo, sócia-gerente da empresa de recursos humanos Selgec, considera que "o mercado de trabalho absorve mais facilmente licenciados em áreas como economia, gestão, ciências e engenharia do que humanidades".

Sendo que nesta última área é mais difícil a inserção no mercado de trabalho, a tendência é para que muitos destes licenciados acabem por enveredar por outras actividades profissionais. Quanto à facilidade ou não em conseguir o primeiro emprego "é complicado em todas as áreas, pois as empresas querem jovens com experiência de trabalho. Para resolver este dilema, deveria haver uma maior ligação entre a universidade e o mundo empresarial", salienta esta responsável.

Como parece ser notório, as empresas apostam pouco em recém-licenciados. "A competitividade é muito forte e as empresas não querem perder tempo em formar os jovens. Contudo, quem já tem experiência profissional também já traz vícios consigo", frisa Maria José Bravo.





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