Maribela Freitas e Ruben Eiras
O ÚLTIMO trimestre deste ano e o início
de 2005 vão ser marcados pelos primeiros sinais de reanimação
do mercado de emprego. O EXPRESSO, em conjunto com a Hays Specialist Recruitment,
apresenta as principais tendências laborais para que o leitor planeie
a sua carreira para a retoma que se avizinha.
Engenharias e construção civil
De acordo com a análise da Hays Specialist Recruitment, no sector
das engenharias e operações logísticas, é
de prever um pico de recrutamento no sector da logística, devido
ao facto de existirem empresas à procura de novos parceiros nesta
área. "Os operadores logísticos estão em
crescimento contínuo com a construção de novas
instalações e com a optimização das operações
já existentes", refere Hugo Domingues, consultor especializado
nestes sectores.
Para este responsável, os sectores da construção
civil e imobiliária são os que mostram maior resistência
a empregar. "Isto deve-se ao receio de investir gerado pela
estagnação da procura tanto no sector empresarial como
no habitacional. Prevê-se uma ligeira retoma neste mercado com
o surgimento de projectos ao nível das obras públicas
de grandes dimensões, como por exemplo, o novo aeroporto da Ota,
a terceira ponte sobre o Tejo e o projecto TGV", explica.
Quanto aos salários, no sector de engenharias e operações
logísticas, a regra será cada vez as remunerações
com base no cumprimento de objectivos. Mas, no geral, Hugo Domingues
salienta que os salários não irão apresentar níveis
de crescimento elevados "devido à recessão económica
em que ainda vivemos".
No capítulo das competências mais procuradas, a preferência
destes sectores recai sobre profissionais especializados. Outra tendência
é o recrutamento de jovens e a introdução de planos
de formação para colocá-los na frente das operações
e com níveis de responsabilidade elevadas.
Marketing e comerciais
No segmento dos comerciais, segundo Duarte Ramos, consultor da Hays
nesta área, as propostas de emprego já começam
a abundar. Os sectores em crescimento são os da grande distribuição
e do retalho, principalmente no sector do vestuário. Neste campo,
o consultor refere que "há uma aposta emergente na especialização
do atendimento e venda ao público".
Outro sector com o emprego em alta é a indústria farmacêutica,
devido ao crescimento de novas áreas, como, por exemplo, os medicamentos
genéricos. O sector das tecnologias de informação
(TI) também regista um crescimento ao nível da entrada
de novas marcas no mercado. Uma das razões para o crescimento
na contratação de comerciais é o foco das empresas
nos mercados que garantem uma agressividade comercial necessária
para o aumento da sua presença no mercado.
Quanto à área de "marketing", o consultor salienta
que o sector da publicidade revela ainda um lento crescimento. Os profissionais
mais procurados neste sector têm uma formação-base
em gestão ou uma especialização nesta área.
"Normalmente, são gestores de produto com uma abrangência
que vai desde o seu desenvolvimento e que se encontra fortemente interligada
com a área comercial, um pouco por todos os sectores de mercado",
observa. No entanto, os cargos de direcção de "marketing"
e outros tipos de executivos ainda pautam por um lento crescimento,
"por causa na iberização de algumas empresas e
consequente extinção de alguns destes cargos em Portugal".
No que diz respeito às remunerações, Duarte Ramos
indica que na área comercial começa-se a sentir um crescimento,
fruto do dinamismo do mercado. Esta situação gerou um
regresso a um maior equilíbrio entre a componente fixa e variável,
quando no ano passado se observou um maior investimento na componente
variável. Na área de "marketing", o consultor
prevê que os salários chegarão, no final de 2004,
a valores equivalentes aos da inflação, "o que
são boas notícias se compararmos com os valores de crescimento
abaixo de 1% registado no ano passado".
Financeiros
Para o mercado das profissões financeiras, Sandra Santos, especialista
da Hays nesta área, refere que 2004 foi um ano de melhorias.
"O mercado oferece oportunidades bastante interessantes para
candidatos já com alguma experiência no que concerne aos
sectores especializados e específicos", esclarece.
Todavia, a consultora sublinha que os empregadores têm sido bastante
cautelosos nas suas contratações, registando-se alguns
atrasos na fase final dos processos e uma marcada preocupação
na garantia de qualificações, experiência e perfil
adequado às funções em questão. "Apesar
disso, podemos falar num aumento do volume de processos de recrutamento
nos tempos que virão", assegura.
Quanto às tendências na retribuição, o comportamento
é de crescimento salarial, mas só para "caçar"
os trabalhadores mais experientes e especializados. Por outro lado,
os perfis mais juniores continuarão com salários estagnados.
No que se refere ao perfil de competências mais valorizadas, contam-se
mais uma vez a experiência e a especialização. Os
perfis mais procurados são directores financeiros, "controllers"
de gestão, contabilistas e profissionais especializados na área
da banca nas funções de análises de crédito
e reengenharias de processos.
Tecnologias de Informação
O mercado de emprego das TI começa a recuperar timidamente da
ressaca do rebentamento da bolha tecnológica. Segundo Paula Baptista,
algumas entradas directas de marcas e de "software houses"
no mercado nacional trouxeram uma mais-valia aos técnicos deste
sector. "As empresas têm solicitado serviços de
recrutamento para intermediar na sua pesquisa e abordagem a estes candidatos",
revela.
No sector das telecomunicações, Paula Baptista refere
que o lançamento dos serviços de terceira geração
está a ter algum efeito no mercado de recrutamento, "embora
continuemos cautelosos em avançar com tendências de crescimento".
No plano das remunerações, a consultora prevê que
não existam aumentos de salários substanciais nos próximos
tempos, "mesmo no caso de uma melhoria continuada do mercado".
Mas no caso de trabalhadores especializados em linguagens de programação
emergentes, as empresas estão dispostas a remunerar com salários
bastante atractivos.
Aproveitar bem as oportunidades
O VERÃO, período de férias por excelência,
pode ser uma boa altura para planear o futuro do seu percurso profissional.
Uma carreira faz-se no dia-a-dia, com trabalho árduo, mas pode-se
sempre reservar algum tempo para pensar sobre o que se quer fazer e
avançar em prol da concretização dos objectivos
definidos. Isto sem descurar o factor sorte e aproveitando as novas
oportunidades de trabalho que possam aparecer.
Para Fernando Neves de Almeida, director-geral da Boyden - uma empresa
de "executive search" -, "numa carreira, são
mais as situações que acontecem por acaso do que as que
são planeadas e muitas vezes os grandes sucessos têm muito
do factor sorte pelo meio".
A quem acabou recentemente a licenciatura e está à procura
do primeiro emprego, este responsável recomenda primeiro um período
de descanso e só depois se deve avançar na criação
de uma carreira. "Primeiro há que definir o que se quer
fazer, qual o tipo de trabalho e empresa onde se gostaria de laborar",
refere Fernando Nunes de Almeida.
Acrescenta que "é muito importante o primeiro emprego
que se procura, se é realmente o que se pretende, pois pode condicionar
o seu percurso profissional no futuro". Nesta perspectiva e
se não se conseguiu o trabalho com que se sonhou, deve-se continuar
à procura.
No entanto, "é importante que se faça o melhor
possível na função que se está a executar,
uma vez que alguém pode reparar em si e dar-lhe a oportunidade
de mudar", salienta Fernando Neves de Almeida.
Mas o segredo de uma carreira parece não residir apenas no seu
planeamento cuidado, uma vez que o factor sorte está sempre presente
na vida. O responsável da Boyden considera que "mais
do que planear deve-se aproveitar as oportunidades que possam surgir".
E para que essas oportunidades apareçam, aconselha a "pôr
o melhor de nós naquilo que fazemos e dar-se bem com colegas
e superiores, para que as oportunidades aconteçam".