Cátia Mateus
Três jovens, outras tantas ideias, uma ambição
empresarial e uma paixão comum: o "design". Eis os "ingredientes"
de uma receitade negócio - a MOIOdesign - que promete despertar
emoções num futuro próximo
BI Empresarial
CADA objecto do nosso quotidiano tem uma vida própria,
gera emoções, desencadeia atitudes, sentimentos de afeição
ou rejeição. O "design", as proporções,
a cor, o tamanho, tudo conta na altura de escolher determinada peça.
Para o "designer" o desafio é quase o de "esculpir"
o dia a dia, de moldar os objectos às necessidades do homem, de
fazer deles algo interno à sua própria existência.
Ana Nobre, João Caldeira Cunha e Palmira Leiria responderam a este
desafio. São jovens "designers" com vontade de deixar
a sua marca, com vontade de mudar o "design" "moldado"
em português. Com toda a garra de quem não se acomoda, enfrentaram
as dificuldades e lançaram-se num negócio próprio.
Por sua conta e risco lançaram no início deste ano a MOIOdesign.
O objectivo é criar uma nova identidade cultural de objectos. Uma
identidade nacional.
Foi nos bancos da universidade que Ana Nobre, João Caldeira Cunha
e Palmira Leiria sentiram pela primeira vez o apelo do mundo empresarial.
São peremptórios em afirmar que "a ideia de criar
o próprio ateliê é sempre o ideal de qualquer criativo",
mas reconhecem que nem todos passam da teoria à prática.
Contrariaram a tendência de acomodação e enfrentaram
"um tecido empresarial que insiste em não dar valor ao trabalho
do 'designer' na cadeia de desenvolvimento e produção de
objectos".
No início de 2003 criaram a MOIOdesign, mas o mérito do
projecto já havia sido reconhecido antes quando a equipa ganhou
os Eurowards 2002, a nível nacional, na categoria de "seed".
Um prémio que para Ana Nobre foi o princípio de tudo. Com
esta distinção, refere, "começamos de facto
a acreditar na viabilidade do projecto que havíamos delineado.
Aproveitámos o valor do prémio e demos início à
constituição formal da empresa", explica Ana Nobre.
A ideia era criar uma empresa que concentrasse os vários "mundos"
do universo do "design" nacional: a criação/edição
de objectos; "design" de equipamentos/produto; "design"
de interiores; prototipagem; "design" gráfico e edição
de conteúdos e organização de eventos. "Queríamos
unir diferentes serviços com um mesmo objectivo: o produto",
afirma João Caldeira Cunha.
A meta é despertar as emoções, sabendo que "os
objectos despertam sentimentos afectivos". E se no momento o
ateliê MOIO ainda se encontra numa fase embrionária, sendo
precoce definir investimentos e retornos, a realidade é que para
os três empreendedores este ano e o próximo asseguram-se
positivos.
"No início da nossa actividade, o investimento é
necessariamente elevado dadas as metas que nos propomos alcançar.
Contudo, é esperado um lucro, ainda que reduzido, no final do primeiro
ano", perspectivam. Na sua fase de lançamento, a empresa
criou uma linha de produtos inovadora, para uso doméstico: o serviço
de mesa XS.
O objectivo foi reduzir ao máximo as peças existentes num
serviço de mesa convencional criando peças de cerâmica
que são as páginas de um livro, cuja forma quadrangular
remete para o quadrado de uma banda desenhada. "Neste projecto
envolvemos quatro autores que desenvolveram cada colecção:
Francisco Vidal, Pedro Zamith; Pitchu e Rita Cortez Pinto", refere
Palmira Leiria.
A industrialização deste serviço é uma das
metas a atingir em 2004. Mas a esta outras se juntam. Os empreendedores
esperam nos próximos dois anos desenvolver novas linhas de produtos
- "utilizando o lucro esperado com a industrialização
do XS como capital para estes investimentos" - ao mesmo tempo
que seguem o desafio de criar objectos que respeitem os valores éticos
e ambientais que se impõem na sociedade actual.
"Design" para todas as bolsas
Para Ana Nobre, "os objectos exibem cada vez mais a sua falta
de qualidade e raramente satisfazem as nossas necessidades reais, transparecendo
a ausência de 'alma' e retirando-lhes a sua possibilidade de envelhecerem
dignamente". Talvez por isso, a MOIOdesign insista na ideia de
criar produtos de qualidade concebidos para atingir as massas e não
apenas o segmento alto da população, como acontece com grande
parte das peças de "design".
Actualmente, a equipa que lidera este projecto mantém ainda actividades
paralelas por conta de outrem. É que se o desafio de "ser
dono do que se faz" é grande e muito aliciante, a necessidade
de sobreviver dita as regras.
Sem ilusões nem deslumbramentos, porque o mundo empresarial é
feito de gente que sonha com os pés bem assentes na terra, os três
jovens confessam que "é difícil sobreviver no primeiro
ano apenas do trabalho do ateliê".
E frisam, "já é bom que no seu primeiro ano de vida
a empresa não dê prejuízo". Por isso, mantêm
a força de vontade para ir criando sempre mais e melhor.
BI Empresarial
Nome: MOIOdesign
Ano de criação: 2003
Responsáveis: Ana Nobre (25 anos); João Caldeira Cunha
(28 anos) e Palmira Leiria (27 anos)
Área de actuação: Concentra numa só empresa
os vários "mundos" do universo Design: criação/ediçãode
objectos; "design" de equipamentos/produtos; "design"
de interiores; prototipagem;"design" gráficoe edição
de conteúdos; organização de eventos
Principais clientes: variáveis em função do projecto.
Podem ser particulares ou empresas
Postos de Trabalho criados: Três em tempo permanente
Lema: Há sentimentose emoções contidos em cada
objecto!
Objectivos: Criar umanova identidade cultural de objectos e mudaro
"design" em português