Cátia Mateus
Mais difícil do que criar uma empresa em Portugal é criá-la num segmento onde não somos um país de referência a nível europeu e onde, para vencer, é necessário enfrentar os gigantes do sector. Mas como a essência de empreender é essa mesmo, arriscar, os irmãos Rui e Susana Gateira criaram, a partir de Ílhavo, a ‘Susana Gateira', uma marca de roupa de «fitness» com «design» próprio e exclusivo. Arriscaram competir no mercado com as grandes marcas ligadas ao desporto e com uma estratégia de crescimento sustentado e seguro, a aposta foi ganha. A marca ‘Susana Gateira' factura anualmente um milhão de euros. Tem sete lojas próprias em território nacional, uma loja franchisada e prepara-se agora para a internacionalização. Espanha e França serão os primeiros destinos. O «franchising», é o modelo escolhido para a expansão.
O projecto ‘Susana Gateira' teve início em 1993, quando a «designer» que dá nome à marca decidiu expor os modelos que criava. Mas a empresa, inicialmente familiar, só é formalmente criada quatro anos mais tarde, em 1997, fomentada pelo aumento da procura e direccionando-se desde logo para o nicho da roupa desportiva com forte componente de «design». Nesta fase de arranque, onde os dois irmãos investiram apenas cinco mil euros, foi fundamental o incentivo dos pais que possuíam uma empresa de confecção de vestuário desportivo, evitando a necessidade de investimento em infra-estruturas.
O grande desafio era “criar uma marca e torná-la conhecida com pouco dinheiro”, relembra um dos mentores do projecto. Num momento inicial, a dupla de irmãos Gateira apostou em vender à consignação as colecções que produzia em ginásios e lojas da especialidade. Mas cedo “o sucesso da marca justificou a abertura de lojas próprias, o que se traduz num menor risco comercial e financeiro”, explica Rui Gateira. Desde então, a marca tem vindo a crescer ao ritmo de uma loja por ano e o seu crescimento justificou também a entrada de um parceiro para o negócio. À dupla Gateira, juntou-se o actor e modelo Alexandre Silva.
Lisboa, Porto, Aveiro, Braga, Cascais e Leiria, são para já os pontos onde a marca está presente. Mas nesta conquista nem tudo foi fácil. “É muito difícil implantar em Portugal uma empresa que vai operar num mercado onde não temos uma imagem de referência a nível internacional. E é também um risco elevado apostar num segmento onde sabemos que a concorrência é dominada por grandes marcas como a Adidas, Puma e Nike”, explica Rui Gateira que realça ainda como entrave “o facto de grande parte da população não praticar desporto, nem sentir necessidade de o fazer portanto não ter apetência pela aquisição de equipamentos”.
Em termos técnicos, a empresa teve ainda de lidar com o facto de, por ser pequena, não ter acesso a certas matérias-primas que exigiam quantidades mínimas de encomenda muito elevadas. Uma dificuldade que a equipa eliminou tentando arranjar tais matérias em fábricas de malhas que vendessem a retalho. Ainda assim, a empresa traçou um percurso de expansão positivo, “sempre pautado por investimentos sustentados”.
A marca portuguesa de vestuário desportivo, prepara-se para entrar nos mercados espanhol e francês (onde já é conhecida com sucesso), sem descuidar a expansão contínua em território nacional. Em qualquer dos destinos de investimento, a aposta passa pela replicação à luz do «franchising». De acordo com o porta-voz da marca “neste momento a marca está a negociar em Espanha com alguns interessados no projecto de «franchising» Susana Gateira”.
Rui Gateira explica a opção do «franchising» pela “possibilidade de atingir um crescimento a um ritmo bastante rápido e de forma sustentada, transmitindo simultaneamente o «know-how» a empresários que queiram apostar na marca Susana Gateira”. Para consolidar esta estratégia de internacionalização, os três sócios da empresa têm vindo a apresentar o seu projecto em feiras internacionais relacionados com o «fitness».
O sócio da empresa — que tem como público-alvo os profissionais do «fitness» e desportistas, mas também todos os que gostam de um guarda-roupa mais ‘casual' — tem como guru Bill Gates e acredita que a melhor ferramenta de gestão quotidiana é “nunca crescer sem sustentação nem estratégia”. E não tem dúvidas de que “se continuarmos a realizar o mesmo trabalho que fizemos em Portugal, apresentando um produto inovador, com um «design» próprio e avançando passo-a-passo, o mercado internacional vai aceitar-nos e reconhecer o nosso mérito”.
Até porque, no mundo empresarial é fundamental não subestimar a concorrência mas também, “criar empresas com uma entidade própria e sem copiar ninguém”.
BI Empresarial
Nome: Susana Gateira
Fundadores: Susana Gateira (38 anos), Rui Gateira (35 anos) e Alexandre Silva (31 anos)
Data de criação: 1997
Sede: Ílhavo (ateliê)
Área de actividade: Design, confecção e comercialização de roupa desportiva exclusiva
Investimento inicial: 5000 euros
Facturação: 1 milhão de euros anuais
Público-alvo: Profissionais de «fitness» e desportistas, mas também todos aqueles que gostam se libertar de um guarda-roupa formal
Princípio de gestão de que não abdica: “Nunca crescer sem sustentação nem estratégia”
Dicas: “Apostar sempre com dedicação e antes de avançar identificar as mais-valias do projecto e aquilo que o pode diferenciar no mercado”
Lema: “Nunca subestimar a concorrência, nem copiar ninguém. As empresas, tal como as pessoas também têm de ter uma identidade própria”
Guru: Bill Gates