Em 2013, Portugal era o 12º país com maior número de espaços partilhados de trabalho, numa lista de 80 países. Existiam 42 locais de coworking, de acordo com o Global Coworking Census, elaborado pela Deskwanted, empresa que se dedica a esta matéria. Em 2017, uma pesquisa através de motores de busca e bases de dados indica a existência de pelo menos 87 espaços deste género no país, sobretudo em Lisboa e no Porto, representando um crescimento de mais de 100%.
Estes dados não surpreendem os impulsionadores deste segmento, tendo em conta as alterações no mercado de trabalho, na direção da flexibilidade. Mas já não é só de trabalhadores independentes que vivem os chamados centros de cowork. São cada vez mais as empresas, sobretudo em fase de arranque, que preferem a informalidade de um local onde se criam relações improváveis e estabelecem sinergias com maior facilidade. Por outro lado, o espectro alargou-se para lá dos ‘profissionais criativos’.
Em sete anos de atividade, poucas profissões não terão passado pelo CoWork Lisboa, no complexo Lx Factory, afirma o fundador, Fernando Mendes. Apesar da diversidade, “são sempre pessoas que vivem com pouco”, analisa o designer e professor, arriscando que o padrão é outro reflexo da conjuntura. “O mundo está a dizer-nos que vamos ter de viver com menos, porque não vai haver emprego para todos”, reflete. Depois, há uma transformação na perceção do emprego. “Os miúdos que acabam os seus estudos e que não encontram colocação imediata no mercado de trabalho já não são desempregados, tornam-se freelancers” e, para quem se enquadra neste regime, “o negócio está dentro da sala”. “É como num clima de bar, em que se baixam as luzes e põe-se a música mais alta. O meu trabalho é esse: criar um ambiente para um trabalho flexível, veloz, criativo.”
Mais estrangeiros
Por outro lado, devido à mobilidade, os ambientes de trabalho são cada vez mais multiculturais. Os 5% de estrangeiros que frequentavam o CoWork Lisboa em 2010 passaram, hoje, a ser mais de metade do grupo, sendo que grande parte não depende do mercado português. Lisboa tem-se afirmado não só como cidade-turismo, mas também como centro de trabalho, devido a fatores como o custo médio de vida ou a segurança.
Distante da informalidade da Lx Factory, Renato Garcia organiza a agenda a partir de um computador portátil na Av. da República, no recém-criado Avila Spaces. Trabalhou nos últimos anos com o mercado imobiliário brasileiro e há seis meses decidiu experimentar Lisboa. “Somos três colaboradores e encontramo-nos aqui algumas vezes por semana. É bem diferente do Brasil, em que somos dezenas num espaço corporativo”, relata. Renato escolheu este modelo por ser “propício à imaginação, ao networking e ao crescimento do que um escritório de quatro paredes brancas”. Além disso, a ‘outra solução’ — trabalhar em casa — “promove a inércia”, analisa Paulo Mesquita, junto à janela. Acresce que para alguém que fundou há pouco tempo uma empresa de consultoria e marketing na área do turismo, não ter de pagar pelo espaço de trabalho quando está ausente é um ponto a favor.
Entre a sala com 35 secretárias e o chamado business lounge, “um sofá também pode ser um posto de trabalho”, refere o diretor do espaço, Carlos Gonçalves, que conhece o mercado dos escritórios desde 2010, mas entrou no ‘negócio da partilha’ este ano, motivado pelo interesse crescente à sua volta. Os preços de arrendamento variam entre €85 e €250 mensais, com a possibilidade de aceder a um serviço de atendimento centralizado de chamadas e de gerir a atividade do escritório pelo telemóvel, porque este é o tempo em que “as pessoas descobriram que o coworking pode ser um modelo inteligente para uma empresa”, acredita o gestor.