Ruben Eiras
PARA ganhar competitividade no mercado global, as universidades
e os sistemas de formação profissional dos Estados-membros
da UE terão que se articular para disponibilizar aos cidadãos
serviços de aprendizagem ao longo da vida.
UE aposta na 'e-formação'
"As nossas universidades não são
competitivas. A mudança de mentalidade é urgente: precisam
de responder às necessidades das empresas e esbaterem as barreiras
artificiais entre a educação e a formação",
afirma Viviane Reding, a comissária europeia da Educação
e Cultura, em declarações ao EXPRESSO, que esteve presente
nesta semana no Mercado Mundial de Educação (World Education
Market), realizado no Centro de Congressos de Lisboa.
Neste respeito, a dirigente europeia sublinhou que as entidades universitárias
deverão encetar parcerias que as abram ao mundo exterior, como
por exemplo, celebrarem "joint-ventures" com as empresas da
região onde estão localizadas para formarem a sua força
de trabalho. "Isto seria mais uma fonte de financiamento da universidade.
E terá que ser assim, porque o investimento público já
não pode subir mais. Está no limite do tecto",
alerta.
Contudo, Viviane Reding ressalva que as universidades públicas
deverão usar de cautela neste processo de liberalização,
de modo a assegurarem o controlo da política da instituição.
"Liberalizar o sistema público não significa torná-lo
comercial, mas sim ligá-lo com maior profundidade à sociedade
e libertar o seu potencial inovador", explica.
Erasmus global
No seguimento da aceleração do Processo de Bolonha - o qual
visa a criação de um espaço único europeu
de ensino superior - e de reforço da competitividade do sistema
universitário europeu, a comissária europeia anunciou a
criação do Erasmus Mundus, uma versão de maior escala
do já conhecido programa Erasmus (intercâmbio de alunos universitários
entre os países da UE).
A nova iniciativa possibilita aos estudantes de todo o mundo, e não
só do continente europeu, frequentar formação pós-graduada
com a certificação de "European Union Masters Courses".
Estes cursos implicam a frequência em várias instituições
de ensino superior de diversos Estados-membros.
Por exemplo, um aluno num curso de mestrado de quatro anos, poderá
fazê-lo em Sorbonne, em Oxford, na Complutense de Madrid e terminá-lo
na Universidade de Bona. O diploma contém a referência às
quatro universidades e uma certificação de marca "europeia".
O Erasmus Mundus tem como meta criar, até 2008, cerca de 90 redes
inter-universitárias que disponibilizem 250 "European Union
Masters Courses".
Rumo ao multilinguismo
Aos estudantes provenientes de países fora do espaço da
UE serão atribuídas bolsas de estudo. "Com este
novo programa, não queremos só atrair mais alunos do mercado
global para a zona europeia, mas também incentivar a mobilidade
entre os Estados-membros, através do crescimento de uma cultura
multilinguística e intercultural", especifica Viviane
Reding.
Mas não só. O objectivo também é debelar as
forças de resistência nos países da UE à harmonização
imposta pelo Processo de Bolonha. "O Erasmus Mundus irá
aumentar a qualidade do ensino superior, porque serão definidas
normas de cooperação muito elevadas entre as universidades
para manter o mesmo nível de exigência em todas as instituições",
observa.
Além disso, a comissária europeia está confiante
de que esta será mais uma pedra para a convergência das estruturas
de graus académicos. "Ao encorajar a cooperação
inter-universitária a nível dos 'masters', este movimento
facilitará a adopção do acordado no Processo de Bolonha
no que respeita às licenciaturas e mestrados", refere.
Relativamente a Portugal, Viviane Reding expressou a sua aprovação
em relação à actuação do governo na
introdução das reformas impostas pelo Processo de Bolonha,
que classificou de "pró-activa".
Mas deixou um aviso: "As universidades que não se reformarem
a tempo ficarão excluídas dos centros de excelência
do conhecimento. As entidades já sabem o que têm a fazer.
É tudo muito claro. Quem não actuar, certamente ficará
fora da 'corrida'".
UE aposta na 'e-formação'
Cátia Mateus
ENCORAJAR as universidades europeias ao desenvolvimento
de modelos virtuais de formação que permitam um maior intercâmbio
entre os estudantes do espaço europeu é uma das metas do
recém-lançado programa eLearning e enfatizada por Viviane
Reding no World Education Market 2003.
Com um prazo de execução que se prolonga até 2006,
o novo programa tem como objectivo basilar abrir as portas das instituições
de ensino ao uso efectivo das tecnologias de comunicação
e informação enquanto ferramentas de aprendizagem.
Trata-se de dar seguimento ao plano definido em 2000, na Cimeira de Lisboa,
de onde resultou a definição de uma estratégia para
a construção de uma Europa mais competitiva e voltada para
a sociedade do conhecimento. Na sua essência, o programa eLearning
visa promover a criação dos designados "campus virtuais"
que ajudem a promover a mobilidade estudantil.
Por outra via, a iniciativa prevê a criação de um
Plano de Acção eLearning, voltado para a disseminação,
promoção e adopção de boas práticas
testadas em instituições de ensino europeias.
Em pleno funcionamento, o eLearning deverá ser capaz de assegurar
a cooperação e estabelecimento de parcerias entre o sector
público e privado, assim como encorajar a participação
das instituições de ensino em projectos de âmbito
internacional relacionados com ensino à distância.
Este plano de intervenção chama também a si a "responsabilidade"
de atrair a camada mais jovem da população europeia para
a aprendizagem e prática das competências relacionadas com
as novas tecnologias de informação e comunicação.