Fernando Pedro
ARTISTA é algo com que João Cóias
não se define. "É uma palavra muito vaga e artista
plástico é um estado de espírito e não uma
profissão", considera João Cóias, um publicitário
que deixou para trás uma carreira de 15 anos na publicidade para
se dedicar "de corpo e alma" à concepção
de obras de arte.
Depois de um percurso ascendente na área da ilustração
e publicidade, João Cóias decidiu mudar o rumo da sua vida
e encontrar-se a si próprio,
"neste momento vivo apenas
para mim e para aquilo que me dá prazer realizar. Dou asas à
minha criatividade e não aceito encomendas de ninguém".
Reconhece que passou um momento difícil quando fez a transição
da publicidade para a arte mas tudo foi calculado. Em 1996, tomou uma
decisão, deixar a carreira de publicitário em 2000. Durante
quatro anos preparou a sua saída e na viragem do milénio
dedicou-se exclusivamente à sua arte.
"Passei de uma vida completamente alucinante para uma paz de espírito
inimaginável", lembra. Mesmo perdendo nove quilos nesse
período, João Cóias, sentiu todo o seu esforço
recompensado quando terminou a primeira peça. A sua primeira exposição
foi totalmente preparada por si, investiu de forma a que fosse a sua festa
de entrada no mundo da arte e considera que foi um sucesso.
A arte foi um legado familiar
João Cóias, nasceu há 45 anos em Lisboa. A veia artística
foi um legado familiar.
"O meu pai apesar de ter sido juiz, sempre
gostou de arte e queria mesmo seguir as Belas Artes", recorda.
Foi por isso, que desde os nove anos que Cóias transmite as suas
emoções através da "ponta" de um lápis
ou de um pincel.
Aos 18, já ilustrava livros e jornais. Com esta vocação
nata, João Cóias só podia tirar um curso nesta área
e assim em 1977 entra para o IADE onde completa o curso de design gráfico
e industrial.
"Não fui para as Belas Artes porque a escola
estava fechada na altura e quando terminei o meu curso já não
me identificava com ela", explica.
Nos meados dos anos 80 surgiu a oportunidade de ir trabalhar numa agência
multinacional de publicidade como Art Director.
"Nesta altura
tomei conhecimento directo com o trabalho 'stressante'", recorda.
Dois anos depois mudou para outra e ao fim de um ano, formou a sua empresa
e começou a trabalhar como "outsider". Nesta altura,
João Cóias trabalhava mais mas também ganhava mais,
contudo, considera esta profissão,
"muito desgastante e
a determinada altura, perde o brilho".
Neste período da sua vida, João Cóias, trabalhava
mais de 18 horas por dia mas fazia-o por gosto e em consequência
disso foi recompensado com alguns prémios de publicidade.
Chegou então 1996 e o publicitário decide preparar-se para
a retirada,
"queria fazer o que me apetecia mas também
tinha consciência que tinha de ter capital para investir numa coisa
que se chamava 'eu'", explica.
Quando em 2000 parou e olhou-se no espelho, sentiu algum receio porque
não sabia se conseguia provar a si mesmo que seria capaz de viver
só para a sua arte. Ainda vacilou algumas vezes, indeciso se não
voltaria à publicidade mas essas incertezas cessaram quando terminou
a primeira peça,
"nessa altura ultrapassei todos os medos".
A primeira exposição com o título "Concepts"
num armazém das docas de Santos, foi feita à sua medida.
"Investi para que tudo fosse realizado como que queria e foi um
grato privilégio te sido aceite. Mas mais importante do que tudo
isso, é ter ido ao encontro de mim mesmo", João
Cóias, realça o facto de só agora ter conseguido
encontrar-se com o seu interior.
O artista considera que acima de tudo é um experimentalista, já
que gosta de trabalhar e explorar todos os materiais. Tem conseguido comercializar
as suas peças, mas
"não vivo disto mas sim para
isto", garante mesmo que nunca irá trabalhar por encomenda,
"estou a fazer um percurso meu e enquanto puder vou fazer aquilo
que quero".
Os momentos mais importantes da sua carreira, foram sem qualquer dúvida,
"a minha primeira campanha publicitária e a minha primeira
peça". A mais negativa foi
"ter de pactuar muitas
vezes com a incompetência".
Aos mais jovens que tenham também a vocação pela
arte, João Cóias aconselha a nunca desistirem.
"Se
acreditam, não deixam de lutar para conseguir fazerem aquilo quem
gostam nem que para isso tenham de vender a trás de um balcão".