Ruben Eiras
PARA Portugal aumentar a atracção de "cérebros",
a aposta deve concentrar-se no desenvolvimento do turismo do conhecimento.
"Este conceito turístico consiste na criação
de actividades e locais que atraiam turistas do conhecimento, ou seja,
pessoas que buscam não só conhecer o país, mas também
trocar ideias e capital intelectual com indivíduos da mesma área
profissional", explica Leif Edvinsson, o guru sueco do capital
intelectual, em entrevista ao EXPRESSO.
De acordo com aquele especialista, os trabalhadores do conhecimento
- a emergente "classe criativa" - estão a adoptar um
estilo de vida cada vez mais nómada. Segundo as últimas
pesquisas conduzidas por Edvinsson, esta nova força laboral vive
e trabalha num modelo de "part-time" em diversos locais do
mundo, em busca do melhor ambiente para a troca de conhecimento, o qual
possui dois traços fundamentais: ser propício à
inspiração e possuir qualidade de vida.
"Pode ser um 'café do conhecimento' ou um bar - enfim
tem que ser uma arena social, em que as pessoas sabem que se forem àquele
bar, irão conhecer outros indivíduos interessantes na
sua área. É um local onde estarão expostas a pensamentos
interessantes, onde se irão cultivar como o solo de uma árvore",
explica.
Um dos exemplos do surgimento de uma zona de conhecimento que emergiu
a partir de uma rede de cafés é a bolsa de Londres, um
dos centros nevrálgicos do mundo financeiro.
"A bolsa de Londres começou a nascer nos cafés
da zona onde se encontra neste momento - os financeiros encontravam-se
nestes locais e faziam os seus negócios. Por isso, actualmente,
os cafés e bares deveriam ser usados como peças fundamentais
na estratégia de criação de zonas específicas
de conhecimento dentro das cidades", sugere Leif Edvinsson.
Para o guru sueco, Portugal tem todas as condições para
se tornar uma plataforma turística de conhecimento, tendo como
pontos-fortes tanto a qualidade de vida, como o factor "inspiração":
"o país tem um bom clima, muita água, é
uma zona de fronteira com os EUA e possui uma herança histórica
e cultural única, com personagens como o Infante D. Henrique
e Vasco da Gama, que ninguém pode copiar".
Neste plano, a cidade de Lisboa afigura-se como uma zona urbana com
muito potencial para se tornar um "porto do conhecimento".
O actual aeroporto é considerado por Leif Edvinsson como sendo
uma vantagem competitiva neste aspecto: "um aeroporto pequeno
e eficiente é importantíssimo para zonas e regiões
de conhecimento, pois cria um ambiente mais acolhedor e facilita o encontro
entre as pessoas. Isto não acontece com terminais grandes e despersonalizados
como o de Frankfurt".
Como exemplos concretos da nova tendência do turismo do conhecimento,
o guru do capital intelectual cita os exemplos das cidades de Montreal,
no Canadá, e a catalã Barcelona. Na urbe canadiana, os
centros comerciais estão a ser substituídos por "centros
de saúde", isto é, unidades que integram hospitais,
ginásios e SPA. O objectivo é atrair pessoas que se divirtam
a cultivarem a sua saúde, de modo a criar competências
únicas neste sector naquela cidade.
Por outro lado, Barcelona optou pela aposta no desenvolvimento da qualidade
da vida como factor de atracção do conhecimento. "Não
existia requisitos, nem tradição em Barcelona para que
os centros mundiais de design se instalassem em Barcelona e deixassem
a Califórnia. Mas também podia ter sido a cidade de Lisboa
a beneficiada, se tivesse traçado uma estratégia nesse
sentido", remata Leif Edvinsson.