O presidente da Manpower falou ao Expresso sobre os botões que o mundo precisa de acionar para responder ao impacto das tecnologias e das alterações demográficas no mercado de trabalho. Do Estado ao ensino, passando por empregados e empregadores, pede-se uma “Revolução das Aptidões”, como indica o estudo apresentado pelo grupo no Fórum Económico Mundial, em janeiro.
A que aptidões se refere quando fala numa revolução?
É muito difícil prever que competências serão necessárias, porque o mundo está a mudar rapidamente. Mas a responsabilidade, o interesse e o desejo de aprender durante a carreira serão grandes preditores de empregabilidade quando comparados a 19 ou 21 anos de frequência no ensino que terminam com o ingresso no mercado do trabalho. É aí que entra a noção de aprendizibilidade [capacidade de aprendizagem]. O mundo está a polarizar-se. As pessoas que têm as competências certas podem participar na globalização e na tecnologia; as restantes vão sentir-se cada vez mais marginalizadas. O desafio está em conseguir envolver todos.
Não é extremista pensar que todos os empregadores e trabalhadores caminham na mesma direção?
Os empregadores têm de assumir parte da responsabilidade e desenvolver as suas forças de trabalho, os indivíduos têm de investir na educação de forma contínua e as organizações deverão trabalhar em conjunto com instituições de ensino, para que os processos de aprendizagem sejam mais interativos. Vemos em muitos países que, quando as pessoas deixam o ensino, estão prontas do ponto de vista académico mas não numa perspetiva de trabalho.
Os trabalhadores devem investir na especialização do conhecimento ou a aprendizagem será mais valorizada num quadro geral e flexível?
Dependerá sempre da paixão de cada pessoa. Mas as competências-base em ciências, tecnologias e matemática terão cada vez mais importância. Outra vantagem em expor mais cedo os jovens ao mundo do trabalho é o facto de eles poderem fazer escolhas, porque um dos grandes preditores de sucesso continua a ser fazer o que gostamos.
O que acontecerá às áreas menos sofisticadas, que muitas vezes sofrem de escassez de mão de obra?
Indivíduos diferentes fazem escolhas diferentes. Há pessoas para quem o trabalho é extremamente importante, para outras é um meio para atingir um fim. Mas o ideal é que nos sintamos felizes em trabalhar todos os dias.
Como é que as empresas conseguirão medir fatores como a capacidade de aprender?
Há o QE [quociente emocional] e o QI [quociente de inteligência] e nós lançamos o QL, o quociente de ‘aprendizibilidade’ [learnability, em inglês], através do qual estamos a tentar medir, com base em análise de dados, a propensão e o desejo de aprender ao longo do tempo. Acreditamos que esta medida será muito importante para os empregadores perceberem quando estão a atrair talento. Se tiverem uma base de trabalhadores acostumados a adquirir novas competências, maior será a capacidade de a empresa se adaptar ao mercado.
Esta revolução implica mais mobilidade e flexibilidade laborais?
Há a perceção de que os millennials querem mudar de emprego e de funções a toda a hora, que não há lealdade e que todos serão trabalhadores independentes. Mas a nossa investigação mostra que isso está errado. Não se trata de uma geração com uma atitude diferente, mas de outra perceção do ambiente externo, que é imprevisível. O que sabemos é que as pessoas com boas competências que não conseguirem desenvolvê-las dentro de uma organização têm maior tendência para quererem sair dela. E isso acontece porque elas sabem que são proprietárias da sua própria empregabilidade.
O Reino Unido atingiu a menor taxa de desemprego desde 1975, ainda que os rendimentos estejam em queda, muito devido à flexibilização. É uma boa notícia?
A redução do desemprego é sempre uma boa notícia. O significado do trabalho vai para lá da remuneração. Muitos países têm uma estrutura focada na segurança, ou seja, no trabalho a tempo inteiro e em contratos permanentes. Só que o mundo está a assumir que esta é apenas uma das formas de emprego. Países progressistas, como o Reino Unido ou a Dinamarca, estão a mudar de perspetiva. Mas é preciso assegurar proteção. Em França, é oferecida aos trabalhadores em transição uma certa quantia para investir em formação. Singapura e a Dinamarca estão a fazer o mesmo, e isso terá de acontecer noutras sociedades, porque estas mudanças não são locais e os governos têm papéis muito importantes nelas.