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"A retração económica pode abrir portas a projetos inovadores"

Na mesma semana em que o Banco de Portugal revela que o país regista um volume de emprego ao nível do verificado em 1997 e que o Instituto Nacional de Estatística divulga uma nova subida da taxa de desemprego nacional para 15,8%, Portugal prepara-se para receber, numa só semana diversas iniciativas na área do empreendedorismo. No Porto, arranca aquele que é o mais antigo evento da especialidade, a Feira do Empreendedor, organizada há 15 anos pela Associação Nacional de Jovens Empresários. Francisco Maria Balsemão, presidente da associação, fala da relevância do evento enquanto motor de inovação, dinamização económica e criação de emprego.
15.11.2012 | Por Cátia Mateus


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A edição 2012 da Feira do Empreendedor realiza-se num momento de particular adversidade no contexto nacional, onde se sucedem notícias de insolvências e despedimentos. É um desafio acrescido hastear a bandeira do empreendedorismo neste cenário? Não diria que é um desafio acrescido, mas sim uma obrigação acrescida. Num contexto de contração do investimento e do emprego, o empreendedorismo adquire ainda maior importância enquanto meio para aplicar capital em projetos empresariais e, desta forma, criar postos de trabalho, dinamizar a economia e eventualmente aumentar as exportações. A ANJE tem estado a desenvolver esforços redobrados na promoção do empreendedorismo jovem, designadamente através da Feira do Empreendedor 2012. O empreendedorismo cria riqueza e postos de trabalho e sem criação de riqueza, o país não conseguirá consolidar as finanças públicas e amortizar a dívida soberana. Sem criação de novos empregos, o desemprego no nosso país tenderá a agravar-se para níveis social e eticamente incomportáveis. Na questão laboral em particular, o empreendedorismo representa, em muitos casos, a alternativa mais expedita para encontrar emprego quer por trabalhadores pouco qualificados, quer por quadros especializados que a economia portuguesa já não consegue absorver totalmente, daí se depreende a importância do evento no atual cenário económico. As últimas estatísticas do IEFP apontam para um aumento do desemprego entre cargos de chefia e liderança. Acredita que isto terá um impacto direto na criação de novas empresas? Talvez venha a ter e até seria desejável, pois trata-se de capital humano qualificado, experiente e com network. Quadros com este perfil podem, de facto, tornar-se empreendedores de sucesso e, deste modo, contribuir para o relançamento da economia portuguesa e para a criação de postos de trabalho. Hoje, o conhecimento é o fator mais determinante para o êxito de um negócio. Que tipo de negócios estamos a criar nesta conjuntura? Segundo o Global Enterpreneurship Monitor (GEM) 2010, os setores da economia portuguesa onde se regista uma maior percentagem de empreendedores são o setor orientado ao consumidor (que inclui todos os negócios direcionados para o consumidor final), com 54% de empreendedores, o setor da transformação (que inclui construção, manufatura, transporte, comunicações, utilidades e distribuição grossista), com 26,5% de empreendedores, e o setor orientado ao cliente organizacional (que inclui todas as atividades onde o cliente primário é outro negócio), com 15,5% de empreendedores. Mas a criação de empresas, neste contexto, tem evoluído positivamente? Em 2011 foram criadas em Portugal 33.040 novas empresas, sendo que 18.965 foram constituídas no primeiro semestre e as outras 14.075 no segundo. Quanto a insolvências, em 2011 desapareceram 32.989 empresas em Portugal. Tendo em conta a diferença entre os números de criação e desaparecimento de empresas, o país conseguiu apenas 51 novos negócios. Segundo o GEM, o nosso país registou, em 2010, uma taxa de atividade empreendedora de 4,5%, o que significa que existem 4 a 5 empreendedores early-stage (envolvidos em start-ups ou na gestão de novos negócios) por cada 100 indivíduos em idade adulta. O resultado representa um decréscimo em relação a 2007, ano em que existiam cerca de 9 empreendedores por cada 100 indivíduos. A faixa etária onde se registava a maior taxa de atividade empreendedora é a que compreende as idades entre os 25 e os 34 anos (6,7%). Perante estes dados, é nossa convicção que a falta de confiança dos agentes económicos e, sobretudo, as dificuldades de acesso ao crédito por parte dos empresários estão, sem dúvida, a condicionar a atividade empreendedora em Portugal. Mas não nos parece que o espírito empreendedor na sociedade portuguesa seja hoje menor, designadamente entre as novas gerações altamente qualificadas. Diversos estudos revelam uma grande apetência dos nossos estudantes universitários pelo empreendedorismo e as instituições do ensino superior registam uma subida do número de spin-offs, patentes, estudantes em pós-graduações em empreendedorismo e do número de projetos seed capital e start-ups incubados em centros de C&T das universidades. Em que setores residem, atualmente, as melhores oportunidades de investimento? Os negócios que melhor resistem à crise são, à partida, os que envolvem produtos/serviços essenciais e as chamadas utilities. Sendo mais seletivos nas suas compras, os consumidores procuram bens de utilidade imediata e durabilidade comprovada, com boa relação preço/qualidade, incorporando fatores de diferenciação, criatividade e inovação e apresentando capacidade para gerar emoções, designadamente, estimular a autoestima num momento difícil como o que estamos a atravessar. Acrescente-se que os negócios do futuro são aqueles que têm o conhecimento (capital intelectual) como fator crítico de competitividade, que maximizam as potencialidades das infraestruturas tecnológicas, que apresentam uma cultura organizacional flexível, que criam um ambiente interno de aprendizagem, que desenvolvem redes de colaboração externas, que assumem riscos e que fornecem produtos/serviços com consideráveis externalidades. Quais são os grandes desafios nacionais em matéria de empreendedorismo? O principal desafio é o financiamento, uma vez que o acesso ao crédito bancário é hoje bastante limitado e caro. Perante isto, os empreendedores devem encontrar capitais próprios ou recorrer a fontes alternativas ao financiamento bancário tradicional, como o microcrédito, o capital de risco e os business angels, as linhas especiais de crédito público e os incentivos à criação de empresas (designadamente no âmbito do QREN). Há também um conjunto de desafios que podem ser minimizados com um bom plano de negócios (planeamento fiscal, ponderação do investimento, metodologias de gestão, diferenciação de produtos/serviços, parcerias estratégicas) e uma boa dose de perseverança. Falo, por exemplo, de desafios relacionados com a burocracia, o sistema fiscal (pesado, complexo e instável), os elevados custos de contexto (telecomunicações, energia, combustíveis, transportes, etc.), a lentidão na aplicação da justiça, entre outros. Que argumentos se dá hoje a um empreendedor para demonstrar que vale a pena arriscar em Portugal? Há janelas de oportunidade que podem ser abertas pelos nossos empreendedores, aproveitando os incentivos comunitários e públicos à criação de empresas, bem como as condições que as associações empresariais, as universidades e as instituições de apoio empresarial estão a conceder para o desenvolvimento de projetos de empreendedorismo. Por outro lado, alguns custos de contexto baixaram significativamente por efeito da crise, sendo hoje, por exemplo, bastante mais acessível a contratação de recursos humanos qualificados. De resto, a nossa opinião é a de que as crises, não obstante os aspetos dramáticos de que se revestem, encerram boas oportunidades de investimento. A retração económica pode, de facto, abrir portas não só a negócios adequados ao “espírito do tempo” como a projetos empresariais inovadores, criativos e de valor acrescentado. Oportunidades made in Portugal A habitual edição anual da Feira do Empreendedor acontece este ano num contexto de forte contração do investimento e do emprego. Uma conjuntura que para o presidente da ANJE não intimida, mas sim incentiva. Com um programa decidido a transformar adversidades em oportunidades, o certame que é um dos mais emblemáticos do país em matéria de empreendedorismo, reunirá, no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, de 22 a 24 de novembro, o melhor dos negócios made in Portugal. A edição 2012 da Feira do Empreendedor, a 15ª do evento, reforça o seu habitual papel enquanto montra do empreendedorismo nacional, diferenciador e competitivo, integrando centenas de oportunidades de negócio, networking e sistemas de apoio e incentivo a quem quer empreender, a par com um conjunto de conferências temáticas e diversos workshops em áreas práticas como a criação de um negócio específico, oportunidades de negócio, franchising, apoios e financiamentos, gestão, marketing e vendas, inovação, formação, emprego e gestão de carreiras. A grande novidade do evento é o programa NBA - New Business Accelerator, um acelerador de novos negócios, que se desenvolverá durante três dias do evento recorrendo à metodologia DSI - Dream, Start e Invest. A meta da associação com este sistema de tutoria e apoio consultivo é “acelerar ideias, estimular e apoiar a iniciativa empresarial, acompanhando jovens de elevado potencial, desde a formulação da ideia até à conquista de investidores”.


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