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Trabalhe para si



01.01.2000



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Trabalhe para si

O trabalho numa empresa envolve uma complexa teia de relações e de meandros administrativos que podem conduzir o empregado de um departamento para outro. E isto nem sempre significa que o seu desempenho actual corresponde ao que havia almejado quando iniciou a sua formação académica ou profissional. Surgem problemas de adaptação, frustrações várias, enquanto se duplicam exigências e se retira no tempo destinado a realizações fora do escritório.


É por isso que muitas pessoas começam a enveredar por uma nova vaga de empreendimentos profissionais. Não aceitam mais submeter-se às exigências dos empregadores e dão os primeiros passos em carreiras a solo. Há uma série de condições aconselháveis para ingressar numa actividade em nome próprio. A saber: a ausência de dívidas a saldar - uma vez que um empreendimento individual é sempre um tiro no escuro - e um grande nível de confiança e de auto-controlo, por forma a agilizar o processo de adaptação a um ritmo diferente de trabalho.

Alguns profissionais escolhem trabalhar para si. Outros há que, em virtude do somatório de circunstâncias diversas, não têm outra alternativa, uma vez que, pela idade, habilitações profissionais ou localização geográfica, não conseguem um emprego a tempo inteiro que lhes seja apropriado. E há também os prospectores desta nova vaga que, depois de experimentarem, não se imaginam a voltar a trabalhar para uma organização ou entidade colectiva.

Os mais puristas deste tipo de emprego desdenham os valores corporativistas das grandes empresas e procuram autenticidade e autonomia no seu desempenho. Alguns revelam-se cansados dos trâmites laborais subjacentes à orgânica de uma grande empresa. Mas as motivações podem ser outras. Há quem valorize acima de tudo a sua liberdade e independência, por isso esforçam-se por perder o vínculo com um patrão, o que, em última instância, lhes permite a flexibilidade necessária para se dedicarem à família ou aos seus hobbies.

Este tipo de trabalho, necessariamente mais autónomo, acompanha uma tendência que deverá intensificar-se nos próximos anos. Assiste-se, entretanto, a uma tentativa de simplificação das intrincadas funções laborais por parte e dentro das empresas. Certas áreas, que passam pela administração dos recursos humanos e pelas comunicações, podem já ser asseguradas a partir da residência dos responsáveis por essas competências. Daqui resulta um atrofiamento progressivo das demarcações dentro de uma empresa mas, ao mesmo tempo, uma expansão do espectro de oportunidades para "free-lancers" e outras pessoas que trabalham numa base independente.

Factores psicológicos

Agora que o contrato tradicional de trabalho se vai erodindo nas suas cláusulas principais, a separação entre o trabalho autónomo e um trabalho mais corporativo vai-se afundando. Na realidade, é do interesse dos trabalhadores de ambos os tipos assumirem plena responsabilidade pelas suas competências profissionais e pela sua progressão financeira. Mas há diferenças que subsistem, algumas de ordem psicológica. Quando se trabalha para uma entidade empregadora, tem-se uma rede de segurança sustentada, um planeamento de reforma elaborado e uma série de direitos ao abrigo da legislação em vigor. A ter em conta são também o apoio e a camaradagem entre os membros da comunidade de trabalhadores de uma empresa, com os quais se estabelecem tantas vezes relações de grande proximidade.

Os trabalhadores que abandonam um emprego seguro e decidem tentar a sua sorte numa base mais autónoma são, não raras as vezes, confrontados com uma certa inoperância face aos recursos mínimos em que podem confiar e a uma responsabilização e controlo galopantes de todas as áreas em que se ramifica a sua actividade. As redes de protecção desaparecem, bem como a garantia de uma remuneração periódica. A liberdade de movimentos tem o seu preço. O balanço entre o trabalho e a vida fora do escritório pode ser difícil de aferir. E o trabalhador pode achar-se na posição de ter de laborar quase a tempo inteiro, tal é a absorção de intelecto e agilidade que actividades não partilhadas demandam.

Mitos e factos

Por ainda não estar radicada no funcionamento mais costumado da actividade profissional, o trabalho autónomo encontra-se atravessado de mitos. Mitos, aliás, que a sua própria essência pode induzir. A busca incessante de autonomia por si só não constitui um pré-requisito de sucesso. Muitos operadores há que se preocupam menos com questões de liderança e mais com a realização pessoal no uso pleno das suas capacidades.

Estes trabalhadores não têm de ser sempre empreendedores visionários, que gostam de correr riscos diários. O que importa é que sejam organizados, se mostrem capazes e consigam produzir com os menores custos.

Helder Gomes






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