Relógios, Zeitgebers e sincronização
A maioria dos ritmos biológicos
são produzidos por sistemas bioquímicos e/ou anatomo-fisiológicos
auto-oscilantes: os relógios biológicos. Como exemplos,
temos o nódulo sinoatrial no coração, uma rede de
células especializadas que, de modo auto-sustentado, gera ritmicidade
eléctrica que se espalha por todo o miocárdio através
de uma rede de fibras especializadas (feixe de His e rede de Purkinge).
Outro relógio importante no humano é o núcleo supra-quiasmático,
que como o nome indica, é um núcleo neuronal hipotalâmico
situado por cima do quiasma óptico. Este relógio gera um
ritmo circadiano de sono-vigília auto-sustentado, em cooperação
com a glândula pineal (produtora de melatonina).
Como os relógios artificiais de pulso, os relógios biológicos
possuem uma estrutura oscilante (oscilador), estruturas de output (os
pioneiros do relógio) e estruturas de input (para acertar o relógio).
No relógio do sono-vigília, o oscilador é o núcleo
supra-quiasmático (NSQ), o output são as flutuações
da melatonina no plasma e as vias de input são os feixes retino-hipotalâmicos
que permitem a sincronização da ritmicidade do NSQ pelas
flutuações da luz do ambiente (ciclo claro-escuro).
Na ausência de ciclo claro-escuro o NSQ apresenta um ritmo com um
período espontâneo (t) de cerca de 33.5 horas. Os feixes
retino-hipotalâmicos permitem que o ciclo claro-escuro arraste o
NSQ para um período sincronizado (t) de 24 horas.
A este processo de alinhamento dos períodos e acrofases dos ritmos
por factores externos ao relógio chama-se arrastamento ou sincronização
externa. Os factores externos ao relógio de natureza rítmica
que arrastam ritmos biológicos chamam-se sincronizadores ou Zeitgebers
(do alemão, Zeit=tempo;
geber=dar). O ciclo claro-escuro é um exemplo de um Zeitgeber.
O que acontece frequentemente no trabalho por turnos é um arrastamento
de ritmos por alterações nos Zeitgebers, o que determina
uma dessincronose em virtude de os ritmos não possuírem
as mesmas velocidades de arrastamento face aos diversos sincronizadores.
Por outro lado, nos humanos a maioria dos ritmos biológicos arrastam-se
mais depressa no sentido horário (atraso) do que no sentido anti-horário.
Assim, as rotações anti-horárias no TT são
cronofisiologicamente contra-indicadas. Contudo, não são
apenas os factores fisiológicos que pesam na problemática
do TT.
Outro aspecto a ter em conta nos estudos sobre o TT é o efeito
de mascaramento (masking effect). Consiste em alterações
na "forma" da curva (representação gráfica
do ritmo) em resultado de interferências. Por exemplo, dormir baixa
a temperatura corporal e permanecer acordado aumenta-a. Assim, se um indivíduo,
que dorme habitualmente de noite e está activo de dia, permanece
acordado numa determinada noite e dorme na manhã seguinte, a sua
curva da temperatura apresentar-se-á achatada de manhã e
"elevada" à noite, podendo mesmo a curva aproximar-se
de uma recta.
Isto é, embora o relógio não se altere por arrastamento
(uma só noite), o ritmo expresso apresenta uma alteração
de amplitude. Em suma, os efeitos de arrastamento dizem respeito a alterações
de acrofases, enquanto que os efeitos de mascaramento dizem respeito a
alterações de amplitudes.
Fonte RHM (continua)