Qual o nível de RS de uma empresa?
(25-10-2006)
Carla Marisa Magalhães *
ebcarla@fgv.br
A RS pode e deve ocorrer a dois níveis – interno e externo. A RS interna está voltada para o corpo funcional da empresa, com ênfase em áreas como a educação e formação profissional, a política de remuneração, incentivos e progressão na carreira, os benefícios de assistência médica e social, as condições de trabalho e as actividades culturais, sendo que, sempre que possível, não devem ser esquecidos os familiares directos dos funcionários nem os ex-funcionários. Assim, apesar do objectivo principal das empresas ser a obtenção do maior lucro possível para satisfazer os accionistas, não podemos ignorar que isso é conseguido à custa da dedicação e produtividade dos funcionários, o que deriva do bem-estar dos mesmos. Logo, embora as empresas se devam preocupar com a questão da RS de forma substantiva, não podem ser criticadas por visarem também objectivos de ordem instrumental, desde que os mesmos não retirem à acções socialmente responsáveis o carácter permanente e autêntico que elas devem ter.
A RS externa, por seu turno, estando virada para a comunidade externa, passa por dois pólos essenciais: a comunidade em si e o meio ambiente. No que diz respeito à comunidade, as acções de apoio podem passar por áreas tão diversas como a cultura, a educação, o desporto, a saúde, a segurança, a urbanização e habitação, a ajuda a grupos especiais, como crianças e adolescentes (em particular aqueles que se encontram em risco social), idosos, deficientes, pessoas carenciadas, mulheres e/ou mães em risco social e desempregados, entre outros. Também são aqui encorajados apoios a entidades sem fins lucrativos e a campanhas e projectos de interesse público. O voluntariado também deve ser incentivado, tanto ao nível interno, como ao nível externo, sem qualquer tipo de prejuízo para os funcionários.
Em relação à preservação do meio ambiente, devem ser tomadas medidas de prevenção à poluição e de recuperação ambiental, tanto por iniciativa da empresa, como mediante o apoio a projectos ambientais.
Por fim , é importante referir que as empresas devem ter uma preocupação geral no que diz respeito à RS, não só tentando disseminar esses valores por todo o seu corpo funcional, mas também escolhendo os seus fornecedores, tendo em conta os padrões éticos e as práticas sociais e ambientais levadas a cabo pelos mesmos.
Assim, embora uma empresa não tenha que actuar em todas estas áreas para ter uma conduta socialmente responsável, deverá desenvolver as suas acções de forma equilibrada e tendo em conta o contexto interno e externo.
Porém, nem sempre a empresa adopta estas duas dimensões, podendo actuar ao nível de uma só. De acordo com Francisco Paulo Neto e César Froes, a RS “plena” apenas ocorre quando a empresa actua fortemente aos dois níveis. Já a situação oposta ocorre quando a empresa possui baixos graus de RS interna e externa, sendo típica de empresas sem consciência social.
Temos ainda as empresas que possuem um alto grau de RS externa e um baixo grau de RS interna, que corresponde às que utilizam o marketing social como uma estratégia promocional e encobridora da má gestão dos seus recursos humanos. Por fim, o baixo grau de RS externa e alto grau de RS interna, caracteriza as empresas que já começam a preocupar-se com questões de cidadania, pois primeiro investem no bem-estar social dos seus funcionários para, em seguida, fortalecerem a sua actuação junto da comunidade envolvente.
Assim, este modelo demonstra que a verdadeira RS só existe numa empresa quando esta se preocupa com o seu público interno e externo e, até mesmo, com a sociedade como um todo.
De facto, a RS, assumida de um modo consistente e inteligente pela empresa, pode contribuir de forma decisiva para a sustentabilidade e desempenho empresariais. E seguindo esse caminho as empresas poderão alcançar fortes ganhos de produtividade, sem comprometerem o tão necessário Desenvolvimento Sustentável!
*Carla Marisa Magalhães é pesquisadora na área da Responsabilidade Social e doutoranda em Ciências Empresariais, na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, em parceria com a Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro.