Carreiras

Cultivando a Responsabilidade Social



01.01.2000



  PARTILHAR




Cultivando a Responsabilidade Social
(13-10-2006)

Carla Marisa Magalhães *
ebcarla@fgv.br


Não existe Responsabilidade Social sem uma cultura socialmente responsável! Com efeito, a Responsabilidade Social está umbilicalmente associada à cultura, pois esta é a sua base, a sua nascente, o seu “útero”. Logo, é impossível descurar a cultura no que toca a esta questão, sendo nesse ponto que uma organização deve começar a actuar, caso pretenda implementar uma política socialmente responsável.
E para termos uma melhor compreensão acerca desta relação crucial, vejamos as opiniões de alguns estudiosos sobre as questões culturais.

Comecemos com uma opinião interna. De acordo com José Gonçalves das Neves, especialista português em Comportamento Organizacional, uma vez que a cultura tem uma função aglutinadora entre os esforços e as vontades das pessoas que integram uma organização, é importante que as práticas de gestão sejam congruentes com essa função cultural. Logo, a cultura organizacional é um dos factores que maior influência exerceu, ao longo dos últimos anos, na definição e evolução das decisões administrativas.

No mesmo sentido caminha a opinião de Lívia Barbosa, uma importante antropóloga brasileira, para quem a cultura é um “superorganismo” que orienta os indivíduos numa determinada direcção. Segundo a autora, as palavras cultura e destino podem confundir-se, pois a dimensão cultural em muito determina o futuro de um país, já que ela influencia a tomada de decisões, nomeadamente em termos organizacionais.

Clifford Geertz, um conhecido antropólogo norte-americano, afirma que a cultura funciona como um centro produtor de mecanismos de controlo, gerando comportamentos. É com base na cultura que os homens comunicam e desenvolvem as suas actividades ao longo da vida. Logo, se a cultura organizacional produz comportamentos, condicionando a visão que cada um tem do mundo, ela influencia o homem nas suas decisões e atitudes, em todos os níveis, nomeadamente ao nível profissional e, mais concretamente, no que diz respeito às práticas de gestão.

Mas é Geert Hofstede , um famoso antropólogo de origem holandesa, quem vai mais longe, ao estabelecer uma “hierarquia” dentro do termo cultura, pois afirma que as culturas organizacionais são uma espécie de sub-culturas de uma cultura nacional, a qual influencia fortemente a forma de administrar.

Se assim for, estamos perante um duplo desafio: o de “aculturar” cidadãos e o de “aculturar” funcionários. Ou seja, se num país, os cidadãos não cumprem grande parte dos seus deveres, pois estão mais preocupados em ver respeitados os seus direitos, como é que nas empresas, esses mesmos cidadãos, irão actuar? De facto, compete aos governos de cada país, levar a cabo grandes campanhas de consciencialização social, económica e ambiental, para que todos possam compreender que a Responsabilidade Social diz respeito a cada um, a título individual, e não apenas às empresas e aos seus integrantes.

Daí a enorme importância da Teoria dos Stakeholders, que defende que a organização se deve preocupar com todos os públicos diferentes com os quais interage (e vice-versa!). E é aqui que surge o segundo desafio, que é o de consciencializar os responsáveis organizacionais no que diz respeito à necessidade de se desencadearem políticas autênticas de Responsabilidade Social, partindo das organizações em direcção a todos os seus públicos (internos e externos). E em ambos os casos, é por intermédio da cultura que se começa a actuar!

Como? Educando mentes, dando o exemplo a partir de cima, estimulando comportamentos, dando incentivos legais, fazendo cumprir a lei… Sim, porque a cultura não é fixa, nem rígida, nem inalterável! A cultura, embora tenha bases sólidas, pode ser moldada e reconstruída, de acordo com os contextos, com as circunstâncias e com as acções que são desencadeadas nesse sentido, quer por parte dos nossos governantes, quer por parte dos nossos empresários.

E se é verdade que existe uma hierarquia neste processo inicial de aculturação, não é menos verdade que a partir do momento em que ele se inicia, todos passam a influenciar todos, numa simbiose tal, que dificilmente se volta atrás! Daí ser tão importante compreender a relação existente entre a Responsabilidade Social e a cultura e saber como actuar ao nível desta vertente tão complexa, mas que ao mesmo é a chave para compreender e controlar muitos fenómenos soais!


*Carla Marisa Magalhães é pesquisadora na área da Responsabilidade Social e doutoranda em Ciências Empresariais, na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, em parceria com a Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro.





DEIXE O SEU COMENTÁRIO





ÚLTIMOS EMPREGOS