Pensar, sentir e agir: o triângulo crítico
O choque cultural possui três níveis
que é necessário gerir para enfrentar o stress da transição,
mudar a percepção e interpretação dos conhecimentos
e comportamentos (incluindo a sua re-significação)), e desenvolver
assim as suas capacidades de socialização.
Esses níveis são o Pensar, Sentir e Agir.
Ao nível do pensar há
a referir que viver num ambiente familiar bem estruturado e previsível
facilita a compreensão das expressões, dos gestos e das
regras culturais. Mas, se já é difícil geri-los no
seu próprio país, é necessário adicionar o
factor intercultural aos seus problemas e a complexidade atingirá
uma nova dimensão. As diferenças culturais são mais
evidentes na forma como as pessoas se comportam (particularmente em grupo).
Qualquer quadro internacional facilmente encontrará estas diferenças,
desde a forma de cumprimentar (em alguns países asiáticos
e africanos, a primeira coisa que se deve perguntar a alguém conhecido
é "como está a família"), no vestuário,
nos hábitos alimentares, na conduta à mesa, dentro e fora
do trabalho, etc.
Ao nível das emoções (sentir),
é de referir que combinar as emoções com a inteligência
é um dos factores mais importantes para o sucesso. Em 1996, David
Goleman, autor do famoso livro "Emotional Intelligence", introduziu
o conceito de inteligência emocional no mundo da gestão.
Ela consiste na capacidade de nos conhecermos a nós próprios
e aos outros, de sermos sensíveis e capazes de controlar as nossas
emoções, de sermos sociáveis, ao mesmo tempo que
aproveitamos o nosso potencial intelectual. Saber lidar com a pressão
do trabalho no estrangeiro está intimamente relacionado com a inteligência
emocional. As emoções influenciam o desempenho, a capacidade
de lidar com tarefas complexas, bem como as relações interpessoais
e as capacidades de gestão.
O ponto de partida para a adaptação a um ambiente de trabalho
estrangeiro ou internacional consiste em antecipar os desafios que provavelmente
enfrentará; se não o fizer ficará exposto a depressões
profundas. Após isto há que efectuar uma análise
pessoal, reflectindo sobre os seus principais pontos fortes e fracos e
as diferenças mais marcantes entre a sua cultura de pertença
e a cultura do país hospedeiro. É importante que o quadro
internacional se concentre nos aspectos positivos e procure apoio, falando
acerca dos seus problemas com amigos mais próximos ou colegas de
trabalho em quem possa confiar.
Seguidamente, deve aprender a analisar a forma como interpreta as situações
a que está exposto, cruzando a sua perspectiva com a de outras
pessoas mais experientes; será que a sua forma de interpretar é
"normalmente" realista, ou cria expectativas exageradas (positivas
ou negativas)? É necessário (re)lembrar que a vida não
tem que ser perfeita, donde é necessário saber distinguir
as situações que consegue e que não consegue controlar,
tentando fazer algo em relação às primeiras e ser
pragmático em relação às segundas, não
ficando demasiado absorvido ou mesmo "preso" em relação
às que não consegue mesmo resolver.
Finalmente, a terceira dimensão do fenómeno, refere-se ao
agir (comportamento). O contexto
familiar, ao qual estamos habituados e no qual o nosso comportamento faz
sentido, pode ser encarado negativamente numa nova cultura. Por exemplo,
a rectidão, a firmeza e a comunicação explícita,
directa e frontal, podem ser atributos positivos nos Estados Unidos e
na Grã-Bretanha, mas são encaradas como atitudes inadequadas
na China e em muitos outros países asiáticos, africanos
e latinos. A identidade pessoal é abalada e pode levar-nos a ter
que redefinir, integrando as novas experiências e reacções,
no nosso velho "eu".
É verdade que a identidade e objectivos pessoais são determinados
pelas experiências passadas pelos hábitos e tradições
familiares bem como pelo contexto profissional e social. Para alcançar
estabilidade pessoal e social, há que manter um bom relacionamento
familiar, preservar os amigos, ter um emprego, entre outros. No entanto,
tudo isto se pode alterar se formos trabalhar e viver para outro país,
porque os padrões sociais e organizacionais que conhecemos podem
não existir ou ainda, porque os modelos implícitos de organização
podem ser radicalmente diferentes ou mesmo opostos, o que faz com que
nos sintamos deslocados do contexto. Os quadros internacionais, não
raras vezes se queixam de dificuldades a nível de integração
social, o que lhes provoca séries crises de identidade ou situações
de isolamento.
Contudo, uma vez ultrapassadas as dificuldades iniciais, o resultado é
normalmente positivo. Pesquisas realizadas junto de diversos quadros internacionais
identificaram as principais mudanças a nível da personalidade
como consequência directa do trabalho, nomeadamente, maior confiança,
flexibilidade, capacidade para ouvir os outros, tolerância, sensibilidade
a outras culturas e sentido de independência.
Fonte RHM (continua)