“Não se deveria falar de interior em Portugal”
“Sem disciplina e organização o talento não nos serve de muito” é o lema de Paulo Júlio, o novo diretor-geral do grupo CBI, com fábricas de confeção em Mangualde Arganil e Cabo Verde, 700 trabalhadores e uma carteira de clientes que junta a Massimo Dutti, Polo Ralph Lauren, Calvin Klein e Sacoor.
A viver em Coimbra, com uma carreira dividida entre os negócios e a política, este antigo secretário de Estado do Governo social-democrata de Passos Coelho admite que pode ser mais difícil fixar um quadro em Viseu do que em Lisboa, mas faz questão de alinhar “na defesa das mais-valias dos territórios de baixa densidade”. “Temos cada vez mais jovens a “Não se deveria falar de interior em Portugal” Paulo Júlio 52 anos, é o novo diretor-geral do grupo têxtil CBI privilegiar a qualidade de vida, conscientes das vantagens de uma opção de vida fora das grandes metrópoles”, afirma, admitindo que a pandemia e o teletrabalho contribuíram para esta tendência.
“Não se deveria falar de interior em Portugal”, sustenta com base num argumento prático: “Quando se atravessa o país desde a costa atlântica à fronteira com Espanha, percorremos apenas 200 quilómetros.” Mas com esta frase procura também deixar de lado o estigma “do coitadinho, ainda muito colado ao interior”.
A prova, afirma, é a existência de projetos empresariais bem-sucedidos em zonas de menor densidade, da Frijobel, onde trabalhou e que apresenta como “uma das maiores unidades do país na área dos ultracongelados”, à CBI, “uma referência no têxtil, a exportar 95% do que faz para a Europa e Estados Unidos”.
Sabe que está a estrear-se num novo sector num “momento difícil”, com todas as condicionantes impostas pela guerra a Leste no momento em que a fileira têxtil mostrava sinais de recuperação da pandemia. No entanto, acredita que “um líder tem de ser realista, mas também otimista”, e a experiência já lhe mostrou que “é possível uma empresa crescer numa conjuntura adversa, tomando as decisões certas atempadamente”.
No caso da CBI, os desafios passam por manter o crescimento do grupo, reforçar a internacionalização, investir na sustentabilidade e transição digital, relançar a marca Carlo Visconti e desenvolver a área corporate, designadamente fardas para companhias de aviação e outras entidades, resume este engenheiro que gosta de citar Alberto Caeiro: “Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo…/ Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer/ Porque eu sou do tamanho do que vejo/ E não do tamanho da minha altura...”
FORMAÇÃO
Engenharia Eletrotécnica e Mestrado em Automação Industrial pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
MISSÃO
Ajudar a desenvolver territórios com menos pessoas, provando que projetos empresariais podem ser bem sucedidos e ter ambição, apesar da distância às áreas metropolitanas
AMBIÇÃO
A nível profissional quer “ajudar ao crescimento inovação e organização do grupo CBI”, assente no pilar da sustentabilidade. Na vida pessoal, como pai, gostaria de ver os filhos encontrarem uma profissão “que encaixe nas suas vocações e talentos” e lhes permita continuar em Portugal
PERCURSO
Começou a carreira em 1993 como investigador da Junta Nacional de Investigação Científica, saltou para a Marcopolo Portugal, onde foi diretor-geral da fábrica portuguesa e diretor comercial na Europa, em
2005 estreou-se na carreira política como presidente da Câmara de Penela, de onde saiu em 2011 para a Secretaria de Estado das Autarquias Locais e da Reforma Administrativa. Antes da CBI foi presidente-executivo da Frijobel Indústria e Comércio Alimentar
HOBBIES
Fazer longas caminhadas, ler, desfrutar da gastronomia portuguesa e cinema
ÚLTIMAS LEITURAS
“Almoço de Domingo”, de José Luís Peixoto, e “Memórias”, de Francisco Pinto Balsemão
Texto Margarida Cardoso
Foto Rui Duarte Silva