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Os problemas do TT como entidade clínica



01.01.2000



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Os problemas do TT como entidade clínica

Os problemas de saúde associados ao TT são de tal modo importantes que merecem o estatuto de "quadro clínico" nas classificações oficiais de doenças (ICD-10, DSM-IV e ICSD-97). Dado que a ICD (International Classification of Diseases da OMS) e a DSM (Diagonostic and Statistical Manual, da Associação Americana de Psiquiatria) classificam os problemas associados ao TT como "distúrbio do sono e da vigília", remetemo-nos para a International Classification of Sleep Disorders (ICSD), revisão de 1997.

A ICSD divide os distúrbios do sono em 4 grupos: as dissónias (perturbações do sono propriamente dito), parassónias (acontecimentos sensorio-motores, vegetativos ou cognitivos que ocorrem durante o sono "normal"), as perturbações do sono associadas a doenças médicas e psiquiátricas e um quarto grupo de distúrbios do sono propostos (para os quais há informação insuficiente para merecer o estatuto de entidade diagnostica). O grupo das dissónias subdivide-se e, três subgrupos: distúrbios do sono intrínsecos (as causas estão no corpo), extrínsecos (as causas estão no ambiente) e distúrbios do ritmo circadiano do sono.

No subgrupo dos distúrbios do ritmo circadiano do sono incluem-se o síndroma do "jet lag" (mudança de fusos horários), o distúrbio de sono do trabalho por turnos (DSTT)e mais 5 outros distúrbios. Na ICDS o TT , codificado com o número 307.45-1, é definido como um conjunto de sintomas de insónia ou sonolência excessiva que ocorrem associados a escalas horárias de trabalho. A quantidade habitual de sono perdido é da ordem das 1 a 4 horas por episódio de sono, o sono é avaliado como insuficiente, há redução da capacidade de vigilância e as queixas persistem a despeito de manobras de optimização do ambiente, mesmo ao fim de muitos anos de TT.

Num caso de DSTT em seguimento na Unidade I&D de Psicofisiologia e Neuropsicologia do Laboratório de Psicologia da Universidade do Minho, o doente trabalha há 36 anos em turnos rotativos semanais (numa fábrica do sector químico). Apresenta gastralgias, dispepsia, refluxo gastro-esofágico, úlcera duodenal, perturbações vasculares (estase nos membros inferiores), irritabilidade, tristeza, desinteresse e incapacidade para dormir mais de 3 horas, mesmo nas semanas em que trabalha em turnos diurnos.

Está medicado com antiácidos, ranitidina (300mg por dia), 20mg de vincamina (vasodilatador cerebral) 3 vezes ao dia, 4 mg de estazolam (hipnótico benzodiazepínico) ao deitar. Tem vindo a apresentar muitas licenças prolongadas por doença. Apesar de toda a medicação, persistem as queixas, sobretudo as do foro psiquiátrico: "depressão" e insónia grave. Na cama passa a maior parte do tempo a virar-se para um lado e para o outro: Citando o doente, "são muitos anos a virar frangos".


Fonte RHM (continua)






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