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Onde estão os seus futuros clientes?



01.01.2000



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Onde estão os seus futuros clientes?

A população residente em Portugal cresceu cerca de 5% entre 1991 e 2001. Esta é a principal conclusão do Recenceamento Geral da População e da Habitação - o Censos 2001 - cujos resultados provisórios foram publicados no início do ano. Na última década, a população residente no nosso país chegou a 10 milhões de habitantes, 51,72% deles do sexo feminino. Este é, sem dúvida, um dado importante. No entanto, diz muito pouco sobre a evolução da população, não reflecte as alterações, mais ou menos profundas que ocorreram. Muito mais decisivo para qualquer empresa é saber quem são e onde estão os residentes no nosso país, ou seja, quem são e onde estão os seus potenciais clientes.

Ao nível da distribuição da população no território, manteve-se a tendência, cada vez mais óbvia, de concentração junto à orla costeira. "Existe uma acumulação crescente na faixa litoral, de Norte a Sul", refere Fernando Casimiro, director do Departamento de Estatísticas Censitárias e da População do INE - Instituto Nacional de Estatística. Continua a haver uma fuga do Interior e um aumento substancial do número de pessoas que residem no Litoral, nomeadamente nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. No entanto, e como também se refere com frequência, os centros históricos das duas maiores cidades do país possuem uma população que está a decrescer fortemente.

O Porto viu a sua população residente descer em quase 40 mil pessoas, representando 13,07% em dez anos, enquanto Lisboa perdeu mais de 106 mil residentes, o que representa uma quebra de 16%. Em contrapartida, entre os concelhos que mais cresceram em valores absolutos encontram-se Vila Nova de Gaia, com mais 40 mil pessoas e, sobretudo, Sintra, com mais 102 mil residentes numa década. Ou seja, em cada mês algo como 850 pessoas estabeleceram a sua residência neste concelho. Se os números podem impressionar, a tendência, essa, é a que se tem verificado desde há muitas décadas.
Assim, é claro que, numa primeira aproximação, é aqui que um novo negócio tem mais hipóteses de captar mais clientes.


Refira-se ainda o crescimento exponencial da população residente no Algarve. Esta região foi, aliás, segundo os resultados provisórios, a região que mais cresceu em todo o país: 15,8%, isto apesar de alguns concelhos evidenciarem descidas populacionais importantes, em termos relativos, tais como Alcoutim e Vila do Bispo. Por outro lado, os concelhos que mais cresceram, e a níveis muito elevados, foram Albufeira (mais de 50% de crescimento, o concelho que mais cresceu em todo o país), São Brás de Alportel (33,3%), Loulé (27%) e Vila Real de Santo António (24,7%).

Cidades renascem
Mas há factores novos a realçar. Uma série de cidades de dimensão média, longe do Litoral, estão a ganhar população ao longo desta última década. Ao nível nacional, é importante notar que houve concelhos, longe da costa, que cresceram entre 10,5% e 21,6%. Foram os da Guarda, Viseu, e os concelhos limítrofes de Coimbra. De referir ainda outros crescimentos, ainda que menos acentuados, no Interior: Bragança, Mirandela, Chaves, Vila Real, Castelo Branco, Évora, entre outros. Hoje, a população já não faz necessariamente um percurso Interior-Litoral puro, ou seja, com o Litoral sempre a crescer e o Interior sempre a diminuir.

O que se verifica é que há, em toda a faixa interior, un conjunto de concelhos que capitalizam população. Assim, existem cidades no interior do país que estão a crescer, que demonstram ter uma certa atractibilidade. Como se explica este fenómeno? Fernando Casimiro indica algumas razões: "Isto tem a ver com o facto de haver, hoje, nas aglomerações de média dimensão, já disponíveis, um conjunto de estruturas que contribuem significativamente para melhorar a vida das populações: centros de saúde, escolas, hospitais, equipamentos de lazer e comerciais." Por outro lado, o facto de existirem cada vez mais estabelecimentos de ensino superior numa multiplicidade de cidades é um factor determinante na fixação da população. As zonas onde existe ensino superior, seja ele público ou privado, tenderão, por um lado, a ter uma população mais jovem e, por outro, a manter pelo menos parte dessa população. Pode ser acertado apostar num destes concelhos para investir num pequeno negócio, sujeito, obviamente, a uma análise mais aprofundada.

O facto de estarmos a caminhar para uma economia de serviços e a facilidade crescente nas comunicações também são razões de peso para esta tendência. O director do Departamento de Estatísticas Censitárias e da População do INE afirma: "Uma das condições fundamentais para que as populações se fixem em determinado local do Interior é ganharem a percepção que, pelo facto de aí residirem, nada lhes vai faltar." E, além disso, têm a vantagem de ter uma vida diária muito menos agressiva.
Assim, faz cada vez mais sentido colocar empresas - de serviços e comércio mas não só - em certas localidades do Interior do país. Isto não tanto pelo número de pessoas que aí reside, mas sobretudo porque, se a tendência se mantiver, é provável que vá crescendo.

Estamos a ficar velhos...
Fernando Casimiro alerta: "O que sucede é que, em Portugal, a população está a envelhecer a olhos vistos." De facto, um factor determinante na população residente em Portugal é que ela está mais velha. O relatório afirma mesmo que "[u]m dos aspectos mais marcantes da evolução demográfica recente é, sem dúvida, o envelhecimento da população a um ritmo bastante forte".

Pela primeira vez na nossa história, a proporção de cidadãos idosos (ou seja, com 65 ou mais anos) ultrapassou a dos jovens (dos 0 aos 14 anos, inclusive), com, respectivamente, 16,4% e 16%. Refira-se ainda que 53,3% da população residente em Portugal em 2001 tinham de 25 a 64 anos e 14,3% tinham uma idade compreendida entre15 e 24 anos. Aqui também se verificam algumas assimetrias regionais que é bom ter em conta. Exceptuando as ilhas, que são, de longe, as regiões onde a população é proporcionalmente mais nova, o Norte do país é mais jovem, enquanto o Alentejo é mais velho.

Não é nada que espante particularmente. Mas é um dado a considerar se se quiser abrir um negócio. Há sítios, definitivamente, onde uma empresa de serviços para a terceira idade faz muito mais sentido do que uma creche ou uma discoteca. E o que é importante é compreender que a situação, em princípio, só se vai acentuar.
Este fenómeno é indissociável dos crescimentos e decréscimos referidos anteriormente. Fernando Casimiro explica que, se um concelho tem uma população mais envelhecida, para perder população daqui a dez anos não precisa que saia de lá ninguém. Enquanto uma zona que tem uma população mais jovem, para ganhar população em dez anos também não precisa de receber muita gente. "Uma população jovem tem tendência a multiplicar-se, enquanto uma população envelhecida tem tendência a reduzir."

A implosão das famílias
Em relação às famílias, o facto mais significativo é a diminuição do número médio de pessoas por família. De 3,4 pessoas por família em 1981, passou para 3,1 em 1991 e é agora (em 2001) de 2,8. Vários são os factores que levaram a esta diminuição do tamanho das famílias, mas o mais importante, para o director do Departamento de Estatísticas Censitárias e da População do INE, é, sem sombra de dúvida, a explosão que se verificou no parque habitacional no nosso país. Um crescimento que foi de nada menos do que 20,6%. A dimensão média familiar tem muito a ver com o acesso à habitação. Se este for restritivo, a dimensão média da família tende a permanecer em valores muito elevados. À medida que o acesso se torna menos restritivo, o número de pessoas por família também tende a reduzir-se. Agora, já só moram juntos aqueles que têm boas razões para o fazer, ou seja, já são poucos aqueles que são obrigados a morar juntamente com outros por não ter casa disponível. Fernando Casimiro dá dois exemplos: os filhos que se casam já não são obrigados a morar na casa dos pais, o que acontecia na década de 80, e os casais desavindos também já não têm de morar na mesma casa, por falta de alternativas. Recorde-se, a este propósito, os indicadores do Banco de Portugal, que mostram como o crédito à habitação representa algo como quatro quintos do crédito total concedido aos particulares em Portugal.

É claro que isto está intimamente ligado ao facto de as taxas de juro terem descido muito, devido ao processo da entrada de Portugal no euro. Apesar de este estudo não o indicar - até porque não é essa a sua função -, parece haver também alguns factores sociológicos a ter em conta. Um outro aspecto que também leva a dimensão familiar a cair é o facto de haver uma população envelhecida e uma esperança de vida que está a crescer. Aumenta, assim, a quantidade de pessoas idosas que vivem sozinhas. Acrescente-se igualmente o facto de os casais, hoje em dia, terem menos filhos do que há uma e, sobretudo, duas décadas atrás. A este propósito, note-se o indicador seguinte: as famílias com cinco ou mais pessoas passaram de 25% do total há 20 anos atrás para 20% em 1991 e actualmente não representam mais do que 11,4% de todas as famílias residentes no país.
Ligado a esta realidade está, mais uma vez, o aumento de alojamentos, que cresceu em flecha. Com o alojamento, surge uma série de necessidades que podem ser satisfeitas com a oferta de produtos e serviços. Um exemplo, entre muitos possíveis, é o dos electrodomésticos.

Enquanto uma máquina de lavar, um fogão, um frigorífico ou uma televisão servia - e chegava - para cinco ou seis pessoas, hoje já só é utilizada por três ou mesmo duas. Apesar de a população ter crescido pouco, o aumento do número de famílias, associado ao crescimento dos alojamentos, leva a que o mercado de produtos e serviços para o lar aumente também. Aqui, é igualmente importante referir as zonas do país onde as famílias, em média, são mais pequenas (Interior-Centro, Alentejo e parte do Algarve) e as zonas onde ela é maior (Litoral-Norte e ilhas).
Mais casas de férias
Outro facto que salta à vista neste Censos 2001 é o aumento do número de segundas residências em Portugal. Segundo este recenseamento, actualmente, as residências de uso sazonal já representam 29% do total de alojamentos. O seu crescimento, nesta última década, foi superior a 40%. "A segunda habitação cresceu, entre 1991 e 2001 como nunca tinha crescido", refere o director do Departamento de Estatísticas Censitárias e da População do INE. Apesar de, em termos absolutos, a localização destas residências se situar, essencialmente, nas zonas balneares, é interessante verificar que os locais onde se dá um maior crescimento (entre 68% e 165%) são, grosso modo, os mesmos onde se verificam maiores descidas da população residente. A saber: uma faixa no Baixo Alentejo, outra no Alto Alentejo, dois concelhos no Algarve (um deles no interior) e cinco concelhos dispersos no Norte do país. Estes últimos podem provavelmente ser explicados pela população portuguesa emigrada mas que constrói ou mantém casa na sua terra natal.

Mas este aumento, ainda que com valores menos espectaculares, acontece também no resto do país. Fernando Casimiro explica: "A importância relativa, hoje em dia, dos alojamentos de uso sazonal está praticamente espalhada por todo o território. Quanto maior é o peso da população, menor é o peso dos alojamentos sazonais. Há actualmente uma quantidade significativa de pessoas que já não procura a segunda habitação encostada à orla marítima." Diminui assim a fuga para o Litoral, no que diz respeito a alojamentos de uso sazonal.
O que é importante notar é que, apesar de haver perda de população importante em alguns destes concelhos, não deixam de existirem boas oportunidades de negócio. Tudo o que tem a ver com a decoração é um exemplo. Mas não é difícil pensar noutros.

Conclusão
Como se vê, não basta dar uma vista de olhos rápida pelos números globais. Uma análise mais fina dos resultados provisórios deste recenseamento geral à população e à habitação pode permitir ao investidor atento descobrir várias oportunidades de negócio em lugares insuspeitos.

PEDRO ARY


Fonte: texto adaptado da revista Negocios & Franchising do IIF-Instituto de Informação em Franchising.

 







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