A paixão pelos animais
Bombeiro, policia e padre. Sonhos de criança
que não passaram disso mesmo mas que deixaram boas lembranças.
Paixões tinha duas: a veterinária e o direito. Ganhou a
primeira e, contra a vontade do pai, dedicou toda uma vida ao que mais
amava - os animais e a terra. Sente-se plenamente realizado e é
como Director da Escola Superior Agrária de Santarém que
entrevistámos Henrique Soares Cruz.
Quando era criança,
lembra-se se tinha alguns projectos para o futuro?
Por acaso lembro-me. Já começo a ter uma boa percepção
do passado. Tive aquelas ideias todas de miúdo. Quis ser bombeiro,
quis ser policia, quis ser aquelas coisas todas que tinham farda. Por
volta dos oito, nove anos senti um forte apelo pela fé e quis ser
padre. Quando fiz dez anos o meu pai perguntou-me se eu sempre queria
ir para o seminário. Eu comecei a pensar nas raparigas e decidi
que preferia namorar em vez de ir para padre. Depois andei sempre muito
dividido entre duas vocações: direito e veterinária.
Quando vim estudar para Santarém comecei-me a dar muito com alunos
da Escola de Regentes Agrícolas. Fiz grandes amizades e tornei-me
um grande aficionado nas corridas de touros e nos cavalos. Acabei por
contrariar ao máximo o meu pai, que queria que eu fosse advogado,
e matricular-me na Escola de Regentes Agrícolas, em 1961-1962.
A seguir ao curso fiz um estágio em Angola e já não
me deixaram regressar por causa da tropa. Acabei por ficar por lá
cerca de nove anos. Fiz por ali carreira profissional como regente agrícola
e como militar. Depois fui estudar veterinária ao mesmo tempo que
trabalhava mas vim acabar o curso em Portugal.
Quando acabei o curso de veterinária [na Escola de Regentes Agrícolas
de Santarém] deu-se a coincidência de ter morrido um professor
de zootecnia, o Dr. Caldas, e de o então presidente da escola me
ter convidado para vir dar aulas. Vim em Dezembro de 1974 e fiquei até
hoje.Entre 1979 e 1987 fui deputado na
Assembleia da Republica, tendo sido também vice-presidente do grupo
parlamentar do CDS-PP e presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura.
Mas hoje em dia já não dá aulas.
Não é bem verdade. De vez em quando e sempre que é
preciso ainda dou algumas aulas. Tive que dar algumas aulas do curso de
equinicultura, ao qual estou muito ligado porque foi um curso criado por
mim. Pensei criar um curso de técnicos especialmente virados para
a equinicultura mas que também tivesse a vertente da pedagogia
equestre.
O ser Director da Escola Superior Agrária
de Santarém engloba o quê?
É dirigir a casa nos múltiplos aspectos que tem uma casa
destas. Por que isto acaba ao fim ao cabo por ser uma empresa agrícola
de alguma dimensão. Temos quase 200 hectares para governar, meia
dúzia de animais das diversas espécies, cerca de 100 funcionários,
100 professores, cerca de mil alunos. É uma casa que não
tem falta de problemas para gerir.
Apesar da sua carreira ter estado sempre muito ligada
a esta escola, qual considera ter sido o seu maior desafio profissional?
Foram dois. O primeiro foi quando saí da escola de veterinária
e tive de ir visitar o primeiro bicho doente. Estava perante um doente
que não se queixava. Na escola estudamos os sintomas mas quando
chega à vida activa é sempre outra coisa. Aquela angústia
que marca os primeiros minutos marcou-me muito. O outro tem a ver com
a primeira vez que subi à tribuna da Assembleia da Republica na
altura em que se estava a assistir à reforma agrária e tive
de falar para os "dinossauros" da política, desde Cunhais
a Mário Soares.
E, se pudesse, mudava alguma coisa no seu percurso
profissional?.
Não, não mudava. Talvez seja lugar comum dizer isto, mas
sempre fiz tudo o que sempre quis e o que gosto. Não me lembro
de ter feito nada que tivesse dito "que chatice, não me apetecia
nada fazer isto!".
Então, sente-se uma pessoa plenamente realizada?
Sim, plenamente realizada.
E que planos tem para o futuro?
Os meus planos passam pela Escola e pela região em que estou inserido.
Continuo a considerar-me disponível para estar ao serviço
da comunidade, agora como vereador. Para mim é perfeito. Desde
que tenha oportunidade de fazer coisas que contribuam. Aquilo que se chama
deixar obra. O homem passa e a obra fica.
Tem alguma coisa em mente?
Neste caso concreto, honrar uma instituição que tem mais
de cem anos. Pôr isto em condições e contribuir, de
alguma forma, para o aumento de prestigio desta casa. Toda a gente conhece
a Escola Agrícola de Santarém e acha que forma grandes técnicos.
SW