IT e biologia: duas paixões
Biologia, arquitectura, Internet e tecnologias
de informação são algumas das áreas de preferência
do arquitecto José Luiz Moutinho, country manager da Neoris. O
sonho é conciliar as tecnologias de informação com
a biologia e criar modelos de informação para o genoma humano.
Da entrevista, temos de salientar a sua boa disposição e
optimismo. Para o arquitecto, "as dificuldades têm de ser passadas
para oportunidades" e para as tecnologias de informação
não vê problemas, mas cada vez mais necessidades.
É uma pessoa de diferentes interesses, em
diferentes áreas?
Sim, bastante. É mesmo por gostar de tudo. Tive uma educação
muito eclética. A minha mãe foi a primeira ou a segunda
Engenheira na faculdade e o que eu digo é que comecei a gostar
de estudar porque eu passei o meu primeiro ano de vida na faculdade. A
minha mãe estava a tirar o último ano da faculdade e levava-me
todo o dia para lá.
Eu nasci em 69 e, no Brasil, quase não existia mulheres a tirar
cursos. A minha mãe foi a segunda mulher, na Universidade Católica
que é das mais importantes em Engenharia, a tirar o curso. Eu passei
lá o meu primeiro ano e acho que gostei.
Em criança queria ser biólogo.
Tive sempre uma paixão por biologia e até hoje. Continuo
a ler muito sobre biologia e muitas das coisas que eu faço na vida
tem um pouco de tudo. É mais uma curiosidade larga. Eu continuo
a estudar e a ler livros sobre biologia. Adoro estudar com os meus filhos
biologia.
Como foi o seu percurso académico?
Eu tive uma licenciatura em biologia e um bacharel em Zoologia. Mas, na
realidade, eu sou botânico porque eu formei-me em Zoologia, mas
a minha tese foi botânica. Como era bastante interessante, para
a época, eles aceitaram-na.
De certa maneira, a minha vida inteira tem sido misturar os conhecimentos.
Tirou, também, uma licenciatura em Arquitectura.
Sim e fiz muitos trabalhos nessa área. Fundei a Eco Arquitectura.
Eu já tinha muita experiência em termos de construção
e de gestão de equipa porque trabalhava com o meu pai. A Eco Arquitectura
era uma firma dedicada mesmo a projectos ecológicos.
Acha que tem tido sorte na sua carreira?
Eu tenho muita sorte, em todos os níveis, de encontrar as pessoas
certas no tempo certo.
E como tem sido a experiência na Neoris?
Tem sido muito interessante porque é uma experiência nova.
É a primeira vez que eu tenho um "boss" e é interessante
porque, hoje em dia, eu tenho mais poder sobre a empresa do que eu tinha
quando era sozinho. A responsabilidade continua a ser totalmente minha
com a diferença de que tenho um apoio financeiro, administrativo
e tecnológico fortíssimo da Cemex ( a Neoris é empresa
subsidiária da Cemex). É interessante porque tem um outro
nível, global, completamente diferente.
As tecnologias de informação têm
sido mais uma área na sua vida?
Desde sempre. Eu comecei a trabalhar com computadores na biologia. Quando
eu entrei na faculdade, nós ainda tínhamos os cartões
perfurados, nas cadeiras de genética. Aquilo era uma chatice.
E começou aí um pouco o meu conhecimento com os programas
de genética. Depois, sempre me dediquei muito ao estudo de ciências
cognitivas, não como pesquisador, mas leitor interessado. A similitude
que existe do computador com a cabeça, não é um pouco
exagerada e sempre me fez gostar de computadores.
Como é que vê a situação
de Portugal relativamente às tecnologias de informação
(IT) agora com a recessão?
Portugal está relativamente atrasado em relação aos
outros países a nível de investimento de IT, mas em termos
de crise isso não é visível. As últimas pesquisas
que há sobre inovação nas tecnologias de informação
revelam que Portugal está a ficar cada vez mais atrasado em relação
à Europa. Mesmo com o investimento todo, nós estamos mais
atrasados. A fase onde vai haver uma diminuição nos investimentos
ainda deve demorar, pelo menos, para o tipo de oferta que nós temos.
Todas as empresas vão precisar sempre de bons parceiros de estratégia
e tecnologia e quanto mais crise existir mais necessidade vão ter
desse tipo de parceiros. Para mim, crise é oportunidade, não
é um problema.
Qual foi o seu maior desafio profissional?
Houve vários. Tudo foi um desafio a diferentes níveis. Biologia,
por exemplo, foi um desafio. Com 20 anos já tinha dezenas de trabalhos
publicados e em algumas revistas americanas de nome.
Depois, o grande desafio profissional é conciliar aquilo que nós
temos de fazer a nível profissional com a vida familiar. Esse é
o maior desafio. Conviver com os filhos, tentar passar para eles um pouco
do que nós aprendemos.
Depois, apaixonei-me pela Internet e outro desafio foi criar do zero,
em 1994, o mercado da Internet junto com duas ou três pessoas. Nunca
imaginámos que chegasse até onde chegou, mas nós
sentíamos que tinha ali alguma coisa nova nesse caminho.
E as dificuldades, ao longo deste percurso, foram
muitas?
As dificuldades têm de ser passadas para oportunidades. É
fácil fazer as coisas. A maior limitação que as pessoas
têm é o medo de fazer as coisas.
Quais são os projectos para o futuro?
Eu tenho vontade de voltar a trabalhar com biologia e juntar, agora, biologia
com tudo o que aprendi nas tecnologias de informação e tentar
trabalhar com modelos de informação para o genoma humano.
É uma ideia que já tenho a algum tempo e que me interessa
muito.
Outra ideia, e que eu vejo que falta em Portugal, são empresas
de acompanhamento e desenvolvimento de carreira. Aqui há empresas
de recrutamento e selecção, mas não existem empresas
que possam dar um apoio e gerir, a todos os níveis, a carreira
de uma pessoa.
TP