O "número um na área biofarmacêutica"
Número 1 e único porque não
há mais ninguém a fazer o que a Biotecnol faz. Pedro de
Noronha Pissarra tem 34 anos e um currículo invejável. Pode
ser um terror dentro de um laboratório, mas é óptimo
a elaborar e a realizar projectos. Agora, aplica a sua experiência
numa verdadeira batalha pelo reconhecimento da biotecnologia em Portugal.
Fundou, em finais de 1996, a Biotecnol e acredita que reconhecendo a biotecnologia
como indústria, com investimento e inovação, esta
área tem potencial para se desenvolver.
Desde quando é que
surgiu o interesse pela biotecnologia?
Desde que eu me lembro, sempre quis ser bioquímico e nem sabia,
mais ou menos, o que isso era. Lembro-me que me deram, uma vez, um "kit"
de química pelo Natal. Eu tinha um fascínio por aquilo;
gostava de misturar e de fazer saturações na água.
A minha maior frustração foi querer fazer um tira-nódoas
para a minha mãe e não saber o trabalho científico
- fiquei irritadíssimo por não perceber o que é que
estava no tira-nódoas. Então misturava sabão e outras
coisas lá dentro...
Sempre tive esta vertente por querer descobrir coisas. Mas o que me fascina
nisto e o interesse que eu tive nesta carreira foi, essencialmente, em
produzir qualquer coisa; ter uma actividade integrada - pôr produtos
no mercado.
Hoje em dia, eles nem me deixam chegar dentro dos laboratórios
porque eu não tenho jeito nenhum. A minha carreira científica
foi sempre baseada em bioquímica teórica. Tudo dentro de
uma vertente computacional e teórica, o que não requer trabalho
de laboratório. O meu interesse, desde início, foi que queria
fazer qualquer coisa. Não sabia o quê, mas tinha de ter uma
capacidade produtiva.
Direccionava-se mais para o desenvolvimento de projectos?
Exactamente. Mesmo na universidade, as minhas melhores notas eram nas
cadeiras de projectos. Tudo o que fosse mais aplicado era onde eu me safava
pior.
Acha que teve sorte na sua carreira ou fez por apostar
nela?
Tive imensa sorte em ter a oportunidade em ir para o Kings College. Se
considerarmos sorte como o aparecimento das oportunidades ou como a criação
das nossas oportunidades, execução e aproveitamento delas,
acho que tive um bocadinho de ambas.
Acho que tive a sorte de ter uns pais que acreditaram em mim e patrocinaram
os meus estudos, o que não foi barato. E eu tirei o meu melhor
disso. Depois, foram aparecendo, ao longo da minha vida uma série
de oportunidades que aproveitei.
Estudou em Londres. Fez investigação
como cientista convidado na área da Engenharia Metabólica
no MIT - Massachusetts Institute of Tecnology - (EUA) e na Universidade
Técnica da Dinamarca. Decidiu voltar a Portugal, porquê?
Estava farto de estar lá fora. Estava lá há dez anos.
Mas sentiu que aqui as oportunidades na sua área
eram muito escassas...
Totalmente. Quando eu cheguei a Portugal, a nível da biotecnologia,
não havia nada, zero. E ainda hoje, é um assunto muito polémico.
Eu acho que a biotecnologia não é uma ciência, é
uma indústria. Existe boa ciência em Portugal e bons recursos
humanos. Agora, a integração de tudo isso é péssima.
Nessa altura, nem sequer havia, nem se falava no assunto. A biotecnologia
estava conotada como investigação nas universidades.
Eu vim para Portugal de férias, no fim do meu doutoramento. Quando
cheguei cá, houve um senhor de uma empresa farmacêutica que
me telefonou e me disse se eu gostava de lhes dar consultoria para um
projecto. Eu aceitei e, por assim dizer, comecei a criar a Biotecnol.
Depois, apareceu-me uma oportunidade no Instituto Superior Técnico
e eu aceitei.
Portanto, eu vim para Portugal porque estava farto de estar lá
fora, mas estava iludido que, cá, a indústria teria as mesmas
saídas que encontrei lá fora.
O que é que se pode fazer para modificar
esse cenário?
Tem de se fazer muita coisa. Ter criado a Biotecnol, para mim, foi uma
experiência fantástica e eu fico contente por saber que nós
somos um caso de referência para as pessoas que saem da universidade.
As pessoas olham para nós e identificam na Biotecnol uma oportunidade
de trabalho.
Agora, pode-se começar por estabelecer um bocadinho melhor as prioridades
de desenvolvimento desta área em Portugal. Se é uma área
que interessa a Portugal, então eu acho que o próprio Estado
tem que apostar nela e tem que formar pessoas que sejam capazes de avaliar
esta área como sendo uma área de reconhecimento.
Se é uma área que é reconhecida com elevado potencial
para criar empregos altamente qualificados, então, há disponibilização
de verbas (públicas ou privadas).
Portanto, primeiro tem que se apostar em pessoas que tenham capacidade
de interpretar esta área. Por exemplo, nós estamos constantemente
em Tribunal Europeu porque o nosso cenário legislativo em Portugal
não está implementado porque não há pessoas
que consigam transpor as directivas dentro de um contexto industrial em
Portugal.
Se se acredita que a biotecnologia tem um futuro em Portugal, tem de se
investir em inovação, e em empresas como a nossa, e não
em modelos de negócio completamente ultrapassados. É necessário
dinamizar a esfera de investimento para criar condições
para as empresas crescerem.
Os atentados terroristas ocorridos a 11 de Setembro
fizeram com que se apostasse mais nas empresas de biotecnologia.
Sim, isso é verdade. O armamento e a farmacêutica são
das áreas que, no caso de existir uma guerra, têm sempre
sucesso. O índex das biotecnologias, depois dos atentados, tem
vindo sempre a subir e isso tem como origem o desenvolvimento do sector.
Projectos futuros? Continuar na Biotecnol?
A Biotecnol é a minha vida, para já.
TP