Jornalista para viajar
Com um pai e um irmão pilotos, Alexandre
Brito detesta voar, mas adora viajar. Por isso, o jornalismo pareceu-lhe
uma boa alternativa para realizar esse seu "fascínio".
Jornalista da SIC Online, Alexandre contou-nos a sua história de sucesso.
Como surgiu o interesse pelo jornalismo?
Eu não tenho uma ideia fixa de quando foi. Sei que no secundário
escolhi a área de Humanidades porque queria seguir qualquer coisa
relacionada com a escrita. Também teve influência o facto
de o meu pai ser piloto. Sempre viajei muito com ele, mas não queria
ser piloto porque não gosto de voar e tinha a ideia de que o jornalismo
era uma outra profissão onde se viajava muito e se descobriam coisas
novas. Talvez, por isso, tenha optado por jornalismo.
Agarrou esta profissão e apostou nela?
Eu acho que é muito complicado, hoje em dia, para uma pessoa que
sai da faculdade conseguir entrar num sítio qualquer para trabalhar
e darem-lhe logo o valor. Eu achei que quando acabei a faculdade, e mesmo
antes, que ainda não era altura para começar a procurar
emprego porque era muito novo e não tinha a experiência que
queria. E achei também que queria sair do país.
Então, no último ano da faculdade, decidi concorrer a duas
universidades nos EUA e acabei por entrar na Universidade de Boston. Achei
que era a melhor coisa que podia fazer naquela altura para conseguir depois
emprego. Todos nós sabemos que quando uma pessoa vem de fora tem
outra experiência e isso no currículo conta. Esta foi a maneira
que eu encontrei para voltar com uma mais-valia que a grande maioria,
talvez, não tenha a facilidade de o fazer. Eu tinha a facilidade
de os meus pais me ajudarem e das viagens.
Como é que descreve essa experiência?
Em Boston, como o curso era de Jornalismo, eles obrigavam-nos a passar
lá uma temporada do Verão antes de começar mesmo
o curso para termos aulas de cultura americana, escrita jornalística,
etc. Eu fui para lá logo no Verão e comecei as aulas em
Setembro. Supostamente ia ficar lá três semestres, mas no
último semestre fui acabar o curso para Londres. A Universidade
tinha um curso especial que se podia fazer, em Londres, e que tinha uma
parte obrigatória de trabalhar enquanto estávamos lá.
Eu decidi ir para Londres e quando cheguei lá disse que queria
ir para a CNN. Tentei e consegui.
E como foi o trabalho na CNN?
A CNN de Londres é mais pequena do que a dos EUA. Mas a grande
diferença, em relação aqui, era a nível das
capacidades que eles têm para fazer coisas. Isto é, vamos
imaginar que cá, quando um jornalista sai em reportagem sai o jornalista
e o câmara. Na CNN, normalmente, sai o jornalista, sai o câmara,
sai um operador de som e sai um operador de luz para fazer uma entrevista.
Ao todo são quatro pessoas e isso, parecendo que não, melhora
em muito algumas coisas. Eles têm sempre muito cuidado com a imagem
e cá isso não existe tanto, pelo menos naqueles trabalhos
do dia-a-dia.
Por outro lado, tem também de se contar com a dimensão da
CNN. Eu lembro-me de uma vez que estivemos a fazer um trabalho sobre as
lotarias e totolotos a nível europeu e eu telefonei de lá
para a nossa Santa Casa. Identifiquei-me como "Alexandre Brito, jornalista
da CNN", e parecia que eles não queriam acreditar porque era
um português na CNN. Essa dimensão é engraçada.
Ainda por cima, eu estava no início e aquilo para mim era um mundo
maravilhoso. Eu gostava de tudo e fazia tudo. Tinha um turno em que tinha
de ir para lá às cinco da manhã e eu adorava ter
esse turno porque via aquilo tudo a começar.
Qual foi até agora o seu maior desafio? A
experiência na CNN?
Eu acho que há sempre desafios e eu acho que tenho passado por
alguns. Desde que, quando fui para os Estados Unidos, para Londres, quando
vim para Portugal e estive no CNL e agora na SIC Online. Não sei
qual deles foi o maior.
Adorei, quando foi aquele caso da baby-sitter que estava a ser condenada
e que foi o maior caso de Tribunal nos EUA, na altura, falado em todo
o mundo. Como o estudo lá é muito prático, nós
tínhamos um trabalho para fazer e, eu com uma colega minha, decidimos
fazer a reportagem a partir da decisão do Tribunal. Lembro-me de
estar lá quatro dias seguidos à espera que a decisão
saísse, com o resto dos jornalistas todos cá fora para,
no último dia à noite, conseguir o "vivo" dos
advogados.
Quando voltei para Portugal, estive um tempo a trabalhar na Neurónio
e depois, fui para o CNL que foi outro grande desafio porque eram, quase
tudo, pessoas novas. Todas as pessoas que estavam lá aprenderam
a fazer televisão e a "desenrascarem-se" o que é
uma das coisas importantes para a nossa profissão - aprender a
"desenrascar" e dar a volta às coisas. Depois, este projecto
da SIC Online que é completamente diferente e que, de certo modo
está semelhante ao mundo da CNN. Eu acho que, em Portugal, a SIC
é o mais idêntico à CNN.
Acha que a aposta do futuro é no jornalismo
online?
Eu acho que ainda não tenho uma ideia muito clara sobre o que é
o jornalismo online. Na minha opinião, hoje em dia, não
se consegue separar o jornalismo de televisão, de rádio
ou imprensa porque jornalismo é jornalismo. Acontece, muitas vezes,
uma pessoa que esteja em rádio e depois vá fazer online
ter um período de adaptação, mas depois consegue
fazer jornalismo online - desde que saiba fazer jornalismo, obviamente.
Eu acho que tem algumas particularidades que são engraçadas.
Nós aqui, na SIC Online, temos um pouco de tudo das várias
áreas de jornalismo. Temos que ser imediatos; utilizamos voz, como
se fosse rádio; utilizamos imagem, porque trabalhamos numa televisão
(a SIC Online existe porque a SIC existe); tem a parte escrita - a parte
do jornal normal; tem a parte de investigação que uma revista
ou semanário pode ter e tem aquela parte, que nenhum meio tem,
da interactividade que é o fabuloso do online. E essa é
a grande vantagem da Internet.
E quais são as suas perspectivas para o futuro?
Neste momento, ficar na Sic Online porque é um projecto que ainda
está no início e melhorar o que estamos a fazer até
agora.
Se não fosse jornalista seria...
Jornalista, sem dúvida. Acho que não escolhia outra profissão
porque eu adoro isto e para se ser jornalista tem de se adorar.
Se tivesse mesmo de seguir outra profissão, acho que seria piloto,
mas detesto voar! Só pelo fascínio de voar.
TP