Uma jovem directora ambiciosa
"Para quem tem ambição"
é o lema da "Você s.a." e à frente deste
novo projecto encontramos Ana Rita Ramos. Aos 27 anos, é directora
desta revista mensal e aposta em desafios. Gerir o dia-a-dia, lutar e
não desistir são os seus maiores princípios. Conheça
o seu percurso profissional e saiba mais da sua pessoa.
O que é a "Você s.a." para
a Ana Rita?
Se calhar foi uma evolução natural na minha carreira. Logicamente
que para mim é um desafio enorme, misturado com um certo medo por
fazer uma coisa de tanta responsabilidade. Mas sinto que estou a fazer
algo que eu já dominava na "Exame", embora a uma menor
escala.
Considera-se uma pessoa ambiciosa e, por isso,
uma possível leitora da "Você s.a."?
Sou uma pessoa ambiciosa, não por cargos ou poder, mas sim por
fazer as coisas bem feitas. A ambição em Portugal é
vista como uma coisa má e feia. Eu acho o contrário. As
pessoas devem ser ambiciosas em tudo na sua vida. A minha ambição
é ser feliz quer profissionalmente, como pessoalmente; é
sentir que posso ser útil aos leitores. Não há sensação
melhor do que saber que uma pessoa leu a nossa crónica e aquilo
melhorou de algum modo a sua vida ou deu prazer a alguém que leu.
Esta sensação não há dinheiro que pague e,
nesse sentido, acho que escolhi a melhor profissão do mundo. Continuo
encantada e apaixonada pelo jornalismo e sou muito ambiciosa a este nível.
E como é que surgiu o interesse pelo jornalismo?
Durante o liceu, quase como todas as outras pessoas, não sabia
exactamente o que fazer. Sempre adorei escrever e tinha uma ideia um bocado
romântica do jornalismo. Depois, entrei para Comunicação
Social no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
(ISCSP) e ainda me faltam duas cadeiras para concluí-lo. O curso
foi a maior desilusão da minha vida porque sempre achei que a vida
académica e o mundo universitário me iriam dar alguma coisa
muito especial, e foi uma ideia completamente defraudada.
Entretanto, a partir do 2º ano de faculdade, exactamente por não
estar a gostar do curso, comecei a trabalhar. Às vezes como freelancer
ou a arranjar alguns estágios, na sua grande maioria, sem grande
interesse.
Quando é que aparece o primeiro e verdadeiro
contacto com o mundo jornalístico?
Surge com a Rádio Comercial. Tive oportunidade de colaborar num
programa de entretenimento da rádio. Era daqueles programas incríveis
que passava às oito da manhã do domingo e que ninguém
ouve. Foi um desastre autêntico, apesar de ainda ter lá estado
um ano e ter-me dado experiência a nível de contactos e entrevistas.
O facto de estar dentro da rádio permitiu-me, depois, arranjar
um estágio na redacção. Entrei para a Rádio
Comercial, em Agosto de 1995, para fazer um estágio de três
meses que acabou por se estender até aos seis. Apanhei as eleições
legislativas e foi óptimo porque os jornalistas seniores saíam
para campanha, percorrendo o país. Eles precisavam mesmo de gente
para fazer o trabalho diário da redacção. Os últimos
três meses do estágio foram essenciais porque, geralmente,
no estágio não se faz muita coisa e eu tive mesmo de pôr
a mão na massa - o que deu para ganhar alguma desenvoltura.
Teve uma experiência em rádio, mas
acabou por optar pela imprensa. Porquê?
O estágio na Rádio Comercial também deu para perceber
de imediato que, apesar de ser muito útil para mim, não
era aquilo que eu queria fazer da vida; nem rádio nem televisão.
Eu acho que há vários tipos de jornalistas. Há o
repórter em cima do acontecimento que gosta dos directos, que gosta
do stress e do ir para a rua recolher a notícia do que está
a acontecer. E depois há o outro lado, que é o jornalista
mais próximo do escritor que gosta de investigar uma história,
de pegar num determinado assunto e vasculhar. Eu acho que me aproximo
mais deste segundo bloco de jornalistas. Não me dei nada bem com
aquele stress horrível e principalmente não me dei nada
bem, na rádio, com o facto de nós sermos apenas um simples
veículo de informação e não criarmos nada.
Como foi o seu percurso na revista "Exame"?
A ideia de trabalhar para uma revista de economia assustou-me um pouco
de início porque, tal como qualquer jornalista que sai da faculdade,
preferia trabalhar no âmbito da cultura ou da sociedade. Pensei:
"Que horror, acho que vou odiar". Isto não tem nada a
ver comigo. Mas era a oportunidade de entrar para o mundo da imprensa
e por isso aceitei. Quando entrei como estagiária, apanhei a reestruturação
da "Exame" que deixava de ser uma revista elitista e voltava-se
mais para o leitor.
Comecei por escrever artigos na área de gestão das carreiras
e o lado humano dos negócios. Estes temas eram vistos pelos meus
colegas como aquilo que não interessa para nada. E como não
queriam fazer, era melhor para mim. Os artigos começaram a ter
feedback do público e criou-se, então, uma secção
nesta área que ficou, mais tarde, a meu cargo. Isto até
surgir a oportunidade de dirigir a "Você s.a.". No fundo,
esta revista foi autonomizar aquilo que eu já fazia antes.
Como vê o jornalismo actual?
É um jornalismo mercantilista e mercenário, neste momento.
É escandaloso os telejornais abrirem com a operação
plástica de Lili Caneças. Mas também há muitos
exemplos de luta e eterno combate contra este tipo de jornalismo. Também
acho que muitas das coisas más que se fazem resultam da inexistência
de meios e condições para trabalhar. Vemos que estagiários
são mandados para a "Boca do Lobo" fazer reportagens
em directo e assim só podem fazer asneiras porque não têm
formação para aquilo.
TP