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ExpressoEmprego - Barómetro RH 2008 - Mário Costa



01.01.2000



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Mário Costa
Presidente do Grupo Select/Vedior



Alguns estudos vêm dando conta da elevada qualificação dos jovens portugueses da faixa específica dos 25 aos 34 anos de idade. Entre estes, a percentagem de mestrados e doutorados será superior à média europeia. Importa saber que significado deve ser atribuído a este dado concreto do ‘potencial humano' luso (é assim que agora soe dizer-se quando se alude aos níveis de instrução e qualificação das pessoas).


Justamente, aquele mesmo dado constitui um excelente mote para analisar algumas vertentes da qualificação dos jovens e dos portugueses em geral, cabendo, antes de mais, fazer notar, a este propósito, que qualificação académica não é sinónimo de qualificação profissional e que esta deve ser sempre aferida em função da exigências de determinada profissão, no contexto económico e social em que é exercida.

Em primeiro lugar, os mesmos estudos revelam um acentuado desequilíbrio da qualificação dos portugueses, quando avaliada em termos globais. Os níveis de instrução das faixas etárias superiores são bastante inferiores à média europeia e, mesmo entre os jovens, a procura de qualificações mais elevadas tem estagnado nos últimos anos.Em segundo lugar, o caso concreto da qualificação verificada na faixa etária dos 25 aos 34 anos não tem induzido aumentos de produtividade e competitividade, como comprova a realidade portuguesa.

A explicação é simples: por um lado, a estrutura da economia tem-se caracterizado por um modelo de produção assente na utilização intensiva de mão-de-obra pouco qualificada; por outro, as tais elevadas qualificações verificam-se em áreas do conhecimento que não têm procura no, ainda reduzido, sector da economia que aposta na inovação, na investigação e no conhecimento científico. Por isso, as licenciaturas, mestrados e doutoramentos têm conduzido, em larga escala, ao desemprego e, ou, a baixas remunerações iniciais.

O Estado Novo criou a cultura do ‘doutor', e foi na administração pública ou nas empresas por ela controladas que gerações de licenciados foram sendo absorvidas. Mas foi criando também legiões de iletrados marcados com o ferrete de ‘classes baixas', às quais o regime posterior ao 25 de Abril prometeu a ascensão de estatuto social através de títulos académicos. Os pais passaram a querer, à força, que os filhos fossem ‘doutores' — não importa de quê.

A instabilidade política e a degenerescência da própria democracia desviaram o poder político dos valores do rigor, transparência e responsabilidade, bem como das opções prioritárias. Foram assim permitindo a anulação do ensino profissional, o florescimento de um ensino superior privado sem qualidade e a proliferação de cursos sem correspondência nas necessidades de desenvolvimento do país.

Por outro lado, a estrutura empresarial e a administração pública não foram, a tempo, obrigadas a modernizar-se e, em consequência, também não impulsionaram alterações no sistema de ensino, formação profissional e acesso ao emprego.Neste quadro, importa respeitar as vocações e aptidões individuais, ajustar a oferta à procura de qualificações, apoiar o ensino e a formação profissional privados e valorizar as profissões de nível de qualificação intermédio.





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